Nesta quinta-feira, 25, é comemorado nacionalmente o dia do trabalhador rural. A Feira Orgânica da UFJF, promovida pelo programa de extensão da Universidade – a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (Intecoop) – é atualmente um dos elos entre esses trabalhadores, a comunidade acadêmica e moradores dos bairros próximos à UFJF. A feira acontece toda segunda, das 16h às 19h, no estacionamento da Reitoria. Reúne diversos produtores orgânicos da região, que oferecem não só alimentos sem agrotóxicos à população, como também a oportunidade de conhecer quem planta, colhe e prepara os produtos comercializados.
Os produtores rurais Elaine Aparecida Moreira e Quintino Faria Moreira são um casal de Piau, cidade famosa na Zona da Mata mineira pela produção de bananas. Estão na Feira Orgânica da UFJF toda segunda, comercializando hortaliças e a conhecida banana da cidade – todos os alimentos orgânicos certificados.
Mas nem sempre foi assim. Ambos são nascidos e criados em Piau, filhos de produtores de bananas que utilizavam o método “convencional” – com agrotóxicos, que oferecem risco de contaminação à terra, água, plantas, animais e humanos. Por muitos anos vendiam sua produção no Ceasa. Até que, em 2005, resolveram mudar para a produção orgânica, incentivados por Fernanda de Paula, outra feirante sempre presente na Feira da Universidade.
“A gente foi considerado louco quando mudou. Todo mundo na cidade dizia ‘vocês são malucos’”, conta Elaine. Ainda assim, em 2005 o casal comprou o sítio onde estão produzindo orgânicos até hoje. No ano seguinte, conseguiram a certificação da banana como alimento orgânico e começaram a fazer uma horta com verduras e hortaliças. Atualmente, quase 15 anos depois, todo o Sítio do Catumba é certificado como produtor de alimentos orgânicos. É uma vitória para o casal, pioneiro na produção orgânica da região, mas também para o consumidor, que tem a garantia de que não foi utilizado nenhum tipo de veneno na produção do alimento.
Mudança
O período de transição da agricultura convencional para a orgânica, porém, ainda é um desafio para muitos produtores e pode durar anos. É preciso capacitação técnica para fazer o manejo do solo e principalmente tempo, para que a terra se recupere dos impactos dos agrotóxicos.
Nesse período, a produção cai e muitos produtores não conseguem manter suas condições básicas de vida. Sendo assim, Quintino aponta a necessidade de criar incentivos para essa transição e ampliação da produção orgânica regional.
“Quando eu estava trabalhando com o convencional, não via um futuro legal. Não conseguia enxergar um futuro pra mim”, conta. Hoje, no Sítio do Catumba, o casal faz parcerias com outros produtores da família e da região, para administrar toda a produção, e afirma que, mesmo em tempos de crise, está conseguindo viver do alimento que plantam e colhem, sem o uso de agrotóxicos.
Saúde pública e consumo de orgânicos
O Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, de 2018, aponta que a maior parte da população brasileira está exposta à contaminação de agrotóxicos e isso já se tornou um problema de saúde pública. Dentre os riscos dos agrotóxicos à saúde humana, segundo o Ministério da Saúde, estão: desregulação hormonal, impotência, infertilidade, câncer e distúrbios cognitivos e comportamentais.
A contaminação pode ser direta, através do trabalho com agrotóxicos ou da ingestão de alimentos contaminados. Mas também pode ser indireta, por meio do ar, da água e de animais contaminados. De acordo com relatório de 2015 da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), 70% dos alimentos in natura têm agrotóxicos.
O consumo de alimentos orgânicos e o incentivo à agroecologia familiar são apontados como alternativas pelo Relatório e outros documentos elaborados para embasar as políticas públicas voltadas à alimentação no país, como o Guia Alimentar para a População Brasileira. Isso porque o cultivo orgânico e agroecológico produz alimentos de fato saudáveis, respeita a natureza e contribui para a melhoria das condições sociais dos trabalhadores rurais, que passam a ter mais autonomia. Muitas vezes eles se organizam em associações, como é o caso de Elaine e Quintino, que fazem parte da Associação Monte de Gente Interessada em Cultivo Orgânico (Mogico), incubada pela Intecoop UFJF.