Como é possível fazer pesquisa em Psicanálise? Para pensar essa e outras questões, o 5º Seminário de Integração em Psicologia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), promove a mesa-redonda “Psicanálise e Universidade: subversão do saber em tempos de cólera”. A discussão vai estar por conta das professoras convidadas Maria Anita Carneiro Ribeiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e Vera Maria Pollo Flores, da Universidade Veiga de Almeida (UVA-Rio). O encontro encerra o seminário e ocorre nesta sexta-feira, 7, às 10h, no Anfiteatro I do Instituto de Ciências Humanas (ICH).

O evento acontece durante toda a semana, é gratuito, aberto a todos e não necessita de inscrição prévia. Nesta quarta-feira, 5, a programação conta com apresentação de trabalho, avaliações de linhas de pesquisa e a palestra “A divulgação científica na Psicologia, com a professora Lisiane Bizarro Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Já na quinta-feira, a primeira atividade, às 10h, apresenta a discussão sobre o “Rigor metodológico na pesquisa qualitativa”, com o professor Marcelo Della Vecchia, da Universidade Federal de São João del-Rey (UFSJ).

Segundo a professora da UFJF e mediadora da mesa “Psicanálise e Universidade”, Alinne Nogueira Silva Coppus, as professoras convidadas são referências na interface entre clínica e universidade. “Temos alguns psicanalistas, mas ainda poucos, que pesquisam a partir da clínica psicanalítica, então, é importante mostrar ao estudante que a pesquisa em psicanálise é prática e possível. Com esse evento, queremos mostrar que a psicanálise é um lugar possível a quem tem interesse por ela.”

Tempos de cólera, subversão do saber e psicanálise na universidade

Sobre o que seria a subversão do saber em tempos de cólera a partir de uma reflexão psicanalítica, Alinne observa que “existe um discurso muito duro nos últimos tempos em qualquer lugar. Um saber subversivo, então, estaria no sentido de não ser um saber quantificado e tabelado”. Partindo do princípio de que a psicanálise trabalha com o caso a caso e não permite generalização, Alinne avalia que as formas possíveis para a pesquisa psicanalítica “são o método qualitativo, os estudos de casos e os próprios impasses que a clínica apresenta”.

Em relação à escolha do tema, a professora justifica que a abordagem de tempos de cólera é devida à predominância de um discurso em que não há espaço para a diferença. “Lembrando Freud, com o narcisismo das pequenas diferenças, a gente tem uma agressividade muito grande, uma reação agressiva ao que não funciona. A psicanálise trabalha justamente a partir da singularidade, do que foge à regra, do que não funciona e do que não se adapta. Tudo isso também é capaz de gerar saber, não só aquele de pesquisas e artigos científicos, mas um saber que é capaz de transformar a vida.”

Alinne propõe ainda uma avaliação a partir dos quatro discursos pensados pelo psicanalista francês Jacques Lacan: o discurso universitário, o do mestre, o da histérica e o do analista. Ela explica que, atualmente, no ambiente universitário, há “uma hegemonia do discurso do mestre, que é aquele que acredita numa colagem entre o saber e a verdade. Com isso, temos um saber virando produto, algo mecânico.”

Junto a isso, a professora acredita que o sujeito precisa ser levado em consideração, porque coloca em xeque a suposta precisão da generalização.  Ela pondera que a psicanálise vai contra a anulação do desejo e a forma produtivista imposta pelo meio acadêmico, e sua transmissão só acontece por ceder espaço à fala do estudante. “Só é possível se consigo usar o não conhecimento, o não saber e a falta como motor para que o próprio aluno busque o conhecimento. Quando a psicanálise questiona a ideia do saber como mestre, aquele em que o saber equivale a verdade, ela é subversiva”.

O Seminário reúne estudantes da graduação e pós-graduação e conta com convidados externos que são referência em suas áreas de pesquisa e atuação. A programação é distribuída em palestras, mesas-redondas e avaliação de projetos de pesquisa.

Outras informações: Programação do Seminário