Professor Francisco Mendonça, da UFPR, propôs a reflexão sobre como nossas relações sociais estão fortemente marcadas pela relação com o clima (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

O que é o clima? A questão pode parecer simples ou, pelo contrário, aberta a muitas possibilidades e respostas. Para o professor Francisco Mendonça, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a indagação é abrangente e deve ser pensada sob um ponto de vista crítico. A discussão integrou mesa redonda “Climatologia: qual a função da climatologia no que tange às alterações climáticas e às diferentes formas de análise”, nesta quinta-feira, 8, do 13º Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica (SBCG), na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Pela primeira vez realizado na UFJF, o SBCG traz como tema principal “A Climatologia Geográfica Brasileira: o ensino, os métodos, as técnicas e os desafios para o século XXI”. O assunto foi pensado para viabilizar a discussão dos principais eixos da área. O objetivo principal do encontro é debater sobre a metodologia e as bases que embasam a climatologia geográfica brasileira.

Mendonça refletiu sobre como a ideia de função está ligada à questão de contribuições. “A função seria colocar no centro da reflexão um ponto de vista crítico. Mudança climática é um dos temas mais importantes do mundo e tem origem científica. Contudo, é um tema de forte apelo social, porque o clima tem impacto direto sobre todas a atividades humanas, desde produção agrícola até vestuário e doenças. Nossas relações sociais estão fortemente marcadas pela relação com o clima.

Ele enfatizou ainda que, para alcançar uma posição crítica em relação às mudanças climáticas, é preciso ter um pensamento contextualizado e ir além da ciência atmosférica e da climatologia, levando em consideração fatores socioeconômicos. “Havendo ou não mudanças climáticas, o problema da humanidade é a exacerbação da pobreza e da miséria. Se não houver mudança climática alguma, mas nos depararmos com chuvas constantes, o que é comum nos climas tropicais, por exemplo, entre outubro e abril, todas as populações mais pobres, que vivem em condições de riscos, estarão sujeitas a perder casa, bens ou adquirir doenças.”

A descolonização do saber também foi ressaltada pelo professor como uma forma de avançar no debate científico sobre o clima. De acordo com ele, é importante que a ciência avalie as mudanças climáticas a partir da formação de rede para trocas de informações em diferentes níveis, seja nacional ou internacionalmente. “Estamos num momento em que é necessário inserir o ponto de vista das sabedorias tradicionais, com meios que a ciência moderna não deu muita importância. Temos o exemplo dos profetas das chuvas, do conhecimento indígena sobre o clima da área em que vivem há tanto tempo.”

Integração
Para a professora do curso de Geografia da UFJF e especialista em climatologia, Cássia Ferreira, o simpósio é um momento que congrega o pesquisador em suas diferentes etapas de formação. “Estamos contando com os principais estudiosos na área da climatologia do Brasil. Isso faz com que a gente abarque todo esse conhecimento na UFJF, o que contribui muito para trocas de novos métodos e técnicas inovadoras para a discussão e a prática da climatologia.” Segundo ela, o balanço do evento até então é positivo, já que estudantes de diferentes níveis, entre graduandos, bolsistas de iniciação científica e pós-graduandos têm a chance de se integrarem.

O professor Francisco Mendonça pesquisa Geografia e meio ambiente na UFPR a partir de quatro linhas de pesquisa: Clima e Saúde; Clima e Cidades: planejamento urbano; Epistemologia da Geografia e Relação Social e Meio ambiente. Junto a ele, participaram da mesa de debates o professor Jackson Rodrigues, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a professora Eleonora Sad de Assis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O encontro é realizado no Instituto de Ciências Humanas e recebe pesquisadores nacionais e internacionais que participam de mesas redondas, grupos de discussões e conferências. A programação inclui apresentações de trabalhos acadêmicos, minicursos e atrações culturais ao longo dos cinco dias de evento, além de espaço para confraternização entre os participantes. O simpósio teve início na terça, 6, e vai até sábado, 10 de novembro.

Outras informações
(32) 2102-3102 (Instituto de Ciências Humanas)