“As máquinas ainda não substituem o raciocínio lógico”, reforça Escher. (Foto: Rafael Rezende)

Quantos anos têm o conhecimento matemático que é reproduzido nas salas de aula? Mais de dois mil anos, informou o professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marco Antônio Escher, para 84 alunos do ensino médio da Escola Estadual Engenheiro Henrique Dumont, localizada no município de Santos Dumont. A visita, ocorrida nesta quarta-feira (07), faz parte do projeto “A ciência que fazemos”.

Mas, do primeiro registro formal – a obra “Os elementos”, escrita pelo grego Euclides a aproximadamente há 300 a.C. – até os dias de hoje, a Matemática se atualizou e se transformou. Escher, que trabalha com a formação de professores da disciplina na UFJF, observa como o seu ensino deve se adaptar aos novos recursos tecnológicos que surgem, desde as já tradicionais calculadoras aos recentes aplicativos de celular, capazes de resolver contas e equações.

A polêmica do uso ou não das novas tecnologias despertou interesse e provocou reflexões entre os alunos e os profissionais da escola. “Achei muito interessante. Como a diretora, a vice-diretora e professores estavam presentes, eles podem tentar aplicar o que o palestrante disse, como elaborar provas usando a tecnologia para fazer experimentos matemáticos, não ficar só no papel e na teoria”, considera o aluno do 1º ano, Henry Meirelles, que pretende cursar Medicina. A ideia é reforçada pela professora Viviane Lívia Chagas. “Ele mostrou a Matemática de forma mais lúdica, de modo que os alunos tenham mais interesse, usando a tecnologia, que hoje é primordial na vida deles”, opina Viviane.

Mas, ainda que a tecnologia possa contribuir na resolução das questões, a participação do homem segue indispensável. Para demonstrar isso, Escher pediu aos adolescentes para descobrirem com o uso da calculadora o menor e o maior produto possível de ser gerado a partir da multiplicação de dois números criados com a combinação dos algarismos de 1 a 5. O erro de alguns estudantes e o acerto de outros reforçou a importância do desenvolvimento do raciocínio lógico, pois a máquina é incapaz de resolver sozinha o desafio proposto.

A aluna Renata Dias aprovou a apresentação. “Foi excelente o conhecimento que a gente teve, para não ficar apenas na aula com giz, quadro e papel”. Escher, que já lecionou em escola pública, lembra a importância de abordar a Matemática de formas diferenciadas, sobretudo devido à dificuldade que muitos estudantes apresentam com a disciplina. “Essa conversa é para tentar tirar alguns preconceitos existentes frente à ela. Mostrar que a Matemática aprendida em sala de aula é uma produção dos homens e está à serviço da sociedade”, relata o pesquisador.

A ciência que fazemos

Criado em 2017, o projeto “A ciência que fazemos” visa levar pesquisadores às escolas de Juiz de Fora e região, com a intenção de desmistificar a imagem do cientista e aproximar a universidade dos jovens. “É uma maneira de mostrarmos o quanto a universidade pública está à disposição dos alunos e da própria escola”, opina Escher.

Durante a apresentação, o professor relatou que toda a sua formação ocorreu em instituições de ensino públicas. “As pessoas que trabalham na universidade passaram pelos mesmos espaços que os alunos ocupam hoje. E, sendo assim, é possível que eles mesmos possam estar dentro da universidade em outro tempo”, conclui.