Metas que, se levadas a sério, transformarão o nosso planeta. Foi com o objetivo de traçá-las que 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) – o Brasil incluso – acordaram, em 2015, com a Agenda 2030. Constituída por um plano de ações em escala global, a Agenda propõe medidas urgentes para a prosperidade da humanidade e da Terra, tendo como principal objetivo a busca pelo desenvolvimento sustentável. A fim de ressaltar a necessidade da valorização do conhecimento científico para cumprir essas metas, a Diretoria de Imagem Institucional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) lançou a campanha “Sustentabilidade da vida”, mostrando como a ciência desenvolvida na instituição está alinhada com a aplicação da Agenda.
Esta é a primeira matéria de uma série especial que explora os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estipulados pela ONU, cita o número de grupos de pesquisa vinculados à UFJF que estão relacionados à Agenda 2030 e ilustra, com a fala de pesquisadores da Universidade, o alinhamento de pesquisas diretamente relacionadas às metas globais.
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares, é uma peça-chave para o cumprimento da Agenda 2030. Segundo estimativa da ONU, em 2018, mais de 635 milhões de pessoas ainda viviam em situação de pobreza extrema – o que corresponde a 8% da população mundial vivendo com menos de 1,90 dólar por dia.
No entanto, o problema é encarado como algo multidimensional. Desta forma, o órgão não leva em consideração apenas a renda de uma pessoa, mas também as consequências da miséria, como a privação de direitos e serviços: educação de qualidade, eletricidade e saneamento básico, por exemplo. Na UFJF, 7 grupos de pesquisa desenvolvem trabalhos que, de alguma forma, tocam a questão da erradicação da pobreza, abarcando áreas como Serviço Social, Economia, Direito e Saúde.
A fome no mundo aumentou. É o que indica o relatório anual “O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo” divulgado pela ONU em julho de 2019. Os dados mostram que, em 2018, cerca de 820 milhões de pessoas em todo o mundo não tiveram acesso suficiente a alimentos – um aumento de 9 milhões em relação a 2017, sendo o terceiro ano consecutivo no qual essa taxa aumenta. Isso representa um grande desafio para o segundo ODS, que tem como principal meta acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
No âmbito da América Latina e do Caribe, a Organização vê a agroecologia como chave para atingir essa meta. Um exemplo do resgate dos saberes tradicionais e estímulo da prática da agricultura orgânica pode ser encontrado dentro da UFJF, na orta compartilhada do Instituto de Ciências Humanas (ICH). O espaço foi concebido pelo Núcleo de Agroecologia Ewè, do Laboratório Kizomba Namata. Entre os grupos de pesquisa na Universidade, 7 produzem conhecimentos capazes de incentivar o cumprimento deste objetivo, distribuídos entre as áreas de Nutrição, Química e Saúde Coletiva.
Nas últimas décadas, a saúde e o bem-estar da população mundial apresentaram avanços significativos que são frutos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, um conjunto de metas traçado em 2000 que deveria ser cumprido até 2015. Em diversos países, foram observadas reduções na taxa de mortalidade infantil e mortalidade materna, assim como progressos na luta contra o HIV/Aids e doenças como a tuberculose e malária.
A Agenda 2030 baseia-se nesses avanços para traçar metas que vão desde acabar com epidemias das doenças já citadas até reduzir o número de mortes causadas por produtos químicos perigosos, contaminação e poluição do ar e água do solo. A Organização também aponta como essenciais medidas que visam aumentar substancialmente o financiamento da saúde, assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, além de apoiar pesquisas científicas na área. Na UFJF, esse é o ODS com maior número de pesquisadores alinhados: são 106 grupos de pesquisa comprometidos em assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
De acordo com o estudo Caderno ODS 4, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 70% das metas do quarto objetivo seriam atingidas até 2024, caso o Plano Nacional de Educação (PNE) fosse cumprido. A Agenda 2030 estabelece dez metas globais para a Educação de qualidade, equitativa e inclusiva. Para implementar essa proposta, além de metas para educação infantil, ensino fundamental, médio, profissionalizante e superior, foram estabelecidas metas para infraestrutura das escolas, apoio a países menos desenvolvidos e criação de garantias para melhores condições de trabalho para os professores.
O estudo do Ipea apresenta os resultados de implementação do ODS 4 para os anos de 2016 e 2017. No Brasil, 93,7% das crianças de 4 a 5 anos estão matriculadas na pré-escola. Já em relação ao acesso de crianças de 0 a 3 anos, pouco mais de um terço frequentam a creche. Em 2016, 98% das crianças de 6 a 14 anos estavam matriculadas no ensino fundamental. Jovens de 15 a 17 anos que frequentavam o ensino médio representam 70%. Dessa forma, o país ainda não atingiu a universalização do ensino médio e o percentual de alunos que não concluíram os ensinos fundamental e médio na idade adequada ainda é alto.
O professor Fernando Tavares, do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais e do Programa de Pós-graduação Profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública da UFJF, avalia que o Brasil avançou no PNE, mas, ainda assim, vive a crise educacional de maneira severa. “Pouca gente sabe, mas o homem chegou à lua, por exemplo, graças a uma reforma educacional do sistema norte americano, que desenvolveu novos estímulos para a ciência e para a tecnologia. Isso culminou em inovações diversas e tudo começou numa escola. É importante o incentivo a novas ideias na Educação, porque, ao mudá-la, a gente cria condições para mudar várias dimensões da sociedade.”
Sobre o PNE, o pesquisador explica que se trata de um lei aprovada em 2014 com estratégias para o desenvolvimento da Educação brasileira até 2024. O conjunto de trabalhos são cumulativos e buscam realizar metas básicas de conquistas fundamentais para o desenvolvimento do país como um todo. “Vivemos na sociedade do conhecimento, sem Educação pública de qualidade nenhum país do mundo se desenvolve, e o Brasil não será uma exceção.” Ao todo, são 75 grupos na Universidade que possuem linhas de pesquisa em concordância com a meta do quarto ODS.