UFJF marcou presença no evento “Tsunami no Mar de Morros de Minas”, sediado na E. E. Coronel Manoel Carneiro das Neves (Foto: Gabriel Duarte)

“É importante que a gente não esqueça.” Esse foi o principal alerta do professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Bruno Milanez, no 1º Seminário Aberto da Escola Estadual Coronel Manoel Carneiro das Neves, realizado na manhã desta quinta, 8, no bairro Paula Lima. Com o tema “Tsunami no Mar de Morros de Minas”, o pesquisador – que integra o grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS) – foi um dos convidados para discutir o rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, além de questões de segurança que tangem as represas de água existentes na região de Juiz de Fora. 

Milanez relembrou que o rompimento de barragens é algo recorrente no estado, citando outros acidentes de menor proporção – como a ruptura da barragem São Francisco, na zona rural de Miraí. O pesquisador enfatizou que, devido ao grande poder econômico e político das mineradoras, as empresas exercem muita influência no controle das barragens. Para ele, a situação pode se agravar após o recente bloqueio no orçamento da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão responsável pela fiscalização das atividades mineradoras. “Estas obras oferecem um risco. Para esse risco ser bem dimensionado, é preciso ser monitorado. É essencial a comunicação entre órgãos de fiscalização e as comunidades”, explica Milanez.

A professora e uma das organizadoras da iniciativa, Edyenis Frango, explica que o tema surgiu de uma demanda dos próprios moradores, que estavam preocupados após as tragédias ocorridas nas duas cidades mineiras. “É um tema importante de ser debatido. A escola não pode ser tratada como um mundo paralelo. O que é aprendido aqui dentro deve ser utilizado para entender o que está lá fora”, afirma Edyenis. 

“É essencial a comunicação entre órgãos de fiscalização e as comunidades”, explica o pesquisador Bruno Milanez (Foto: Gabriel Duarte)

O bairro Paula Lima está localizado próximo à Represa de Chapéu D’Uvas, uma das maiores da região. Segundo dados da Companhia de Saneamento Municipal (Cesama), apresentados no seminário, a barragem possui uma profundidade de 41 metros, equivalente a um prédio de 13 andares, e tem capacidade para um volume de cerca de 146 milhões de metros cúbicos de água – onze vezes mais que a Represa Dr. João Penido.

Além do professor, também integravam a mesa de convidados a jornalista da Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, Carolina Nalon; o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello Amaral; e o capitão do 4º Batalhão de Bombeiros Militares de Juiz de Fora, Acácio Tristão, que participou da operação de busca e salvamento em Brumadinho. Tristão reforçou a necessidade da fiscalização constante para aumentar a segurança de construções de alto risco. Ele detalhou a atuação dos bombeiros da Zona da Mata e Vertentes na ação de resposta à tragédia, enfatizando que os esforços para encontrar os desaparecidos ainda seguem em andamento. “Nós fomos os primeiros a chegar e seremos os últimos a sair”, concluiu. 

Entre lágrimas e lama
Procurando manter viva a memória das consequências das tragédias, o seminário também contou com a exibição de parte do acervo da exposição “Entre lágrimas e lama”, da fotógrafa Maria Otávia Rezende. O trabalho da artista é resultado da cobertura jornalística para a Revista A3, da UFJF, sobre as expedições de campo dos pesquisadores Miguel Felipe Fernandes e Paulo Henrique Peixoto aos locais atingidos. 

“É importante que a divulgação de pesquisas da Universidade chegue até a população, e encontros deste tipo propiciam uma experiência muito enriquecedora. Tanto alunos quanto a comunidade de Paula Lima mostraram interesse em aprofundar nas questões levantadas pelo evento, preocupando-se com as barragens na nossa cidade, sua segurança e fiscalização”, avalia a jornalista Carolina Nalon.