(Foto: Ana Colla)

O tradicional palco do Cine-Theatro Central abre as cortinas para um artista multifacetado do mundo da moda, Ronaldo Fraga. O estilista leva ao público suas reflexões sobre genderless style, uma proposta que aborda as desconstruções das fronteiras de gênero a partir da teoria queer, segundo a qual as características identitárias são consequência de uma construção puramente social. O premiado estilista mineiro fala sobre Mercado fashion: A vez da diversidade, uma referência a identidades em trânsito, sexualidade e coleções agênero, em palestra gratuita no próximo dia 16, sexta-feira, às 20 horas.

A apresentação chega alinhada com um manifesto que fez história no São Paulo Fashion Week, em 2016, quando a coleção “El Dia que me Quieras” foi exibida exclusivamente por modelos trans na passarela do Theatro São Pedro. Com uma poética própria, que fez referência tanto ao tango de Carlos Gardel, quanto ao reduto fashion de Ney Galvão em Itabuna, sul da Bahia, Ronaldo Fraga pediu respeito e tomou posição diante de uma realidade dramática que coloca o Brasil como recordista em assassinatos de travestis e transexuais, segundo dados da ONG Transgender Europe.

Sensível aos problemas sociais e políticos do país, o estilista trabalha a moda em sintonia com causas que acredita serem urgentes, como a diversidade sexual. No caso do desfile com transexuais, fez sua apresentação dizendo que a história daquela coleção não estava nas roupas e, sim, em quem as vestia. À época, disparou em protesto e, mais uma vez, conquistou atenção no Brasil e no mundo: “Estamos em tempos de guerra. Nós não precisamos mais de roupas. A moda precisa começar a dialogar em outras frentes”. É nessa linha que conduzirá sua palestra em Juiz de Fora.

Temas pulsantes

É exemplo de seu comprometimento com a brasilidade e de seu oportuno radar, em que pese a sustentabilidade, o projeto “Design na pele”, que deu origem à coleção “Carne seca”, em 2014, desenvolvida a partir de visitas a anoques de Pernambuco e Ceará, onde a prática de curtir o couro ainda é a tradicional.  Outra proposta, “Um turista aprendiz: Na terra do Grão-Pará”, demandou seis meses de trabalho com costureiras e artesãs, no Norte do país, em 2013. Dois anos depois, “O Caderno Secreto de Cândido Portinari” colocava em evidência os tecidos ecológicos, de fácil decomposição quando descartados.

Como era de se esperar, o tema para 2019 cutucou mais feridas e novamente estabeleceu a posição de Ronaldo Fraga contra a violência. O estilista levou à última edição da SPFW uma coleção cujos tecidos com bordado de linha imitavam o furo de balas perdidas, não uma, mas 80, referências à morte de um músico de 51 anos que levava a família a um chá de bebê e foi fuzilado por militares no Rio de Janeiro.

Seus projetos já lhe trouxeram prêmios como “Faz Diferença”, do jornal O Globo, “Transformadores”, da revista Trip, e “Planeta Casa”, da Editora Abril, a ele conferido em duas ocasiões, por conta da aplicação de práticas sustentáveis no desenvolvimento de seu trabalho. Ao longo de sua trajetória, vem se destacando como um dos poucos estilistas a realizar atividades que procuram minimizar a distância entre o handmade e a produção industrial.

Gestão afinada

Em 1997, a veia empreendedora de Ronaldo Fraga o levou a transformar seu nome em uma grife apontada como sinônimo de inovação e criatividade. O reconhecimento por seu trabalho permitiu que fosse licenciado em mais de mil produtos de empresas brasileiras e internacionais, integrando o elenco de designers do Calendário Oficial da Moda Brasileira. Sua marca já inclui uma segunda linha, intitulada Filhotes e voltada para crianças. A apresentação gratuita no Central é uma parceria entre Sebrae, para o qual tem feito palestras Brasil afora, e Cervejaria São Bartolomeu.

É autor do livro “Moda, roupa e tempo: Drumond selecionado e ilustrado por Ronaldo Fraga” e “Caderno de roupas, memórias e croquis”. Como ilustrador, seu trabalho está em obras como “Mary Poppins”, de P. L. Travers, publicado no Brasil pela Cosac Naify. “Uma festa de cores: Memórias de um tecido brasileiro” inverte a situação, tendo o estilista como autor do texto e a espanhola Anna Göbel como ilustradora na publicação da editora Autêntica, obra premiada como Melhor Livro Infantil de 2017.

Ronaldo Fraga é graduado em moda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-graduação pela Parsons School of Design, de Nova York (EUA), tendo cursado a Central Saint Martins, da University of the Artes, de Londres. É artista plástico, ilustrador, cenógrafo, designer, escritor e pesquisador. Em 2014, foi selecionado pelo Design Museum da capital inglesa para a exposição Designs of the Year. Seu trabalho estabelece um diálogo entre a cultura brasileira e a contemporaneidade, abordando temas pulsantes do cotidiano do país. O Cine-Theatro Central está localizado à Praça João Pessoa, s/n, Centro. A classificação indicativa é de 14 anos.

Entrada franca mediante convites agendados no link:
https://www.sympla.com.br/mercado-fashion-a-vez-da-diversidade–ronaldo-fraga__603527

Outras informações:
(32) 3231-4051 (Cine-Theatro Central)