Trabalhos mesclam nanquins, aquarelas e colagens, entre outros elementos, explorando contrastes e degradês (Imagem: Divulgação)

Desafiando os olhos, mas sem nunca deixar de encantá-los, a exposição “Minimundos”, de Ronald Polito, em cartaz na galeria Poliedro do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), reúne 61 obras, sendo 30 objetos e outros 31 trabalhos em técnica mista, que chamam a atenção pela materialidade das composições e pelo apelo às formas.

Nos trabalhos bidimensionais, Polito mescla desenhos, nanquins, aquarelas e colagens, entre outros elementos. No caso das colagens, materiais pouco usuais, como a seda de cigarros, se destacam. Nas aquarelas, não aparece o recorrente espraiamento da tinta, causado pela diluição em água. Ao contrário, as cores surgem magicamente contidas dentro das figuras em que se apresentam. O truque do mestre está no papel manteiga que recobre os transbordamentos.           

O colorido das peças, ora explorando contrastes, ora as nuances dos degradês, inegavelmente apresenta harmonia e beleza. Nos objetos, o tamanho e a delicadeza dos materiais atraem o visitante para perto da vitrine. É preciso se inclinar e ver de perto os grafites de Polito, unidos minuciosamente pela cola de aeromodelismo, formando figuras geométricas, balanços, casas e outra figuras da imaginação do artista.

Numa das peças, uma das mais fantásticas, feixes de grafites parecem flutuar dentro de um cubo, também feito do mesmo material, mas em outra gramatura. Se o meio é a mensagem, Minimundos apresenta um trabalho metódico, no qual tudo é calculado para revelar a ordem geométrica de todas coisas, escondida na máquina do mundo. Numa época em que grande parte dos artistas apela para a megalomania e impõe seus trabalhos à visão do espectador pela grandiosidade dos objetos, às vezes precisando de salas inteiras, galpões e praças, Polito seduz o olhar pela preciosidade dos detalhes.

Em cada objeto ou nas linhas seriadas dos quadros, é possível notar o padrão do conjunto e a singularidade de cada traço. Em oposição à dispersão tecnológica da nossa época, o artista oferece o remédio das incontáveis minúcias que conduzem à concentração do olhar. Ao final da experiência, o visitante poderá dizer como Hamlet: “Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito.”

O artista
Ronald Polito é poeta, tradutor, historiador, ensaísta e professor. Formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mesma instituição na qual obteve seu título de mestre, com uma dissertação sobre o árcade Tomás Antônio Gonzaga. Foi durante anos professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e professor convidado de literatura brasileira e língua portuguesa na Tokyo University of Foreign Studies, no Japão. É autor de mais de uma dezena de livros, a maioria de poesia, além de outros de história e crônicas, e participou da tradução e edição de diversos autores, destacando-se os de origem catalã, até então inéditos no Brasil.

A exposição fica aberta à visitação de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, e sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h. A entrada é franca. O Mamm fica localizado à Rua Benjamin Constant, 790, no Centro, em Juiz de Fora.

Outras informações
(32) 3229-9070 (Museu de Arte Murilo Mendes).