O desafio de fazer do ambiente universitário um espaço cada vez mais inclusivo mobilizou estudantes, professores, representantes de instituições da cidade e comunidade externa no 2º Seminário de Acessibilidade no Ensino Superior, realizado na última segunda-feira, 10, pelo campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV). Iniciativa da Direção-Geral, a atividade foi organizada pela Comissão Permanente de Acessibilidade – criada há quase dois anos, com o objetivo de desenvolver ações e projetos destinados a tornar o meio acadêmico acessível a todos – e contou com o apoio do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência.

“Não podemos deixar de debater este assunto”, afirmou Peterson Andrade sobre a acessibilidade. (Foto: Sebastião Junior)

“A acessibilidade é, na maioria das vezes, negligenciada pelo poder público e instituições. Não podemos deixar de debater este assunto, pois é um benefício para toda a população e não somente para as pessoas com deficiência”, destacou o diretor-geral do campus, Peterson Andrade. Ele também ressaltou a importância de ampliação do debate para além do ambiente da UFJF-GV. “Reunimos neste evento as ações de três instituições de ensino superior para trocarmos experiências para a integração dos esforços. Precisamos superar a fragmentação e as barreiras existentes com ações integradas e resolutivas com o objetivo de promovermos a funcionalidade plena das pessoas com deficiências.”

Da esquerda para a direita: Adelice Bicalho, Lucas Nápoli e Maria Beatriz Coelho. (Foto: Sebastião Junior)

O psicólogo do setor de Apoio Estudantil da UFJF-GV e presidente da Comissão de Acessibilidade, Lucas Nápoli, e as professoras Maria Beatriz do Valle Coelho (Faculdade Pitágoras) e Adelice Jaqueline Bicalho (Univale) apresentaram as medidas adotadas para promover a acessibilidade em cada uma dessas instituições e os principais desafios enfrentados. O destaque da programação foi a palestra do servidor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-atleta paralímpico Luiz Edmundo Costa, que falou sobre a sua trajetória pessoal e profissional (clique aqui para assistir à palestra na íntegra).

“A inclusão começa na nossa casa”
Desafio é uma palavra que sempre fez parte do vocabulário de Luiz Edmundo. Deficiente visual, desde criança teve que descobrir formas de se integrar à família e aos amigos. Mesmo com as limitações na visão, aprendeu a andar de bicicleta e a jogar futebol. E foi no esporte que adquiriu a sua autonomia. Costa é ex-atleta da seleção brasileira paralímpica de futsal, equipe com a qual participou de importantes competições e conquistou diversos títulos (sul americano e mundial).

Luiz Edmundo Costa: “a inclusão começa na nossa casa”. (Foto: Sebastião Junior)

Além do esporte, Costa destacou a sua família também foi decisiva em seu processo de inclusão, por estimulá-lo a fazer todas as atividades que as pessoas sem deficiência faziam e a não se valer do fato de ser deficiente visual para justificar eventuais “fracassos”. Com isso em mente, ele se formou em fisioterapia e, atualmente, é servidor do Hospital das Clínicas da UFMG.

Na opinião do fisioterapeuta, discussões como a da última segunda-feira são importantes quando vêm acompanhadas de atitudes práticas. “Não adianta vários eventos, precisa fazer as coisas acontecerem”, afirmou. E defendeu também uma participação mais ativa das pessoas com deficiência nas decisões e projetos relacionados ao tema. “Precisa de um pouco mais de política nessa área e que os políticos deixem quem necessita contribuir com a sua opinião, porque é a gente que passa pelo problema. Não adianta eles quererem fazer uma lei para nós. Eles não vão se colocar nos nossos lugares. Precisa dar oportunidade da gente falar e de contribuir nos projetos. Agora, eles precisam acontecer. Eu acho que a inclusão começa da nossa casa. Então, a gente precisa incluir na nossa casa, no nosso trabalho, na nossa universidade e aí a gente cobrar da cidade”, finalizou.

Barreiras estruturais e sociais
Para a estudante do terceiro período de Farmácia da UFJF-GV Alaine Oliveira, 18, a acessibilidade não se refere apenas à mobilidade. “O que mais dificulta é a questão social, de como você vai lidar com a pessoa. A gente que está chegando, independentemente da deficiência, tem essa barreira social, das pessoas terem dificuldade de entender quais as nossas necessidades, o que pode fazer para melhorar. Essa é principal barreira. E depois vem essa parte estrutural, porque a partir do momento que a gente tiver as pessoas entendendo qual é a necessidade, a gente vai conseguir melhorar tudo”.

Para Alaine Oliveira, desafios da pessoa com deficiência vão além das “barreiras estruturais”. (Foto: Sebastião Junior)

Por isso, de acordo com a discente, “o evento esclarece muita coisa e reforça aquela motivação em transformar a cultura, mostrar que o deficiente pode ser incluído na sociedade de uma forma que vai ser benéfica para todo mundo, inclusive para ele”.

Essa mudança de mentalidade é, na opinião de Nápoli, o principal desafio das universidades quando o assunto é acessibilidade. “A ideia é fomentar discussões para que surjam propostas de como reduzir, minimizar e eliminar as barreiras arquitetônicas, de atitudes e de comportamentos que limitam e que acabam impedindo o acesso dessas pessoas à educação e à própria vida laboral”.