Louise Candido alerta sobre a importância da vacinação infantil. “As vacinas auxiliam no desenvolvimento da imunidade das crianças. É preciso tomar cuidado com as notícias falsas disseminadas pelas redes sociais”. 

A vacinação é uma das principais formas de imunização da população contra doenças como a gripe, HPV, varíola, poliomielite, sarampo, tétano, entre muitas outras que afetam indivíduos do mundo todo. O Instituto Butantan a atribui como uma grande ação de saúde pública, possibilitando o controle de epidemias, surtos e até erradicar algumas doenças como a poliomielite, o sarampo e a rubéola. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que até 3 milhões de mortes por ano são evitadas pela vacinação. Porém, o medo dessa forma de imunização e o desconhecimento de como ela realmente funciona está presente no Brasil desde 1904, quando a população do Rio de Janeiro foi às ruas para protestar contra a obrigatoriedade da vacinação na historicamente famosa “Revolta da Vacina” e ainda se alastra nos dias de hoje.

Com o objetivo de desmistificar boatos e mostrar como realmente funciona a vacina, o Auditório da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu na última quinta-feira (27) a Mestranda em Enfermagem Louise Candido com a palestra “Vacinação: mitos e verdades sobre as vacinas”. O evento foi uma iniciativa do Grupo de Estudos e Pesquisa Avançada em Enfermagem (Gepae).

Como a vacina funciona?

O processo de imunização ocorre quando o organismo entra em contato com as bactérias ou vírus de determinadas doenças, em sua forma inativada (destruídos) ou atenuada – com suas propriedades virulentas desativadas. Esse contato estimula a produção de anticorpos e ativa células de memória contra esses germes. “Depois de imunizado, o indivíduo que entrar em contato de forma natural com o agente da doença, os anticorpos serão ativados novamente por conta das células de memória”, explica Louise.

Muitas pessoas possuem dúvidas e certa rejeição em relação a composição das vacinas. Atribuem aos conservantes, estabilizantes e adjuvantes algumas reações. “Um exemplo é a proteína do ovo de galinha. Na vacinação contra a influenza, ela é utilizada como meio de cultura, então alguns movimentos que não ingerem nenhum tipo de proteína animal rejeitam a vacina por conta dessa composição”, afirma a mestranda. Segundo ela, é muito importante entender de que a vacina é composta para a compreensão da reprovação da vacina por alguns grupos.

O processo de desenvolvimento de uma vacina leva cerca de oito anos. Não é um processo simples. Existem seis fases pré-clínicas de estudos e avaliação das vacinas antes de colocá-las em uso. Louise esclarece que “ao longo das fases, o número de participantes e as especificidades da avaliação vão aumentando. Começa-se avaliando a dose, a segurança e logo depois a resposta imunológica. Além disso, existe também a farmacovigilância para monitorar o sistema de eventos adversos. Então todo processo é controlado, do início da fabricação até depois da inserção no mercado.” A ciência tem como objetivo produzir, cada vez mais, vacinas mais eficientes e menos reatogênicas, ou seja, com menos reações adversas.

Mitos e verdades

Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), de 2015 para 2017, houve um recuo de por volta de 20% na vacinação de crianças abaixo de 1 ano de idade para poliomielite, hepatite A, rotavírus, pentavalente, meningocócica C e hepatite B. Louise afirma que isso se dá pela questão de que muitos pais ficam apreensivos e acreditam que a quantidade alta de vacinas em um bebê que ainda não tem o sistema imunológico totalmente desenvolvido pode causar reações e doenças oriundas da vacinação. Porém, ela destaca que essa é a fase mais importante de imunização e que o que acontece é exatamente o contrário: as vacinas auxiliam no desenvolvimento da imunidade em crianças. Deixar de vaciná-las é um dos fatores que ameaça a volta de doenças que já estavam erradicadas no Brasil, como a poliomielite.

Outro ponto destacado na palestra foi o impacto das fake news na difusão de mitos sobre a vacinação. Muitos veículos de grande alcance nacional e grupos em redes sociais divulgam e compartilham mentiras, o que provoca muitas dúvidas e temores em relação à vacinação. “Muitas dessas notícias falsas atrelam a vacina ao autismo e à diabetes, por exemplo. Porém, sabemos, por meio de pesquisas, que não existe relação nenhuma entre elas”, esclarece Louise. Um estudo da Fiocruz demonstra que a maior parte das fake news circula em aplicativos de mensagem como o WhatsApp, onde informações são enviadas por pessoas próximas e de confiança, fazendo com que muitos repassem sem verificar as fontes e veracidade daquela notícia. No início de 2018, muitos boatos circulavam nas redes a respeito da vacina para febre amarela, relacionando-a a casos de autismo e de reações adversas futuras. Informações sem nenhum respaldo científico e que foram responsáveis pela decisão de muitos por não se vacinarem contra uma doença letal.