A atuação da imprensa em casos envolvendo violência, criminalidade e segurança foi o tema de um encontro promovido na tarde da última quarta-feira, 9, no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV). Em tom de bate-papo, os jornalistas Carlos Albuquerque e Franco Dani Araújo falaram para estudantes e comunidade externa principalmente sobre a questão ética nesse tipo de cobertura e sobre a formação dos futuros profissionais da mídia, além de narrarem episódios e dilemas ocorridos em suas trajetórias profissionais.

Apresentador da Inter TV, Carlos Albuquerque destacou o caráter dinâmico do jornalismo. (Foto: Sebastião Junior)

Apresentador e editor do MG 1 – noticiário da Inter TV dos Vales, afiliada da Rede Globo em Governador Valadares – Albuquerque destacou a natureza dinâmica do jornalismo, característica que impõe uma constante discussão a respeito dessa atividade. “O jornalismo é visto num determinado papel muitas vezes até de vilão e esse papel precisa ser colocado à mesa. É preciso que se busque nas entranhas as respostas. Nem todas conseguimos, e não vamos conseguir nem daqui a alguns anos, porque o jornalismo tem esse caráter de permanente mutação e crise ética o tempo todo. Jornalista que dorme sempre tranquilo, que não tem uma ‘crisezinha’ ética está fazendo alguma coisa errada”. O âncora – que também dá aulas em curso de jornalismo – destacou o papel da universidade nesse processo de (re)pensar a atuação dos produtores de notícias:

“É uma profissão que lida muito com o subjetivo, com opiniões de pessoas. Criou-se aquela expressão que jornalista é formador de opinião, mas ele também é um cara que dá voz a opiniões. Não é ele que às vezes forma opinião, essa opinião é formada pelas vozes que ele coloca no vídeo, no rádio, no jornal, na revista. Então é importante que quem está trabalhando como jornalista se aproxime de quem está na academia e que vai exercer uma profissão que, de repente, terá esse contato de uma outra forma com o jornalismo”, afirmou.

O professor Franco Araújo (ao microfone) defendeu a importância da participação da universidade no debate sobre o papel da mídia. (Foto: Sebastião Junior)

Assim como Albuquerque, o também professor Franco Araújo defende a importância da participação da universidade no debate sobre o papel da mídia. “É fundamental, porque quando a gente está trazendo uma discussão como essa do jornalismo, a gente está falando de uma questão da formação, das responsabilidades, das atribuições. Muitas vezes você desconstrói alguma visão que já está viciada a respeito do jornalismo ou da imprensa de uma forma geral e a gente traz um pouco dessa contribuição. E esse é o espaço, esse é o local, a academia é o local de fazer essas discussões”, afirmou.

O docente do curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) ainda destacou a necessidade da profissão acompanhar as mudanças da sociedade. “O jornalista está envolto em um cenário em que as fontes são os próprios consumidores dessa informação. O jeito e a forma de comunicar mudaram, e a gente precisa ensinar isso na academia, dizer para eles [estudantes] essas questões, do papel deles junto à sociedade”, explicou Araújo.

A atividade chamou a atenção de Miguel Siqueira Sales. Na opinião do estudante do sexto período de Direito da UFJF-GV, compreender o papel midiático é muito importante em sua futura atividade profissional e “agrega muito, principalmente na questão do Direito Penal”.

O professor da UFJF-GV e coordenador do encontro, Bráulio Magalhães. (Foto: Sebastião Junior)

Na avaliação do coordenador do evento, o encontro “foi muito produtivo” e cumpriu seu objetivo, que era debater a forma como a mídia se apropria dos fatos ligados a violência e criminalidade e identificar o quanto as notícias contribuem para a formação do sentimento de segurança nas pessoas. Por isso, a ideia do professor do Departamento de Direito do campus, Bráulio Magalhães é manter esses encontros temáticos, que vão discutir temas como juventude, racismo, violência contra a mulher, conflitos entre gerações, políticas de segurança pública e os programas nacionais voltados para a questão, maioridade e a situação dos estabelecimentos prisionais no Brasil.