Curso ministrado por estudante mexicano abordou a culinária, a cultura, as origens e as tradições do país. (Foto: Sebastião Junior)

Esqueça o seriado Chaves (se é que isso é possível), Maria do Bairro, A Usurpadora e demais novelas repletas de personagens com nomes compostos e de romantismo exacerbado. Esqueça a tequila. A relação do Brasil com o México vai muito além desses elementos televisivos e gastronômicos tão presentes no nosso imaginário.

No caso da região do Rio Doce essa ligação fica ainda mais evidente, tanto que um projeto desenvolvido no campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) chamou a atenção do pesquisador mexicano Rossembert Gutiérrez Hernández. Ele veio à cidade conhecer os trabalhos com os povos e comunidades tradicionais desenvolvidos pelo Núcleo de Agroecologia, o Nagô, e aproveitou para ministrar um curso sobre o país da América Central. Realizada na tarde da última quarta-feira, 11, a atividade abordou a culinária, a cultura, as origens e as tradições mexicanas.

Rossembert Hernández estuda o desenvolvimento sustentável e veio à UFJF-GV conhecer as experiências de um projeto do campus em agroecologia e com os povos tradicionais do Rio Doce. (Foto: Sebastião Junior)

Estudante de mestrado em Ciências Sociais na Universidad Autónoma de Nuevo León, Hernández explica o que o motivou a fazer essa espécie de intercâmbio. “Meu tema é desenvolvimento sustentável. Trabalho com comunidades indígenas no México e encontrei muitas similaridades e características com o trabalho do Reinaldo [Reinaldo Duque, professor da UFJF-GV e coordenador do projeto]”.

Já na avaliação de Duque, mais do que “buscar aportes teóricos e metodológicos” para a tese de mestrado, a presença do estudante mexicano na UFJF-GV contribui principalmente para uma melhor compreensão do processo migratório e de trocas entre os indígenas latino-americanos. “Ele [Hernández] é representante do povo Maia, é descendente indígena, traz uma cultura ancestral, inclusive de vários alimentos que a gente consome no dia a dia aqui na região. O milho é uma espécie que foi domesticada pelos Maias, assim como o tomate, o abacate, as pimentas, variedades de abóboras, ou seja, todos esses alimentos que os nossos próprios povos indígenas utilizavam vieram, de alguma forma, de trocas e migrações indígenas antes da invasão das Américas”, detalha Duque.

A expectativa do professor da UFJF-GV é que a atividade da última quarta-feira estimule o respeito pela cultura dos povos originários do México, um país que, na opinião de Duque, é “visto de uma maneira pejorativa” pelos valadarenses, que o consideram mera via de acesso aos Estados Unidos.

Nagô
O Nagô é um programa de extensão da UFJF-GV que abriga uma série de projetos e iniciativas voltados para o desenvolvimento rural sustentável, para a superação dos problemas socioambientais enfrentados por agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais da região. E tudo isso é realizado por meio da trocas de saberes, práticas e tecnologias sociais agroecológicas.

O curso foi promovido pelo Nagô, por meio do projeto Pluriversidade dos Povos e Comunidades Tradicionais do Watu. (Foto: Bruna Souza)

Um desses projetos é o Pluriversidade dos Povos e Comunidades Tradicionais do Watu que, em parceria com o Centro de Referência em Direitos Humanos do Médio Rio Doce (CRDH), busca a defesa e promoção dos direitos de camponeses, indígenas e quilombolas. Esse projeto foi o responsável pelo curso sobre a história da México.