Teve início na noite de terça-feira, dia 29, a 2ª Calourada Preta da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Atividades culturais, palestras e minicursos movimentarão o campus até a próxima sexta-feira, dia 1°. A organização é da Frente Preta da UFJF, composta por estudantes e coletivos da Universidade e por representantes de movimentos sociais externos à instituição.
Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público. Não é exigida inscrição prévia. Confira a programação completa aqui.
A apresentação cultural do grupo de artes cênicas “As Ruths” abriu as atividades. A partir das estéticas do Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, e do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, as atrizes Denise Nascimento e Joyce Queiroga debateram temáticas cruciais nas experiências das mulheres negras em diáspora.
O nome “As Ruths” é uma homenagem à atriz Ruth de Souza, falecida este ano e importante referência do teatro brasileiro e da luta antirracista. O grupo tem direção artística de Giane Elisa.
“Sanfoka: voltar, pegar e aí?”
Em seguida à intervenção cultural, o público assistiu à palestra “Sanfoka: voltar, pegar e aí?”, com o representante do Movimento Negro Unificado de Juiz de Fora, Paulo Azarias; a doutoranda em História na UFJF, Giovana Castro; e a doutoranda em Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dani Balbi.
“Resolvemos potencializar as nossas forças, por meio da criação da Frente Preta da UFJF, inspirados pelas ações da Frente Negra Brasileira, criada na década de 1930. Nós, pretos, ainda somos apenas 12% do total de estudantes em universidades brasileiras, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Queremos promover o acolhimento e favorecer a permanência de estudantes pretos aqui”, ressaltou a estudante de História e integrante da Frente Preta da UFJF, Vanessa Lopes.
O representante do Movimento Negro Unificado de Juiz de Fora, Paulo Azarias, enfatizou a relevância da iniciativa. “É um movimento importante desta construção e da afirmação negra neste espaço que, historicamente, sempre foi hostil a nós, ao contribuir para o etnocentrismo. É preciso que tenhamos consciência do caminho de resistência percorrido até aqui. Foram 388 anos de regime escravocrata no Brasil.”
A avaliação foi compartilhada pela doutoranda em Letras na UFRJ que, por motivos de saúde, não pode participar da palestra presencialmente, falando ao público por webconferência.
“O país precisa combater as consequências do passado escravocrata. Nossa contribuição é muito importante em todos os níveis. A política de cotas é uma vitória dos movimentos estudantil e negro. Queremos uma universidade popular, com a classe trabalhadora e menos elitista”, salientou Dani Balbi.
Já a doutoranda em História na UFJF, Giovana Castro, ressaltou a simbologia do nome da atividade. Sanfoka é um pássaro estilizado que se move para frente, mas sempre olha para trás, lembrando que é impossível compreender o presente sem entender e estar consciente do passado. “O tráfico negreiro mudou a rota dos tubarões no Atlântico, porque os nossos corpos, os corpos dos nossos ancestrais, os alimentavam. Precisamos compreender que somos corpos diaspóricos. Precisamos recuperar as nossas histórias de resistência e investigar os efeitos da escravidão a qual fomos submetidos nas nossas posturas, na nossa psique. Precisamos exigir hoje o nosso direito a0 mercado de trabalho, à moradia, à energia elétrica. As mulheres pretas continuam limpando o chão para as pessoas brancas.”
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Outras informações: calouradapretaufjf@gmail.com