Anielle Franco, irmã da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano, participa do evento (Foto: Arquivo Pessoal)

Em tempos de ataques a ativismos, direitos humanos, conquistas e liberdades, é com resistência que o Coletivo Marielle Franco, projeto de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), promove o seminário que busca discutir todas as formas de violência contra a mulher no ambiente acadêmico. O evento “Sororidade e Resistência – enfrentamento às violências contra a mulher na universidade” será realizado no dia 8 de novembro, das 14h às 21h, no anfiteatro Christiano Degwert, na Faculdade de Engenharia, reunindo pesquisas sobre a temática, poesia, apresentação de documentário, performances artísticas e musicais.

O seminário é aberto a toda a comunidade. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas até o dia do evento, pelo link. Também serão aceitas inscrições no local, estando a entrada sujeita à capacidade do anfiteatro.

Segundo uma das organizadoras e integrante do Coletivo Marielle Franco, Carolina Bezerra, o encontro foi pensado no sentido de dar visibilidade à temática do assédio e outras violências contra mulheres nas universidades, tanto no âmbito local/regional, quanto no nacional. “O seminário foi pensado como uma atividade de formação tanto das integrantes do grupo quanto da comunidade acadêmica da UFJF, além de simbolizar o lançamento do coletivo que começou a se mobilizar este ano.”

Ainda segundo a professora, discutir o assédio e violência contra a mulher no atual contexto político é “extremamente desafiador”. “Precisamos pensar as discussões na perspectiva de defesa dos direitos humanos, de luta pela democracia e pela defesa dos direitos das mulheres. Penso que as mulheres são aquelas que primeiramente serão alvo, a partir deste discurso racista, machista e homofóbico que está se configurando dentro de um setor e grupo político da sociedade brasileira. Discutir assédio é discutir o papel da mulher na sociedade contemporânea neste contexto político.”

Programação

Entre as atrações, programação traz artes cênicas com o grupo As Ruths (Foto: Divulgação)

Para discutir as “Violências na Universidade: solidariedade, articulação e enfrentamento”, o evento recebe a pesquisadora Ana Flávia d’Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), um dos principais nomes do país na temática da violência de gênero e saúde da mulher. Docente da Faculdade de Medicina da USP, Ana Flávia tem mais de 20 anos de experiência na área, tanto do ponto de vista teórico, como pesquisadora, quanto prático, como médica, atendendo mulheres vítimas de violência física, sexual, moral e psicológica. “Quando uma mulher sofre um estupro, a primeira coisa que fazem é analisar sua vida. A vítima não precisa ser inocente para ser vítima. Ninguém merece apanhar, ninguém merece ser torturada, ninguém merece ser estuprada”, disse no evento USP Talks.

Para apresentar dados preliminares do levantamento que está sendo realizado na UFJF, a pesquisadora Célia Arribas, do Departamento de Sociologia e diretora do Centro de Pesquisas Sociais (CPS), participa da mesa “Entre salas, corredores e laboratórios: percepções das/dos estudantes sobre violência contra as mulheres no ambiente universitário”.

De acordo com Célia, a pesquisa busca captar a percepção de como a comunidade acadêmica entende a violência contra a mulher. “Temos pouquíssimos estudos sobre o tema. Na pesquisa, buscamos uma percepção sobre o que alunos consideram violência contra a mulher.” Ainda conforme Célia, a pesquisa surgiu a partir da confluência de interesses entre alunas da graduação em Ciências Sociais e a necessidade de produzir dados sobre o tema, a fim de embasar políticas. “Esperamos que os dados possibilitem a formulação de políticas internas e institucionais, com o objetivo de minimizar essas violências, para que tenhamos um ambiente com menos desigualdades entre homens e mulheres.”

Irmã da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano, Anielle Franco também participa de mesa-redonda, discutindo “O que a Maré nos ensinou”. Mestre em Letras e Jornalismo, Anielle irá falar sobre a trajetória da irmã, “mulher, negra, mãe e cria da favela da Maré”, como gostava de se identificar, lembrando que foi após perder uma amiga, vítima de bala perdida no Complexo da Maré, que Marielle iniciou sua militância em direitos humanos.

Documentário

Diretora do documentário “Precisamos falar de assédio (2016)”, Paula Sacchetta, participará de um bate-papo com o público, após exibição do filme (Foto: Arquivo pessoal)

O documentário Precisamos falar do assédio (2016), dirigido por Paula Sacchetta, será outra atração da tarde, seguido de bate-papo com a diretora. O documentário é resultado de um experimento social realizado durante a Semana da Mulher, em 2016, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma van-estúdio estacionou em nove locais para coletar depoimentos voluntários de mulheres que tivessem sido vítimas de algum tipo de assédio. Ao todo, foram 140 relatos de mulheres com idades variando de 15 a 84 anos, de zonas nobres ou periferias das duas cidades, que nada têm em comum além de terem sofrido alguma violência.

Atrações artísticas e culturais
O evento também traz diversas atrações, com a poesia de Duda Masiero e Laura Conceição e performances das artistas Priscilla de Paula, Fernanda Vivacqua e Anelise Freitas. Haverá ainda artes cênicas com o grupo As Ruths e apresentações musicais com o grupo Batuquedelas, com encerramento de Joana Machado.

Confira a programação:

 

Outras informações
Sororidade e Resistência