Em um momento marcado pela ascensão das plataformas digitais, a Semana do Instituto de Ciências Exatas (ICE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apostou em debates sobre a utilização da internet para oferecer conhecimento e desmistificar questões. A abertura contou com a apresentação de duas palestras. Primeiro, o professor Luiz Aquino fez a apresentação “Falei de Terra Plana no YouTube. Veja no que deu!”. Em seguida, o engenheiro e divulgador científico Ivys Urquiza ministrou a palestra “Transformando estudantes em fãs – o uso de plataformas digitais como ferramenta pedagógica.” A solenidade aconteceu nesta segunda-feira, às 18h, no anfiteatro do ICE.

O professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM), Luiz Cláudio Mesquita de Aquino, é dono do canal  “Professor Aquino – Matemática” e possui 75.800 inscritos na plataforma digital. Aquino apontou que o interesse em desmistificar as teorias sobre o terraplanismo surgiram ao assistir a um documentário na Netflix, chamado a “Terra é Plana”. “Muitos acreditam nessa hipótese por falta de informação. Por isso, mesmo sendo um assunto fora da minha proposta de ensino, fiz parcerias com outros professores para esclarecer essas duvidas no meu canal. Percebi que para tentar refutar a ideia de que a terra é um globo, foram usados três tipos de argumentos: religiosos; teorias conspiratórias; e possíveis erros científicos.”

Além disso, apresentou dados obtidos pelo Datafolha, apontando que 7% dos brasileiros, o que equivale a 11 milhões de pessoas, ainda acreditam que a terra é plana. A crença se revelou inversamente proporcional à escolaridade. Enquanto 10% dos que deixaram a escola depois do ensino fundamental defendem o chamado terraplanismo, o percentual diminui para 6% entre pessoas que concluíram o ensino médio e para 3% entre os que alcançaram o ensino superior. “No meu canal apareceram vários comentários tentando provar essa ideia, mas a gente tem dois caminhos: ignorar ou tentar utilizar a educação como recurso. Eu tenho feito um trabalho de contenção de danos. Se a pessoa está em cima do muro, é para ela que eu faço o meu vídeo e a respondo aos comentários”, comenta Aquino.

O professor reiterou que a internet é um megafone por meio do qual todos podem ter voz. Dessa maneira, a ferramenta pode ser utilizada para o bem e para o mal, dependendo de quem a usa. “A gente precisa combater essa desinformação por meio de projetos de extensão ou ações esclarecedoras. Eu faço a minha parte em tentar mudar essa realidade.”

Novas forma de ensino

Sendo o maior canal brasileiro sobre Física do YouTube, o Física Total possui mais de 400 mil inscritos. Dono da plataforma digital, o professor Ivys Urquiza – único educador no mundo que tem certificações “Google Certified Innovator” (GCI) e Embaixador do YouTube Educação – palestrou o tema “Transformando estudantes em fãs. O uso de plataformas digitais como ferramenta pedagógica.” 

Recentemente, a pesquisa da Google apontou que o YouTube possui mais de 1 bilhão de usuários únicos por mês, o que representa cerca de 12,5% da população mundial. No Brasil, o número chega a 82 milhões de pessoas assistindo a no mínimo, 10h de vídeos na plataforma digital mensalmente. “As  emissoras de televisão criaram iniciativas como as TVs play, o que permite a assistir o conteúdo escolhido quando for desejado sem seguir uma grade de programação. Porém, não dá a oportunidade do público poder produzir conteúdo. Nessa perspectiva, o YouTube, criado para o entretenimento, se tornou um instrumento potencial para a Educação. As pesquisas também mostram que nove em cada dez usuários assumiram que já usaram a plataforma para aprender algo. Além disso, se tornou a segunda maior ferramenta de busca no mundo, perdendo apenas para a Google”, apontou Urquiza.

Segundo o professor, historicamente escolas e universidades tem inércia em alterar e debater novas formas de ensino, mas o tema precisa ser abordado na academia, pois a geração infantil terá dificuldade em se adaptar as velhas metodologias de ensino, o que irá criar uma ruptura na maneira de aprender. “Talvez, há seis ou sete anos, conectar o YouTube e a educação poderia parecer difícil, mas hoje a internet veio para modificar essa realidade. É preciso construir empatia com o público. Na plataforma não há uma única maneira de se produzir o conteúdo, mas é preciso dar o seu melhor para o público. Acredito que ainda há muitas facetas e caminhos a serem descobertos na área.”

Semana do ICE

A Semana do ICE acontece anualmente há mais de 20 anos na UFJF, sempre durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e apresenta programações específicas das semanas dos departamentos que fazem parte do Instituto – Computação, Matemática, Química e Estatística – que promovem palestras e minicursos, além da 30ª edição da Feira de Ciências, que ocorre na quarta-feira, 23, e é organizada pelo Departamento de Física, com a participação de alunos do Ensino Fundamental e Médio de diversas escolas públicas e particulares da região.

Apesar de destinada aos alunos de Exatas, pelas especificidades dos temas, as atividades da Semana do ICE são abertas a toda a comunidade acadêmica e aos estudantes de outras instituições.

Outras informações: (32) 2102-3301 – Instituto de Ciências Exatas