Equipe do projeto (da esquerda para a direita): Fabíola da Silva, Matheus de Oliveira, Raquel Mendonça, Fábio Prezoto, Lucas Simão, Amanda da Silva, Micaela Mendes, Lívia Vidigal, Geovana Onorato e Júlia Luz. (Foto: Twin Alvarenga)

O clima é de tensão. Uma pessoa foi brutalmente assassinada. Cada detalhe da cena do crime oferece pistas para que esse homicídio seja solucionado: o padrão dos respingos de sangue nas paredes do quarto podem revelar o tipo de arma utilizada, já a presença de diferentes espécies de insetos se reproduzindo no corpo em decomposição indicam quando o assassinato se concretizou. Vários filmes e séries com temática criminal mostram o processo de investigação forense. Uso de produtos químicos para revelar marcas de sangue, coleta de impressões digitais, análise do cadáver… Mas será que é assim que acontece na prática? Quais são os métodos utilizados na vida real para desvendar um crime? Para responder essas e outras questões, o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e orientador da disciplina de Entomologia Forense do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Fábio Prezoto, desenvolveu um trabalho em conjunto com os alunos envolvendo episódios da conhecida série CSI (Crime Scene Investigation).

Esse projeto é oriundo da disciplina que possui grande apelo devido aos seriados televisivos que mostram o trabalho da perícia em cenas de crime e a participação dos insetos e outros animais nas investigações, o principal foco da pesquisa realizada. Segundo o professor, a entomologia forense tem suas especificidades e a sua presença em séries criminais acaba por motivar a introdução do conhecimento da ciência às pessoas. Analisar a aproximação da realidade da prática da entomologia com o que é apresentado na série trouxe a possibilidade de mostrar aos alunos que esses episódios possuem um papel importante enquanto divulgadores da ciência forense, e, ao mesmo tempo, despertam os estudantes para o entendimento de que nem sempre há uma equivalência das informações apresentadas com a realidade.

Os alunos se envolveram ao máximo no trabalho levando os episódios para serem discutidos dentro de sala. Principalmente na parte criminalística de uma investigação, segundo a aluna Fabíola da Silva, quando um corpo é encontrado, há uma certa dificuldade em se tirar conclusões como a causa da morte ou o tempo de permanência do corpo no local onde foi encontrado, apenas observando a cena. Para que seja possível a identificação de diferentes características presentes, o uso dos insetos é uma ferramenta eficaz e se dá através da análise do seu ciclo de vida. Inicialmente, os insetos são coletados após a retirada do corpo do local do crime e são levados para cultivo em laboratório, onde são oferecidas condições de desenvolvimento e reprodução que sejam compatíveis com as presentes no ambiente onde foram encontrados. Com isso, é possível dar continuidade ao ciclo de vida e saber em qual fase de desenvolvimento o inseto se encontrava, possibilitando a descoberta do tempo decorrido desde a morte até o encontro do cadáver e outras características como se houve deslocamento do cadáver, se a morte foi violenta, se feridas foram causadas por algum tipo de instrumento, se havia presença de substâncias químicas no corpo, etc.

A partir das análises realizadas, os alunos juntamente com o professor chegaram à conclusão de que há discrepâncias nos exemplos utilizados nos episódios de CSI, mas, isso se deve ao objetivo da série: o entretenimento. É necessário que a mensagem seja entendida pelo público, e por isso a linguagem deve ser de fácil compreensão. Mas, apesar de alguns erros, há ainda elementos que correspondem ao processo real de investigação. Um dos episódios escolhidos, segundo o aluno Lucas Vilela, apresentava uma mulher cuja cabeça foi prensada em um forno de padaria, causando queimaduras graves na vítima. A perita responsável pela investigação no episódio, retirou uma amostra da queimadura que foi colocada em lâmina e após uma análise simples em microscópio óptico, houve a identificação da presença de uma levedura e incrivelmente a sua espécie, o que não é possível ser feito através do procedimento utilizado. Para que seja possível a identificação de uma espécie, é necessário que haja micro cultivo da levedura seguindo técnicas micológicas.  Segundo a aluna Geovana Onorato, há dúvidas quanto à tradução da série, mas, para um produto que tem como fim o entretenimento, não é algo descartável pois há informações que passam por um crivo mais esmiuçado.

Apesar da pesquisa se ater à episódios onde há a ocorrência de mortes, existem outros casos em que há o uso do inseto como um auxílio na resolução de problemas relacionados à crimes ambientais e contra o consumidor. A aluna Raquel Mendonça relata que é possível descobrir desde um inseto presente dentro da embalagem de algum alimento e a sua procedência até se um caso de uma árvore que cai em cima de um carro tem como responsável a presença de cupins que consumiram a madeira ou a negligência do próprio motorista. Para os estudantes de Biologia, estudar esse tipo de assunto e ter formas de mostrar a rotina do pesquisador forense é importante para a valorização da profissão e a divulgação da ciência fazendo com que o público se interesse por essa área de estudo. Para o professor Fábio Prezoto, o momento mais gostoso da semana era quando tinha aula com o grupo: “Procurei desenvolver atividades que saíssem do convencional das aulas expositivas, trazendo desafios para os alunos que foram a peça fundamental para alcançar esses resultados”. O resultado do projeto foi submetido ao XXXVI Encontro Anual de Etologia e será apresentado em novembro na cidade de Ouro Preto.