Enfermeiro do HU, Cosme Laurindo, abordou dados de racismo estrutural e de homicídios no Brasil em 2018 (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Buscando refletir sobre a violência como um fenômeno complexo e um problema de saúde pública, a palestra “Abordagem da violência contra jovens negros na atenção básica” integrou a programação da Semana da Consciência Negra, nesta segunda, 26, na Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Proposta pelo Coletivo Liberdade, a palestra foi ministrada pelo enfermeiro e residente do Programa de Residência Multidisciplinar em Saúde Mental do Hospital Universitário (HU-UFJF/Ebserh), Cosme Rezende Laurindo. De acordo com ele, o interesse por abordar a temática surgiu por uma inquietação em relação à sua formação. “Durante o curso, a gente ouve falar sobre as dificuldades que enfrentaremos na prática, mas quase nunca discutimos sobre o que justifica tais dificuldades. De que maneira eu, enquanto profissional e indivíduo inserido na sociedade, posso superá-las?”

Laurindo fez uma discussão acerca dos dados do Mapa da Violência 2018, que constata que a taxa de homicídios de negros (pretos e pardos) no Brasil foi de 40,2%, enquanto a de não negros (brancos, amarelos e indígenas) é de 16%. Para o enfermeiro,  falar sobre violência contra a juventude negra, perpassa pela discussão de racismo estrutural, necessitando construção de conhecimento quanto aos espaços em que pessoas negras ocupam atualmente. De acordo com ele, é preciso tratar do assunto no campo da saúde, sobretudo na área de enfermagem, uma vez que violência vai além da agressão física e está enraizada em tudo que fundamenta nossas relações cotidianas. “Precisamos ter dimensão também da violência subjetiva e simbólica porque isso implica em todo nosso processo de convívio e abordagem profissional”, explica.

Formar profissionais da saúde com um olhar diferenciado para entender as individualidades de cada paciente que procura o serviço de saúde pública, segundo Laurindo, é primordial para romper um ciclo de preconceito e discriminação no atendimento. “A pessoa que procura o Sistema Único de Saúde (SUS) está ali porque quer ser vista e ouvida. Parar de enxergar o outro como ser humano também é uma forma de violência que afeta diretamente a vida daquela pessoa”. Para o palestrante, as pessoas negras, sobretudo jovens, são as que mais sofrem discriminação quando buscam atendimento. “Na sociedade em que vivemos já estamos tão imersos em preconceitos que reproduzimos pequenas violências cotidianas sem nos darmos conta. Essas formas de distanciamento afetam ainda mais certa parcela da população. E essa parcela tem cor, classe social e vive em determinados locais da cidade”.