Reorganizar o presente pensando em um futuro mais resistente e, principalmente, mais sustentável. Na terceira matéria da série especial sobre os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), a inovação e a economia estão entre as peças-chaves para a concretização das metas. Os ODS’s fazem parte da Agenda 2030, um plano de ações globais firmado em 2015 pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), como uma forma de conciliar o desenvolvimento socioeconômico e a preocupação com as mudanças climáticas.
A série especial de matérias é alinhada à campanha “Sustentabilidade da vida”, desenvolvida pela Diretoria de Imagem Institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O principal objetivo da iniciativa é mostrar como as pesquisas realizadas na Instituição assumem um papel estratégico na aplicação da Agenda.
Indústria, inovação e infraestrutura
O abandono de processos e plataformas obsoletos e a formulação de novas tecnologias mais eficazes, limpas e ecologicamente responsáveis são os pilares que unem esses três elementos. O fortalecimento das pesquisas científicas figura como essencial entre as metas deste objetivo. A ONU visa aumentar substancialmente, até 2030, o número de trabalhadores de pesquisa e desenvolvimento por milhão de pessoas e os gastos públicos e privados nessa área.
Em 2018, o Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) apresentou o melhor desempenho da história da Instituição em Transferência de Tecnologia, provando o papel estratégico da Universidade para o cumprimento da Agenda 2030. Foram firmados 24 acordos de parceria com empresas e inventores independentes, totalizando mais de R$10 milhões em contratos. Além disso, os trabalhos de 42 grupos de pesquisa estão alinhados com este ODS, investigando questões de diversos campos, como Mídias Digitais, Arquitetura e Urbanismo, Bioengenharia, Saúde, entre outros.
Redução das desigualdades
As metas desse objetivo abarcam um amplo cenário de desigualdades, começando pelo crescimento progressivo da renda de 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional. No Brasil, a desigualdade econômica aumentou no último ano, alcançando os índices mais elevados desde 2012. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, o 1% mais rico da população ganhou quase 34 vezes mais que a metade da população mais pobre.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que são necessárias algumas adequações das metas para o cenário brasileiro. A comparação com a média nacional, por exemplo, pode ser insuficiente para reduzir desigualdades de uma forma não superficial. Além disso, segundo as justificativas apresentadas pelo Instituto, é preciso repensar alguns termos que não são inclusivos – como “migrante”, que pode não incluir refugiados – ou que não têm aplicação prática.
Para o professor e um dos coordenadores do Laboratório de Estudos Econômicos (Econs), Ricardo Freguglia, é preciso pensar o desenvolvimento econômico como um todo. “Mesmo que haja o crescimento econômico e uma renda maior, se você concentrar esse crescimento em poucas pessoas, a desigualdade aumenta. Se você só cresce em termos econômicos, o país não vai ter necessariamente um desenvolvimento”, explica. Na Universidade, dez grupos de pesquisas se alinham com a meta de diminuir as desigualdades entre os países e dentro deles.
Cidades e comunidades sustentáveis
Muito além de repensar o ambiente urbano e otimizar sua configuração, as metas da ONU visam o planejamento das cidades e assentamentos humanos para gerações futuras, transformando-os em espaços inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Este objetivo inclui questões como o acesso ao transporte público e habitações seguras; a preservação do patrimônio cultural; a aproximação das relações sócio-econômicas de zonas urbanas, periurbanas e rurais; e a implantação de políticas e planos para adaptar e salvaguardar comunidades frente às mudanças climáticas.
“A Universidade dialoga com esse ODS ao construir, localmente, a necessidade de se ter infra-estruturas resilientes a desastres, discutindo ações com a comunidade em seu entorno”, avalia o coordenador do Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de Engenharia (Nasfe), Jordan Henrique de Souza. O pesquisador ressalta o objetivo de capacitar a sociedade civil e instituições que atuam na proteção das cidades para o reconhecimento dos riscos, enfrentamento e recuperação de desastres. Entre as iniciativas do grupo está o curso de extensão “Cidades Resilientes: curso de análise de risco e gestão da resiliência”, realizado no último dia 15, cuja proposta foi a discussão de algumas das diretrizes da Nova Agenda Urbana.
Na UFJF, 23 grupos estão compromissados com esse objetivo. Entre eles está o Laboratório de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Paisagem (DOMVS), coordenado pelo professor Fernando Lima. Em 2018, Lima recebeu uma menção honrosa no Prêmio Capes por elaborar um sistema de algoritmos que ajuda a avaliar e otimizar o desempenho de configurações de espaços urbanos. Confira abaixo o episódio do podcast Encontros A3, realizado pela Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, no qual o pesquisador explica conceitos relacionados à mobilidade urbana e como eles podem ser aplicados em Juiz de Fora.
Consumo e produção responsáveis
Muito além dos famosos três Rs da sustentabilidade (reduzir, reutilizar e reciclar), as metas ainda incluem os menos populares: recusar e repensar. Em 2015, o então Secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, afirmou ser possível alcançar o “consumo consciente” a partir da diminuição do desperdício e da busca por produtos que usem menos energia, água e outros recursos naturais no seu processo de fabricação. O professor Ricardo Freguglia expande essa noção e atenta para o desencorajamento do consumo exagerado, muitas vezes anuviado por modismos ou impulsos instantâneos.
Ele explica como a economia social e a economia sustentável podem ajudar a repensar o cenário econômico, buscando entender quais aspectos culturais e sociais definem as decisões individuais de consumo. Para o pesquisador, esse objetivo anda lado-a-lado com o ODS de número 10. “Por quanto tempo você consegue prolongar o crescimento de um país? A economia da sustentabilidade está não apenas preocupada com questões de mudanças climáticas e bem-estar econômico, como também com um padrão de consumo que não venha cair abruptamente.” As pesquisas de seis grupos da UFJF contemplam esse ODS, com questões que vão do Direito à Bioengenharia.
Confira as outras matérias desta série especial:
17 metas para transformar nosso planeta
Erradicação da pobreza e incentivo à saúde e educação
Da água ao gênero, da energia à dignidade