Foram selecionados 11 estudantes, de oito áreas diferentes (Foto: Visualhunt)

Estudantes estrangeiros de dez países foram selecionados para cursar parte do doutorado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O edital do Programa de Doutorado Sanduíche Reverso (PDSR), oferecido pela primeira vez pela Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa (Propp), tem como objetivo auxiliar na promoção da internacionalização da Universidade.

Os estudantes de cursos de doutorado estrangeiros precisam comprovar qualificação para aprofundamento teórico, coleta ou tratamento de dados, ou desenvolvimento parcial da parte experimental das teses no Brasil. Os doutorandos recebem bolsa para estadia e, após um semestre na UFJF, retornam à sua instituição de origem para defender as pesquisas desenvolvidas.

Foram selecionados 11 estudantes, de oito áreas diferentes: Psicologia, Educação, História, Ciências Sociais, Ecologia, Modelagem Computacional e Química. O Pró-reitor adjunto de Pós-graduação e Pesquisa, Luis Paulo da Silva Barra, lembra a importância do programa de doutorado Sanduíche reverso para a Universidade e para a formação dos discentes, além de destacar a variedade de países contemplados com as vagas: Argentina, Espanha, Portugal, México, Inglaterra, França, Holanda, Canadá, Peru e Benim. “Receber estudantes de outras instituições é uma maneira de possibilitar o contato dos nossos alunos com a cultura de outros países, além de despertar nos nossos docentes a iniciativa de promover pesquisas em parceria com universidades internacionais”, ressalta Barra.

História da África na educação

Narcisse Sylvestre Sègla, da República do Benim, escolheu realizar parte de sua pesquisa no Brasil devido à relação histórica entre os dois países (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos acadêmicos selecionados para pesquisar no Programa de Pós-graduação da Educação (PPGE) foi o africano Narcisse Sylvestre Sègla, nascido na República do Benim, um dos menores países da África. Ele escolheu realizar parte de sua pesquisa no Brasil devido à relação histórica entre os dois países, e enxerga o doutorado sanduíche como uma maneira de se integrar à cultura brasileira. “A brasilidade é tipicamente africana. Hoje em dia, residem no Brasil os nomes descendentes dos dignos filhos e filhas do Dahomey, através do tratado negreiro. Há famílias beninenses que portam os nomes de brasileiros, como os Silva, os Almeida, os do Rego, os Epaminondas, os Kantara”, conta.

Sègla pesquisa a contribuição para o desenvolvimento da educação tradicional africana nos países em desenvolvimento, analisando o caso da especifico região de Sakété, localizada em seu país de origem. Em seu projeto, o estudante  defende que a integração da história da África e dos pensadores africanos nos currículos de formação permitiria que os povos conhecessem o passado e sentissem orgulho dos ancestrais e heróis que lutaram pela independência do continente.

O doutorando acredita que houve incapacidade política instaurada por dirigentes em valorizar contos, provérbios e mitos da história africana, impossibilitando a promoção do encontro entre o tradicional e o moderno. Sègla explica que o empenho para seguir os estudos na Pós-graduação é fruto da vontade de conhecer e realçar os valores tradicionais africanos e, em particular, os beninenses. “A história da África é abundante em valores qualitativos e cabe a nós compreendê-la e propagá-la. Nossos valores estão em perigo de desaparecimento pela influência da globalização dos meios de comunicação, que tem um impacto negativo sobre os jovens a tal ponto que muitos ignoram o seu passado.”

Sègla atribui a decisão por realizar o doutorado sanduíche na UFJF à qualidade da educação, à experiência dos professores e à excelência na metodologia. Na instituição ele será orientado pelo professor Julvan Moreira, que pesquisa a filosofia africana em interface com a educação. Moreira ressalta que o pensamento que serve como base para a educação que nós estudamos vem dos filósofos ocidentais e que há negação da existência de uma filosofia dos países de origem africana. “É pensar a forma de educar a partir dos nossos valores culturais, por isso a importância dessa troca. O meu grupo de pesquisa vai ganhar muito com a presença do Narcisse aqui, porque ele vai trazer essa contribuição do pensamento tradicional africano, específico da região dele, para as nossas discussões”, garante Moreira.

Outras informações: (32) 2102-3773 ou 2102-3785 – Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa UFJF