Guilherme Almeida apresentou reflexões sobre a situação da população trans no país, as pesquisas sobre a temática e os desafios na busca por igualdade de direitos (Foto: Alice Coêlho)

“As experiências trans não falam só de prejuízo, falam de conquistas, falam de ângulos da vida muito diferentes dos nossos habituais. É como que se colocassem as pessoas numa experiência radical de questionamento da própria liberdade.” A avaliação é do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Guilherme Almeida.  Pesquisador das diversidades de gênero e sexual,  Almeida, que é o primeiro doutor trans do país, esteve na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para participar de evento na Faculdade de Serviço Social e de banca de qualificação  no Departamento de Saúde Coletiva. Na ocasião, conversou com o Portal da UFJF sobre a situação da população trans no país, as pesquisas sobre a temática e os desafios na busca por igualdade de direitos.

Portal – Comente, por favor, sobre a situação da população trans no Brasil, especialmente no que se refere ao acesso ao mercado de trabalho formal.

Guilherme Almeida – É muito difícil fazer generalizações sobre a população trans no Brasil, principalmente porque não temos dados estatísticos. Nós nunca tivemos uma preocupação, por exemplo, em incluir identidade de gênero no censo demográfico. Tivemos até, nos últimos anos, o quesito orientação sexual, mas identidade de gênero não. Não podemos fazer comparabilidade estatística para saber, por exemplo, quanto da população geral tem escolaridade em relação à população trans. Não temos esses dados no Brasil. No entanto, observamos – em estudos feitos por entidades do movimento trans, LGBT, em pesquisas acadêmicas qualitativas, mostras de alguma relevância não estatística – que parte dessa população não teve acesso à escolarização. Além disso, tem dificuldade concomitante para acessar o mercado de trabalho, principalmente o mercado de trabalho formal e as ocupações com maior acesso à renda e prestígio. Por outro lado, vemos parte dessa população que estudou e tem escolaridade acima da média brasileira. Isso não necessariamente significa a ocupação desses cargos, a aquisição de vagas de trabalho. Isso acaba mostrando que, para além de vetar o acesso à escolarização, a discriminação pune também os que furam a barreira da escolarização. Pune muitas vezes também aquele que consegue resistir a uma vida escolar na qual a discriminação é uma constante, em que a violência por vezes acontece, relações familiares hostis, de opressão constante… Não é à toa que têm surgido pelo país inúmeras iniciativas, especialmente da sociedade civil, de projetos que tentam trabalhar justamente essa inserção das pessoas trans no mercado de trabalho, fazendo a mediação entre as empresas e as pessoas trans que estão procurando colocação.  Justamente porque não é fácil. Não é simples. Não são todas as empresas que não vão discriminar no momento da seleção. É preciso haver um trabalho com as empresas, com os espaços ocupacionais para isso acontecer.

Evento teve também a participação de Magali Almeida (Ufba) e Marco Duarte (Ufjf)  (Foto: Alice Coêlho)

Portal – É urgente que as Universidades invistam em políticas de acesso e permanência de pessoas travestis, transexuais e transgêneros aos/nos cursos de graduação e pós-graduação?

Guilherme Almeida – Iniciativas no âmbito da Universidade são muito importantes para transformar esses espaços em ambientes cada vez mais democráticos nos quais pessoas cis e trans convivam em pé de igualdade e a despeito das dificuldades mais amplas que a população trans pode ter ao longo da vida e muitas vezes tem. Dificuldades econômicas, por exemplo, ocasionadas pela opressão familiar. Muitas vezes as pessoas trans são levadas a deixar a família muito cedo. Quando um jovem, um adolescente ou uma criança deixa a família muito cedo, às vezes para morar nas ruas, essa pessoa vai ter um comprometimento da sua escolaridade, da sua inserção no mercado de trabalho. Isso tem efeitos econômicos na vida dela. Quanto maior o suporte familiar uma pessoa tem, mais facilmente ela vai conseguir chegar a uma carreira, a uma possibilidade de inserção. Então, a gente considera que é importante o papel da Universidade neste processo. As Universidades têm que se abrir para facilitar ao máximo esse ingresso. É importante reforçar que as cotas não excluem o mérito. Não se trata de abrir indiscriminadamente a Universidade para todas as pessoas que dela necessitam, embora a gente possa discutir isso também. No entanto, o que está se discutindo aqui é a possibilidade de reconhecer que essas pessoas vivem desvantagens que não estão colocadas para a maioria. De alguma forma, precisam existir políticas que reparem essa desvantagem, que permitam que essa pessoa tenha algum suporte para compensar essas desvantagens e poder de fato competir em pé de igualdade com as outras pessoas que estão ali. Não é um privilégio nesse sentido. É uma reparação.

Portal –  Você mencionou que, apesar da conjuntura de ascensão dos conservadorismos, no Serviço Social as pesquisas sobre diversidades de gênero e sexual têm crescido….

Guilherme Almeida – Os estudos sobre diversidade sexual e de gênero têm crescido dos anos de 1990 para cá. Começaram a crescer por conta da epidemia de HIV/Aids; das políticas LGBT que foram sendo produzidas; dos compromissos internacionais que o Brasil foi assumindo nos campos do gênero, da sexualidade, dos direitos sexuais, dos direitos reprodutivos. Isso tudo estimulou o surgimento de estudos e pesquisas sobre esses temas. Os estudos LGBT foram crescendo também nessa esteira por conta do próprio protagonismo do movimento LGBT, por conta da expressão pública que as identidades LGBT foram ganhando dos anos de 1990 para cá. Isso, obviamente, impactou a esfera pública e vem impactando a Universidade. A Universidade responde à pauta que é tecida pela sociedade civil, que é tecida na esfera pública pelos diferentes atores políticos. É natural que a Universidade tenha se tornado mais permeável a esses temas. Ao contrário do que muitas vezes certas perspectivas conservadoras tentam veicular, não se trata de difusão de uma ideologia para um grupo de pessoas. Ao contrário, se trata de um processo legítimo, democrático, em que a Universidade esteve atenta e progressivamente vem se dirigindo a uma produção de estudos que estava reprimida nessa área. Muito pouco se conhecia sobre diversidade sexual e de gênero no país. Na verdade, esses estudos ainda são poucos perto do que a gente tem que descobrir. Se você pegar, por exemplo, no campo da saúde coletiva tem muita coisa, no campo do direito, no campo das ciências sociais, da psicologia social, da educação, da linguística, da ciência política. Mas você tem áreas que são bastante impermeáveis nas quais há pouquíssimos estudos. No que diz respeito à própria população trans, a produção acadêmica no campo da biomedicina é extremamente limitada ainda no Brasil, são poucos os artigos, as teses, as dissertações. Isso é complicado, inclusive. Nós temos um conjunto de programas públicos e de serviços privados que efetivamente possibilitam o acesso das pessoas trans ao processo transexualizador. Precisaríamos junto a isso ter estudos e pesquisas dos possíveis efeitos das modificações corporais, reparar possíveis efeitos colaterais das medicações utilizadas, aprimorar os recursos para esse processos, os recursos cirúrgicos, os recursos assistenciais como um todo. Isso não é feito, e não é feito também porque não existe investimento em estudos e pesquisas. Então, por um lado a gente teve crescimento, na minha área mesmo. No Serviço Social, a gente teve crescimento. É importante, porque é uma profissão que trabalha com as desigualdades sociais, que trabalha facilitando o acesso das pessoas aos direitos. Trabalha em instituições de saúde, de assistência social, de educação, de previdência. É importante que essa profissão vá construindo um olhar mais complexo sobre quem é essa classe trabalhadora principalmente a qual se destinam os nossos serviços. Embora a gente tenha pessoas de diferentes frações de classe, a maioria da população que a gente atende é de trabalhadoras e trabalhadores de baixa renda, mas eles não têm todos a mesma cara. Eles e elas têm identidade de gênero, tem pertencimento étnico, tem sexualidade… É importante que o profissional esteja atento ao que essas pessoas estão enfrentando, seja na comunidade em que vivem, no trabalho, nas instituições de saúde e assistência. As discriminações acontecem nos mais diversos espaços sociais.            

“Quanto maior o suporte familiar uma pessoa tem, mais facilmente ela vai conseguir chegar a uma carreira, a uma possibilidade de inserção [no mercado]. Então, a gente considera que é importante o papel da universidade neste processo” Guilherme Almeida

Portal –  Outras áreas também têm tido esse posicionamento?

Guilherme Almeida – Você tem algumas profissões que já estão atentas a isso. Por exemplo, a Psicologia tem um conjunto de resoluções do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Tem uma atitude vigilante com relação a isso e uma atitude pró-ativa de estimular essas discussões na profissão. Isso ocorre a despeito do pensamento conservador dentro do próprio campo, que vem tentando reverter conquistas históricas, transformar a homossexualidade, a transexualidade em doença, propor cura. Isso tudo está dentro do campo da Psicologia, por exemplo, mas eles estão conseguindo manter, em termos das entidades da área, uma postura crítica, progressista, com relação à agenda de costumes, com relação à própria concepção do que são essas expressões. Não são doenças, não são desvios de caráter, não são transtornos. Agora, é sempre um campo de luta por dentro de todas as profissões. Você tem profissões, por exemplo, nas quais nunca aconteceu pronunciamento público maior, um parecer ou uma resolução sobre esses temas.

Vou te dar alguns exemplos. A Enfermagem nunca produziu nada formalmente, por meio do Conselho Federal de Enfermagem. A Fisioterapia  e a Terapia Ocupacional também não. A Farmácia e a Educação Física não têm nada sobre isso. Associações mais amplas do campo da Educação também têm pouca proposição nesse campo.

É importante ampliarmos essas discussões nas Universidades, inclusive para dar capilaridade a isso no interior das profissões, porque as profissões se formam é aqui na universidade em grande medida, pelo menos as de nível superior.

Portal – É importante que os estudos acerca das diversidades de gênero e sexual utilizem análise interseccional?

Guilherme Almeida – Vou pegar o exemplo das relações de trabalho. Hoje, na banca da qual participei,  eu estava relembrando uma situação de um colega que fez a tese dele sobre travestis e transexuais participantes  em concursos internacionais de beleza, como o Miss T, que movimentam muito dinheiro e envolvem prestígio e ganho de notoriedade. Há uns anos, uma brasileira ganhou o Miss T internacional. Uma mulher trans, brasileira, paulista. Eu imagino que ela deva ter passado muitas dificuldades ao longo da vida, mas essas dificuldades ganham uma outra conotação quando, para participar de um concurso desse, a pessoa ganha uma experiência internacional. Ao ganhar o concurso, ela tem possibilidade de contratações, contratos de publicidade, de realizar cirurgias na Tailândia, que é uma ‘Meca’ das cirurgias trans, ‘Meca’ no sentido de que todo mundo quer ir. É muito diferente da gente pensar na travesti que está ali, na rua, como profissional do sexo, como trabalhadora sexual, que foi expulsa de casa cedo, vem de contexto de periferia, não pode estudar, não tem nenhum tipo de suporte à saúde.

Não dá para fazermos generalizações extremas. A interseccionalidade pode nos ajudar nisso, para termos um olhar atento para evitar as generalizações. Temos que olhar para classe social, para as frações de classe também, de onde esses sujeitos vêm. Temos que olhar  para geração, para questão etária, para o pertencimento geográfico, para o gênero, porque é diferente construir feminilidade, masculinidade. É preciso olhar para uma série de marcadores sociais da diferença que em cada indivíduo e em cada grupo social vão incidir de forma diferente. Você tem que olhar isso de perto, estar atento a essas marcações, para compreender de fato.

Por exemplo, em que momento da vida pesou mais do ponto de vista da classe social ou que pesou mais o pertencimento de gênero daquela pessoa? Pesou no sentido de produzir mais restrições, impedir aquela pessoa de ter acesso a determinados direitos ou possibilidades na vida. Isso não acontece de uma forma mecânica. Não é simplesmente uma soma aritmética. É um processo singular que tem que ser estudado quando você vai partir para uma ação técnica, seja com indivíduo ou grupo, e  quando você está fazendo pesquisa sobre aquele tema.

Não dá para afirmar que todas as pessoas trans vivem de uma maneira ou de outra, porque, inclusive, é injusto com elas próprias. Muitas vezes no movimento trans você ouve coisas do tipo e que são bastante legítimas. As mulheres trans afirmam que normalmente, quando são lembradas, são associadas ao trabalho sexual. E nem todas têm essa realidade. Outras podem ter, mas não querem ser reconhecidas a partir disso. Essas generalizações são perigosas. A interseccionalidade entra como uma ferramenta que permite um olhar mais refinado e mais próximo do que de fato aquelas pessoas estão experimentando.

O que está se discutindo é a possibilidade de reconhecer que essas pessoas vivem desvantagens que não estão colocadas para a maioria. De alguma forma, precisam existir políticas que reparem essa desvantagem, que permitam que essa pessoa tenha algum suporte para compensar essas desvantagens e poder, de fato, competir em pé de igualdade com as outras pessoas. Não é um privilégio nesse sentido. É uma reparação.

Tem uma pesquisa interessante da antropóloga Laura Moutinho, em São Paulo, em que ela discute a realidade de mulheres lésbicas negras na África do Sul. Ela ouve duas mulheres negras lésbicas de lugares diferentes da África do Sul, mas com idades próximas e carreiras de nível superior. A pesquisadora pergunta sobre o que pesou mais na trajetória delas em termos de discriminação, se foi o fato de ser mulher, de ser lésbica, de ser negra. Uma das entrevistadas era de um espaço mais interiorano e a outra era de uma cidade grande. A da cidade grande diz que o maior peso foi o machismo e a homofobia, ou seja, a discriminação por ser mulher e ser lésbica. E a outra do interior afirma que o que mais pesou na vida dela foi o fato de não falar inglês, de falar um dialeto, ou seja, foi o pertencimento geográfico. Isso fez com que ela tivesse muito mais experiências de isolamento do que a outra. Isso que queremos dizer quando falamos em interseccionalidade. É esse olhar atento e que muitas vezes o próprio sujeito vai nos ajudar a perceber. A gente não pode a priori dizer o que afeta o outro.

Portal – Há alguma questão que você queira acrescentar à entrevista?

Guilherme Almeida – Queria registrar a importância de potencializar esses esforços que a UFJF tem feito de maior inclusão,  de produzir políticas de ação afirmativa. É importante que isso também se traduza no campo da saúde das pessoas trans. Uma das coisas que a gente percebe é que, historicamente, a maioria das pessoas trans de Juiz de Fora vão para no Rio de Janeiro, para fazer o acompanhamento lá. Isso se torna um problema quando o Rio de Janeiro veta o acesso. O Rio de Janeiro está em crise. Os programas não têm abertura de vagas regulares, e para as pessoas de fora ainda é mais difícil do que para as pessoas de lá.

O que a gente já tem visto na experiência do país é que grande parte das demandas de saúde das pessoas trans pode ser resolvida na Atenção Básica, na construção de ambulatórios transdisciplinares com diferentes profissionais, construídos com uma interlocução com as próprias pessoas trans, de preferência com um conselho de usuários.   Não é um modelo assistencial caro, oneroso financeiramente, mas é um modelo muito eficaz. Fazer com que as pessoas possam ser atendidas num processo, que é um processo complexo, o processo transexualizador, mas que grande parte das demandas delas possam ser atendidas no próprio local de origem, onde têm uma rede de proteção, de reconhecimento de alguma forma. Uma rede apoio, inclusive, para permanência durante longos procedimentos. A gente via, entre as pessoas trans de Juiz de Fora que iam para o Rio de Janeiro, que muitas vezes elas ficavam sem ter pouso, sem ter um lugar para ficar quando tinham que permanecer por mais de um dia, porque tinham que fazer um exame, porque tinham mais de uma consulta. O Sistema Único de Saúde infelizmente não garante isso. Às vezes, o SUS consegue o tratamento fora do domicílio, o transporte, mas não a permanência, a estada num hotel. Isso não é simples de obter. Então, essas pessoas ficavam muitas vezes vagando, para poder fazer hora, para poder permanecer, se alimentando mal, e poder ter uma consulta endocrinológica. Isso pode ser oferecido no próprio município. Ter uma consulta de assistência psicológica, com assistente social. Isso tudo ele ou ela pode vivenciar aqui, em Juiz de Fora, mesmo. Então, é positivo que a Universidade esteja fazendo isso tudo e eu tenho esperança de que a UFJF possa começar a construir essas alianças necessárias para um ambulatório trans aqui também. Isso já vem dando certo em São Paulo (SP), em Uberlândia (MG) tem um ambulatório trans muito bem sucedido, que inclusive coordenado por uma antropóloga e fisioterapeuta, a Flávia Teixeira, professora da Universidade Federal de Uberlândia. As Universidades tiveram um papel histórico de grande protagonismo no desenho desse modelo assistencial de saúde trans no país. Não fossem os hospitais universitários, não existiria uma modelo assistencial para pessoas trans no país. Foram eles que começaram a criar os primeiros programas de atendimento. As Universidades sempre tiveram um papel muito importante na assistência a essa população. Eu faço votos de que essas alianças se adensem na localidade, no município, e que, de uma próxima vez que eu possa vir, eu já encontre um ambulatório em que as pessoas trans possam se sentir acolhidas.

Portal – Você mencionou a densidade da experiência trans e da pesquisa da temática também…Poderia comentar sobre isso, por favor?

Guilherme Almeida – Todo estigma direcionado às pessoas trans muitas vezes respinga nos profissionais que atendem, que assistem, que se interessam por essa população, porque é um grupo extremamente estigmatizado. É muito comum ver os profissionais de saúde estigmatizados, sendo tratados com deboche, com desprezo, porque trabalham com esse público. Também ocorre com os profissionais dos âmbitos jurídico e educacional que se interessam por essa temática. Para além disso, é importante a gente considerar o que eu sempre digo para profissionais que se interessam, que estão começando essa questão. As experiências trans não falam só de prejuízo, falam de conquistas, falam de ângulos da vida muito diferentes dos nossos habituais. Tinha uma amiga minha que falava do efeito que as pessoas trans tinham sobre ela. Ela dizia que, ao olhar para uma pessoa trans que enfrenta tantas dificuldades, pensava: ‘poxa, mas se fulano enfrenta isso, porque eu não posso me casar, me separar, mudar desse trabalho que eu detesto e fazer alguma coisa que eu goste mais?’ É como se colocasse as pessoas numa experiência radical de questionamento da própria liberdade. Você viu ‘Tudo sobre minha mãe’, do Almodóvar?  É meu filme de cabeceira de muitos anos. Você se recorda da cena da Agrado? Ela é uma travesti que num momento do filme resolve fazer um número. A atriz que faria a encenação no teatro não vai. Fica um buraco no espetáculo. A Agrado entra e resolve fazer um número de comédia e começa narrando a própria história. Ela diz assim: ‘esse cabelo foi tanto, esse nariz que fiz na plástica outro tanto, aqui tem não sei quanto de silicone. Tudo aqui é autêntico’. Em outros termos, a personagem redesenha essa noção de autenticidade. Nada mais autêntico do que aquilo que você se empenhou ao extremo para ser.