Antonione Grassano defendeu a dissertação “Suicídio, Mídia e Discurso: uma análise discursiva dos relatos de si de sujeitos suicidas no Facebook”, na Faculdade de Comunicação da UFJF (foto: arquivo pessoal)

A análise dos efeitos de sentido em relatos suicidas publicados em redes sociais motivou o jornalista Antonione Alves Grassano a realizar sua pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O objetivo do trabalho foi realizar uma análise das condições históricas da produção de tais relatos, dos sintomas representados pelo sujeito suicida e do funcionamento discursivo desses textos em suas relações e determinações sócio-históricas e linguísticas, considerando ainda os modos de subjetivação contemporâneos em suas relações com o digital.

O pesquisador explica que o trabalho é amparado na metodologia de análise do discurso e nos conceitos de poder. “Se aceitarmos que toda forma de poder prevê seus modos de resistência, entendemos que a noção de desistência carece de formulações. Nossa hipótese aponta para a revolta e a apatia como respostas possíveis à destituição, podendo resultar na aniquilação”. De acordo com Grassano, a partir dos estudos foi possível detectar um atravessamento de valores como individualismo e concorrencialismo relacionados, sobretudo, a bens materiais. “Por exemplo, quando felicidade vira sucesso profissional, elementos da ordem dos afetos viram investimento e autoimagem vira marketing pessoal”. O acadêmico percebeu, ainda, que a rede social se tornou o local preferencial da escrita de si.

O tema surge motivado pelo atual projeto do grupo de pesquisa do qual o jornalista faz parte, em que há o estudo sobre a noção de destituição simbólica como uma crise profunda do sujeito com os discursos disponíveis na sociedade. “O suicídio, assim, aparece como uma situação limite deste processo, em que o sujeito pode encontrar a restituição dos sentidos na própria morte. Isso, é importante lembrar, é uma hipótese de trabalho”. O acadêmico, que analisou 13 textos publicados no Facebook entre os anos de 2017 e 2018, acrescenta que, nas postagens analisadas, foi possível observar  o discurso biomédico como articulador das práticas discursivas suicidas. “Pela discursividade biomédica na apreensão do sofrimento, percebemos o uso de categorias diagnósticas para dar corpo simbólico ao sofrimento. Tristeza vira depressão e raiva vira surto, por exemplo”.

Para o professor orientador, Wedencley Alves, a dissertação faz um diálogo entre os campos de Comunicação e de Saúde, uma vez que trabalha com uma abordagem de saúde para além da ausência de doença, ampliando a conceituação para lidar com as dores do mundo. “Esta pesquisa é impactante, num primeiro momento. Mas, uma vez que o modo de sofrer é perpassado, na contemporaneidade, pelo fenômeno comunicacional, é importante observarmos aquilo que marca o sofrimento contemporâneo e observar como as pessoas deixam seus dizeres antes do suicídio”. Para o professor, a pesquisa é corajosa e tem relevância social importante, visto que  “responde fenômenos que podem servir de base para o trabalho de especialistas em Psicologia e em Políticas Públicas, contribuindo com medidas preventivas ao suicídio”.

Contatos:
Antonione Grassano – (mestrando)
antonione.grassano@gmail.com

Wedencley Alves (orientador – UFJF)
wedencley@gmail.com

Banca examinadora:
Prof. Dr. Wedencley Alves (orientador – UFJF)
Prof. Dr. Paulo Roberto Figueira Leal (UFJF)
Profa. Dra. Katia Lerner  (Fiocruz)

Outras informações: (32) 2102-3616 – Programa de Pós-graduação em Comunicação