Atualmente, 534 projetos de extensão envolvem 1.900 alunos de cursos diferentes. Iniciativas incentivam beneficiários a se encontrarem em carreiras universitárias e profissionais (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Os projetos de extensão universitária viabilizam uma relação transformadora entre as universidades e a sociedade. Neste processo, a comunidade acadêmica leva conhecimento e assistência à população, e aprende com a prestação de serviços relativos às reais necessidades e anseios da coletividade. Por meio dessas ações, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) conta atualmente com 534 projetos, que envolvem cerca de 1900 alunos de cursos diferentes. As iniciativas incentivam beneficiários a se encontrarem em carreiras universitárias e apresentam novos horizontes de transformação social.

Todos os projetos são desenvolvidos com estudantes, bolsistas e voluntários, que trabalham com demandas externas à Universidade. De acordo com a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, essa relação oportuniza que esses sujeitos tenham contato com os universitários e “coloca no horizonte deles a possibilidade de um dia estarem na UFJF e também trabalharem para a comunidade”.

Ana Lívia destaca que os estudantes ex-participantes da extensão, como beneficiários, começam a ver a Instituição de uma forma mais próxima, permitindo que o ensino superior passe a ser um horizonte possível de ser alcançado. “Os favorecidos percebem que o caminho até a nossa Universidade não é tão longo quanto parece, pois a UFJF, antes de possibilitar a sua inserção como estudantes, chegou até eles para desenvolver um projeto de extensão”, ressalta.

“Essas ações têm o objetivo de garantir direitos a segmentos que, naquele momento, não fazem parte do grupo discente da nossa UFJF”, afirma a pró-reitora. Ela destaca que as atividades desenvolvidas permitem aos usuários ter contato com o conhecimento que é produzido pela Instituição. “A relação é sempre horizontal e com diálogo. Isso faz com que as pessoas possam ter acesso a serviços, refletir sobre a própria sociedade, reivindicar e saber que a universidade pública está próxima nos momentos em que as pessoas têm determinadas carências ou interesse em ser atendidas”.

“Luto por mim e por eles”

Lucas Paulo da Silva conheceu o projeto voltado para a população quilombola quando sua comunidade foi escolhida para atividades. Hoje é pesquisador no mesmo projeto (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Participante do ‘Construção do PPP de educação quilombola na comunidade quilombola da Mata dos Crioulos’, Lucas Paulo da Silva conheceu o projeto quando a comunidade em que vive foi escolhida para a implementação das atividades. Aos 25 anos, o estudante de graduação em Geografia aponta que participou da ação como objeto de pesquisa por aproximadamente dois anos. Desde que ingressou à UFJF, continua como integrante das investigações, mas neste momento, tornou-se pesquisador.

“O projeto me incentivou no sentido de coletar mais sobre a história de minhas raízes. A geografia é uma área vasta e esse projeto investiga além da localização. Estudamos cultura, plantio, tradições e saberes. Algo que o povo quilombola sabe sem ter contado com qualquer tipo de ciência. Assim, pensei que esse curso me possibilitaria  ajudar a minha comunidade. E estava certo”, observa o estudante.

Para a vivência profissional trouxe a idéia de equidade, independente de classe social, cor de pele ou diplomação. “Cada um tem seu conhecimento próprio. Eu levo  comigo o pensamento de que não importa quão alto estiver, nunca devemos esquecer das nossas origens. Sinto-me orgulhoso por estar representando minha comunidade. Motivo pelo qual continuo a lutar por mim e por eles.”

Segundo o coordenador da ação, Leonardo de Oliveira Carneiro, os projetos de extensão criam  um vínculo entre a UFJF e as comunidades. “Eu encontrei com o Lucas na execução de outros projetos. Acredito que a extensão universitária é a perspectiva de deslocar a Universidade até onde as pessoas vivem; neste caso, os  quilombolas. O contato com os jovens cria um diálogo e mostra que o universo universitário pode estar muito próximo a eles. Nós os visitamos, mas também os trazemos para a Instituição. Dessa forma, eles passam a enxergar o ensino superior público como um mundo acessível”.

Do projeto de extensão para a vida
Natural de Juiz de Fora, Marina Coimbra de Azevedo Quelhas é estudante de Direito na UFJF. Aos 19 anos, a estudante conta que teve a oportunidade de participar de dois projetos de extensão, a ‘Câmara mirim: promovendo cidadania, participação política e os direitos humanos’  e o ‘Parlamento Jovem (PJ)’.

Marina comenta que já tinha estima pela graduação em Direito antes de participar dos projetos, e isso a influenciou a se inscrever nas ações. “Depois de iniciados nossos trabalhos, fiquei com mais interesse no curso, pois consegui lidar com muitos aspectos da ciência política e, principalmente, do processo legislativo, seja no âmbito municipal, no caso da Câmara Mirim, seja no âmbito estadual, com o PJ, que ocorreu na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.”

“A experiência abriu meus olhos para diversos aspectos, como o descaso de nossos governantes e, até mesmo, o sucateamento e falta de incentivo na educação”, lembra Marina. Por outro lado, ela acredita ter saído dos projetos com mais esperança na juventude, aplicando o aprendizado em todos os âmbitos da sua vida. “Apesar de haver tanta desigualdade, miséria e descaso no mundo, sempre devemos ter esperança por dias melhores, e o jovem é capaz de ser o motor dessa mudança.”

Lígia Fernandes e Marina Quelhas participaram do Projeto Parlamento Jovem e hoje cursam a Faculdade de Direito (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Amiga de longa data, Lígia Cerqueira Fernandes também participou do PJ e atualmente é companheira de faculdade de Marina. A aluna acredita que a escolha do curso superior teve forte influência das atividades realizadas no projeto. “Já tinha certeza de que me dedicaria ao estudo das humanidades, mas com o meu envolvimento no Parlamento Jovem me convenci de que minha área seria algo voltado para as ciências sociais aplicadas. Me envolvi e me interessei pelo estudo das políticas públicas, da atuação do poder legislativo e dos arranjos institucionais e políticos no geral”, conta.

“Durante o PJ me envolvi com temas que até hoje norteiam minha formação acadêmica, como o estudo das questões de gênero e também a violência destinada a membros da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e outros”, explica Lígia. A discente afirma que as escolhas acadêmicas e profissionais, ainda hoje, continuam em consonância com os temas pelos quais se engajou. “Enxergo isso como uma grande prova do impacto que essa participação teve na minha caminhada de estudos.”

De acordo com a coordenadora do Câmara Mirim e ex responsável pelo Parlamento Jovem, professora Christiane Jalles, uma das questões mais importantes dos projetos é poder apresentar a UFJF para a comunidade. “Minha intuição é de que as atividades que coordenei são importantes para apresentar a UFJF aos estudantes, principalmente aqueles das escolas públicas. Eles não se imaginam alunos da Instituição, mas os projetos mostram que podem sim se imaginar nesta Universidade.”

Aliando a teoria e a prática

Desde os 11 anos na equipe de atletismo Cria UFJF, Noemi Alves da Cruz ingressa no curso de Educação Física no segundo semestre (Foto: Alice Coêlho/UFJF)

“Conheci o projeto por meio de uma demonstração que foi feita na minha antiga escola. Comecei aos 11 anos e permaneço até hoje”, lembra Noemi Alves da Cruz, beneficiária do projeto ‘Equipe de Atletismo UFJF’ (Cria/UFJF) e aprovada do curso de Educação Física para o segundo semestre deste ano.

A aluna conta que o projeto a possibilitou ganhar bolsa de estudo integral em um colégio da rede privada e incentivou sua escolha universitária, ao despertar, ao longo dos anos, a paixão pela corrida e aumentar a afeição pelos estudos relacionados ao corpo humano. “Pelo contato que tenho com o esporte, ele vai me ajudar muito na vida profissional, principalmente, pelo fato de eu já ter aprendido aspectos da prática.”

Outra questão levantada foi a criação de vínculos por meio do projeto. “O esporte me aproximou de novas pessoas, por exemplo, os atletas do Cria UFJF se tornaram até mais que amigos, creio que somos uma família”, destaca.

O professor da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) e coordenador do Cria, Jorge Perrout, acredita que os projetos de extensão oportunizam os usuários a conhecer e passar a gostar de algo que até então era desconhecido. “A pessoa pode ter contato com uma possível profissão, ou carreira universitária, na qual, não teria a oportunidade de conhecer, caso não fizesse parte das extensões universitárias que oferecemos. A UFJF mostra que o indivíduo pode traçar um panorama e descobrir uma vocação.”

Confirmando expectativas
Matheus Neves Rufino Pereira, 18 anos, conheceu, há dois anos, o ‘Formação em basquetebol: da base para a ponta’ por meio de um familiar que começou a participar do projeto. “Sempre tive a certeza de que queria fazer Educação Física. A convivência com os alunos, bolsistas ou voluntários, e a relação com o treinador, professor Dilson Borges, confirmaram minhas expectativas com a Faefid”, diz.

Matheus Pereira ingressou na formação de basquetebol há dois anos e hoje é aluno do curso de Educação Física (Foto: Maria Otávia Rezende/UFJF)

Pereira ressalta que aprendeu inúmeras lições importantes ao participar da extensão universitária, mas a principal é honrar os próprios compromissos. “Além disso, conheci muitas pessoas e ganhei novas amizades. O basquete é um jogo muito coletivo, e que favorece esse tipo de interação.”

De acordo com o treinador, o projeto traz possibilidades únicas que podem ser transformadoras na vida dos integrantes. “As pessoas que convivem no ambiente da Universidade têm a oportunidade de vivenciar o ambiente acadêmico em todas as suas dimensões. Isso permite que fiquem mais conscientes, se eduquem e possam criar identificação com os nossos cursos de ensino superior”, avalia.

Frutos dos anos 1990
Iniciado nos anos 1990, a ‘Iniciação à Ginástica Rítmica’ atende cerca de 120 alunas, divididas em três grupos: 7 e 8 anos; 9 e 10 anos; e a partir de 11 anos. Além de atender a comunidade, tornou-se atividade de estágio para alunos da Faefid e consegue abranger os tripés universitários: ensino, pesquisa e extensão.

Ex-integrante, Márcia Pires da Cruz Bonfá, permaneceu dos 7 aos 12 anos na atividade. Teve a oportunidade de conhecer a ação através da avó, que trabalhava na biblioteca da Faefid e a incentivou a participar do projeto idealizado pela professora Elenice Faccion. Atualmente é  graduada em Educação Física e trabalha como professora de dança.

Márcia conta que o projeto a incentivou a escolher a carreira por meio da ginástica rítmica, a princípio seu foco. Para Márcia, a extensão universitária trouxe para sua vida profissional responsabilidade, companheirismo, perseverança, pontualidade e amor pela profissão. Ela também ressalta os vínculos criados e reforçados por meio da atividade. “Quando fazia ginástica, minha família era toda envolvida com a minha participação no projeto. Ele me deixou amigos que levo para a vida, mesmo que tenhamos seguido caminhos diferentes”.

Adriana Leite Souza ingressou no projeto de iniciação à ginástica rítmica nos anos de 1990 e hoje é professora coordenadora (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Técnica em ginástica rítmica no Rio de Janeiro, Juliana Vieira Chinelato Alves, participou de alguns projetos de extensão da Faefid, como os de natação e basquete, mas se encontrou na ginástica rítmica, permanecendo no exercício por volta de seis anos. “Morava no bairro Cidade Universitária – São Pedro – e como meus pais não tinham condições de pagar aulas de esporte para mim, meu pai foi à UFJF e descobriu que havia aulas de esportes oferecidas gratuitamente. A minha primeira viagem interestadual foi com o projeto, para o Rio de Janeiro. Meu pai não tinha condições de pagar, e a UFJF nos financiou. A extensão nos permitiu conhecer muitos lugares, a gente se apresentava em eventos e feiras. O esporte me abriu muitas portas.”

A relação com as professoras e bolsistas da extensão trouxe muitos ensinamentos para Juliana, e os contatos ultrapassavam as barreiras do esporte. “Não era apenas uma atividade física, mas um conjunto. Eu me espelho nessas pessoas que me iniciaram na vida esportiva e na vida pessoal. Não conheço ninguém daquele grupo que não tenha hoje uma profissão. Trabalho na área, pois aprendi a amar o esporte.”

A atual coordenadora, Adriana Leite Sousa, conta que participou do projeto desde os anos 1990. “É muito gratificante ver que alunas da década de 1990 deram bons frutos e hoje atuam na área. Atualmente, os projetos de extensão são muito mais bem estruturados. A UFJF faz deles prioridades. Nossa atividade era menor e só beneficiava meninas que moravam ao entorno. Eram todas de escola pública e brincavam na rua. Fico realizada em encontrar algumas delas e saber que todas possuem uma profissão. Levá-las para a Universidade despertou nelas o interesse de se graduar aqui”.

Como criar projetos de Extensão?
Todos os professores que possuem atividades de extensão universitária podem registrar as suas ações no Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (Siga). O registro possibilita que tenham bolsistas e voluntários auxiliando nos trabalhos, além de apoio de custeio para desenvolver as atividades.

Outras informações
(32) 2102-3971 (Pró-reitoria de Extensão -Proex)