O evento reuniu estudantes, docentes e pesquisadores da área (Foto: Maria Otávia Rezende)

Discutir sobre a interface entre educação, direitos, gênero e sexualidade, apresentando formas de enfrentar o conservadorismo, foi o objetivo da mesa de encerramento do II Seminário Relações de gênero e sexualidades, que aconteceu nesta quinta-feira, 4, no auditório da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis. A iniciativa é organizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed), vinculado à Faculdade de Educação (Faced), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O evento, que reuniu estudantes, docentes e pesquisadores da área, integra as atividades da Especialização em Relações de Gênero e Sexualidade: perspectivas interdisciplinares. Além das mesas e palestras, o Seminário contou com a apresentação dos trabalhos produzidos pelos estudantes em forma pôsteres expostos no corredor próximo ao auditório.  Para o professor e coordenador do curso, Roney Polato, a iniciativa busca tornar público o conhecimento que tem sido produzido na universidade, e promover o diálogo sobre questões que, embora sofram ataques, são essenciais para a construção de uma sociedade plural e com igualdade de direitos.

“Estamos em um tempo de ataques frontais a determinadas temáticas, como questões de gênero e sexualidade, por exemplo. Portanto, todo espaço que a gente cria para discussão se transforma em um espaço político de reafirmação da importância deste debate. Ao falar de gênero e sexualidade, falamos da própria sociedade, de sua organização política, econômica e dos vários aspectos que a compõe”, explica.

Para conduzir a conversa que marcou o encerramento do evento, participaram da mesa as professoras Gabriela Meireles, da Faculdade Governador Ozanam Coelho (Fagoc); Joana Machado, da Faculdade de Direito da UFJF; e o professor Anderson Ferrari, da Faculdade de Educação da UFJF, que mediou o debate.

Enfrentando o conservadorismo

De acordo com a professora Gabriela Meireles, é essencial discutir maneiras de enfrentar discursos conservadores que, ao longo do tempo, produziram estigmas sobre a sexualidade que deram base para o preconceito e a homofobia presentes na sociedade contemporânea. Para isso, na ocasião, ela apresentou um percurso histórico sobre como a psicologia e alguns psicólogos enfrentaram o conservadorismo, a partir das experiências de Sigmund Freud, Carl Gustav Jung e Nise da Silveira. “A ideia é entender como esses profissionais resistiram no passado, para que a gente consiga criar possibilidades no tempo atual”.

Segundo Gabriela, o discurso conservador busca a afirmação de uma identidade padronizada, reiterando um sistema de hegemonia, no qual só se aceita quem está de acordo com sua normatividade. Para ela, essa questão precisa ser debatida de forma interdisciplinar, abrangendo e dialogando com outras áreas, como a saúde, a educação e o direito. “Precisamos pluralizar nossa visão para que todas as pessoas possam vivenciar suas sexualidades e seu gênero de forma livre. É preciso ampliar essa questão e dialogar com o direito, por exemplo. Porque a gente não consegue realizar nada sem ter condições pra isso. Que condições legais temos hoje em dia para criar novas possibilidades?”, questiona.

Efetivação de direitos

Nesse sentido, para abordar a questão dialogando com outras áreas, a professora Joana Machado apresentou o Direito a partir de uma perspectiva sociológica, como um campo de disputas com potencial de gerar mudanças estruturais. “É importante esse aspecto crítico que o Direito propicia por ser um campo ainda muito conservador mas, ao mesmo tempo, representar uma trincheira nas lutas que não podemos abrir mão. É um espaço estratégico em que a gente faz reivindicação por justiça e uma via que  articulamos para assegurar o acesso à educação, saúde e ao reconhecimento legal e cultural”.

A professora discutiu sobre o papel do Direito no processo de reconhecimento cultural das populações invisibilizadas, como LGBTs, mulheres e negros. De  acordo com Joana, refletir sobre isso é essencial para a efetivação de políticas públicas. “No momento em que o Direito se silencia sobre essas populações, todo o processo de violência passa a assumir uma nova dimensão, que é a institucional. E isso acaba, de forma simbólica, autorizando à sociedade a continuar alimentando as culturas heteronormativas, de branquitude e do patriarcado. Portanto, o Direito é um campo estratégico para que a gente aproxime essa questões identitárias da justiça”, finaliza.

Outras informações: (32) 2102-3653 – Faculdade de Educação (Faced)