O grupo formado por estudantes e servidores da UFJF-GV, além de membros da comunidade apresentou o programa musical Os Ritmos no Natal (Foto: Pedro Drumond)

Natal é rap. Natal é reggae. Natal é blues. É impossível escolher uma única vertente musical para compor a trilha sonora de uma data tão marcante. Foi pensando nisso que o Coral Universitário do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV) elaborou o programa de sua tradicional cantata, apresentada na última terça-feira, 4. Pelo menos 300 pessoas acompanharam o concerto Os Ritmos no Natal, composto de canções natalinas clássicas em versões que passeiam por diversas sonoridades ao redor do mundo.

Na opinião de Camila Carvalho, a acessibilidade é importante em todas as áreas, inclusive na cultura. (Foto: Pedro Drumond)

Essa diversidade chamou a atenção de Camilla Carvalho. “Trazer a cultura de outros lugares é muito interessante para agregar ao nosso conhecimento, pois têm tantas outras culturas que cantam o natal também.”

Cultura acessível
Outro detalhe que deixou Camila muito feliz foi a presença de um intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) traduzindo simultaneamente a apresentação. “Nós não temos em Valadares, até onde eu saiba, nenhum teatro, ninguém que tenha esse cuidado com a interpretação. A inclusão é necessária tanto na cultura, no esporte, em todas as áreas. Então, eu achei uma ótima iniciativa”, afirmou ela, que é presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Governador Valadares.

O responsável por traduzir cada nota e cada verso emitidos pelos 58 coralistas foi Felipe Sabará. O professor de Libras transformou seus gestos corporais em música para cinco pessoas da Associação de Surdos de Governador Valadares (Asugov).

O adolescente Rhuan Braga, 14, é surdo e experimentou pela primeira vez a música em um evento público. (Foto: Pedro Drumond)

Surdo desde o nascimento, Rhuan Braga, 14, não conhece a sensação de ouvir uma canção. Mas engana-se quem pensa que ele não consegue experimentar essa emoção. “Foi realmente emocionante. Consegui sentir e entender toda a música”, afirmou o adolescente, que nunca havia assistido a uma apresentação cultural em Libras.

A cantata também teve um significado especial para a coralista Margarida Oliveira. No grupo desde a sua criação, em 2016, a docente do Departamento de Administração da UFJF-GV afirmou que “ficou emocionada durante a apresentação, por levar esta arte para um tanto mais de pessoas”. E completou: “enquanto coralista, quero cantar e poder alcançar a todos que apreciam os ritmos da maneira que estiver podendo receber.”

O intérprete e tradutor de Libras Felipe Sabará garantiu o acesso do concerto à comunidade surda. (Foto: Pedro Drumond)

Na opinião de Sabará, a presença de pessoas com necessidades de acessibilidade no evento “prova que existe o desejo social de união e confraternização”. O professor ressaltou que “para que isso se efetive, os espaços precisam ser acessíveis”. Ele elogiou a preocupação com as rampas e com a disponibilização da interpretação em Libras, mas destacou que “essas medidas precisam ser adotadas com frequência para que se construa a principal rampa: na mente das pessoas.”

Outras atividades
Apesar de a apresentação do coral ter sido a principal atração da última terça-feira, outras atividades culturais também chamaram a atenção do público, como o dueto de voz e violão dos estudantes de Fisioterapia e Administração da UFJF-GV, Rebeca Cardoso e Daniel Oliveira, e a discente de Medicina Roberta Pamplona, que declamou um poema de Carlos Drummond de Andrade. Além disso, todos que chegavam ao hall do auditório puderam conhecer um pouco da trajetória do campus contada pelo projeto História em Movimento.

Os estudantes da UFJF-GV Rebeca Cardoso e Daniel Oliveira também se apresentaram. (Foto: Pedro Drumond)

O próximo concerto do coral é dia 14 de dezembro, na Praça dos Pioneiros. Trata-se da última exibição neste ano, que, segundo a produtora cultural e coordenadora do grupo, Flávia Carvalho, foi de “amadurecimento”, com a ampliação do número de coralistas, e de “ótimas oportunidades”, como a abertura da Festa das Flores e a participação em um festival internacional.