O processo criativo de Arlindo Daibert vem à tona com o lançamento do livro “Diário: excertos” (Selo Mamm/2018) marcado para sexta-feira, dia 23, às 19h30, no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm). A publicação póstuma traz trechos do diário do artista, e a organização do livro é de responsabilidade de Júlio Castañon e Ronald Polito.
Nos fragmentos selecionados, destaque para as anotações do artista sobre seu trabalho, relatos sobre visitas a museus e mostras pelo Brasil e pelo mundo, além de comentários sobre arte e algumas ilustrações originais. O critério para a seleção, segundo Ronald Polito, foi escolher “elementos que revelam o seu processo artístico”.
Para o lançamento também será inaugurada uma mostra em sua homenagem, “Retratos do Artista: Arlindo Daibert”. Desdobramento do livro, a exposição traz um vasto material pessoal, com trechos de seu diário, além de fazer um apanhado crítico e biográfico, apresentando as interfaces de sua obra com a literatura e o perfil do artista na tradição das artes visuais brasileiras.
O atual volume nasceu de uma seleção a partir dos cadernos de textos de Daibert, que, após a sua morte, foram parar nas mãos de Castañon, no Rio de Janeiro. O livro abarca um período de 20 anos de vida do artista, com textos de 1973 até 1993. A intenção foi captar fragmentos de todos os anos de escrita do artista sem privilegiar nenhuma época específica.
De acordo com Polito, o maior desafio do processo foi decifrar a caligrafia de Daibert e transpô-la em uma fonte de fácil entendimento. O esforço construiu uma coletânea de trechos de diário que “será importante para as teses científicas e demais estudos que serão desenvolvidos daqui para a frente”, tendo em vista que o trabalho do artista já foi, muitas vezes, objeto de estudo para conclusões de graduações e pesquisas de mestrados e doutorados.
A mostra
A exposição na galeria Poliedro do Mamm apresenta Arlindo Daibert através de memórias que relembram sua vida e trajetória como artista. A mostra apresenta, em vitrines, documentos, trechos de diário, cartas, fotografias, relatos de exposições e eventos de que participou e cartões postais compartilhados por Arlindo com a família, os amigos e outros artistas. Nas paredes serão expostas algumas obras do próprio Daibert.
Além disso, devido ao fato de ter sido um dos maiores responsáveis por trazer a Juiz de Fora as coleções bibliográfica e de artes visuais de Murilo Mendes, alguns textos do poeta, bem como documentos deste resgate, também serão exibidos como uma forma de homenagear Daibert, agradecendo-o pela iniciativa.
O artista
Conhecido por seu trabalho como desenhista, gravador e pintor, Arlindo Daibert nasceu em Juiz de Fora, em 1952, e formou-se em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 1973. Logo após sua formação acadêmica, estudou gravura em Paris, no Atelier Calevaet-Brun. A vocação para as artes visuais e o apreço pela literatura formam a substância de sua obra.
Com seus trabalhos, participou de diversas mostras internacionais, em espaços prestigiados como a galeria da Casa do Brasil, em Roma; o Brazilian Centre Gallery, em Londres, e a Galeria Vicent Bernat, em Barcelona.
Destacam-se sobretudo suas séries sobre Alice no País das Maravilhas, Macunaíma e Grande Sertão Veredas, que integram o acervo de Gilberto Chateaubriand, atualmente de posse do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). O Museu de Arte de São Paulo (MASP) também possui algumas obras do artista juiz-forano.
Nos anos 1980, Arlindo Daibert ingressou no Departamento de Artes da UFJF, a partir do qual empreendeu o projeto de catalogação do acervo do poeta Murilo Mendes. Daibert foi peça fundamental nas conversas da Universidade com a viúva do escritor, Maria da Saudade Cortesão, e no fechamento do acordo que repatriou a biblioteca e o acervo de artes visuais do poeta.
Seu papel como professor também foi importante, formando várias gerações de artistas juiz-foranos.
O Museu de Arte Murilo Mendes fica na Rua Benjamin Constant 790, no Centro.
Outras informações: (32) 3229-9070 – Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm)