Juiz de Fora se encontra entre as cinco cidades mineiras com maior déficit habitacional, segundo a Fundação João Pinheiro. De acordo com o Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mais de nove mil domicílios da cidade apresentam inadequação habitacional. As Áreas de Especial Interesse Social da cidade, reconhecidas como espaços carentes nas condições de infraestrutura, cresceram 60% no período de 1996 a 2006. Com objetivo de promover atendimento técnico de qualidade em engenharia e arquitetura para estas comunidades em situação de vulnerabilidade social, o Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de Engenharia (Nasfe) atende famílias com renda de até três salários mínimos, prestando assistências técnicas e consultorias gratuitas para problemas e projetos de engenharia.

O núcleo possui duas vertentes principais: a de atendimento à comunidade, com caráter extensionista, e a de pesquisa. Na primeira, o grupo recebe demandas da sociedade por determinados problemas relacionados principalmente à engenharia civil. O processo se dá primeiramente com os integrantes do núcleo fazendo visita de campo para coleta de dados. Posteriormente, esses dados são analisados na Universidade, e os resultados auxiliam no desenvolvimento de uma proposta de solução baseada no tipo de problema. Já na segunda vertente, o foco é no grupo de pesquisa que, baseado nas situações observadas, faz um estudo de caráter multidisciplinar entre a Faculdade de Engenharia e a Faculdade de Direito, com objetivo de buscar novos métodos para a solução desses problemas.

Segundo o coordenador do Nasfe, Jordan Henrique de Souza, é preciso desmistificar a imagem de que a pesquisa é apenas inserida no cenário de um cientista dentro de um laboratório, criando experimentos. “Devemos pensar que a pesquisa, especialmente em nosso país, tem graves problemas históricos desde a colonização. Precisamos desenvolver novos métodos, novos instrumentos, novas abordagens para resolver determinados problemas, principalmente de cunho social, que assola a grande maioria da nossa população.”

O grupo busca fazer não só um estudo histórico da ocupação analisada, mas também observar com atenção os condicionantes físicos presentes na comunidade onde a mesma está inserida. Segundo Souza, é muito comum uma cidade não ter áreas seguras disponíveis para toda a população e, portanto, “o que sobram são as encostas íngremes, as áreas próximas aos cursos d’água”. “Então, a nossa pesquisa está não só em estudar fatores como o solo, como a própria qualidade habitacional e a salubridade das edificações”, acrescenta.

Lutando contra desigualdades
O processo de ocupação do território brasileiro foi feito de maneira desordenada ao longo de décadas. De acordo com o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UN-Habitat), a população urbana cresceu cinco vezes entre 1950 e 2011 em todo o mundo. Esse crescimento descontrolado resultou na ocupação de áreas impróprias para a habitação humana, criando diversos problemas para comunidades de baixa renda. O Nasfe oferece uma série de serviços – como usucapião, projeto arquitetônico, regularização arquitetônica, verificação de medidas de terreno, vistoria técnica, perícia judicial, elaboração de projeto elétrico e hidráulico e orçamento de materiais de construção – de forma gratuita para famílias que recebem até 3 salários mínimos, com o objetivo de tentar diminuir a grande desigualdade social presente entre a situação habitacional de ricos e pobres.

A vice-coordenadora do Nasfe, Gislaine dos Santos, destaca que um dos momentos mais gratificantes é ver a felicidade das famílias quando conseguem resolver seus problemas habitacionais pelo núcleo. “Essas famílias têm grande necessidade de se sentirem parte da sociedade. Quando estão em uma situação irregular, elas se sentem isoladas. Quando têm oportunidade de acesso a um serviço desse de forma gratuita, elas se sentem incluídas. O trabalho promove um senso de pertencimento muito grande”, revela.

Depois de realizar os projetos do núcleo, os trabalhos acadêmicos são embasados em casos reais e os estudantes conseguem retornar para as famílias um trabalho necessário para a população. “Os alunos conseguem ter a percepção da importância do trabalho da engenharia ao ajudar famílias de baixa renda. Conseguem se realizar no âmbito acadêmico ao produzir trabalhos com temáticas reais, enfrentar dificuldades que, muitas vezes, no contexto da sala de aula não são possíveis”, pondera Gislaine.