Ciência para a redução das desigualdades: este é o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) deste ano, que acontece entre os dias 15 e 20 de outubro. Em sintonia com a temática, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) faz parte da celebração da SNCT e, por meio de uma série de matérias especiais, divulga as pesquisas no campus que aproximam a ciência e a comunidade.

A malária é uma doença parasitária que assola a humanidade há milhares de anos. O termo vem do italiano medieval: mala aria, “maus ares”, em português. Existem hipóteses de que essa parasitose foi um dos fatores que contribuíram com a queda do Império Romano. Já no Brasil, nas décadas de 30 e 40, todo território sofria com a proliferação da doença. Foi só em 1965, quando foi criada a Campanha de Erradicação da Malária (CEM), que o país começou a lutar mais fortemente contra a doença. Nos anos 80, o principal tratamento para combatê-la era o medicamento cloroquina, mas o seu uso incorreto fez com que os parasitas se tornassem resistentes à essa droga. Atualmente, outros fármacos estão sendo utilizados, porém os parasitos sofrem processos de mutação muito rápido, facilitando o processo de resistência aos medicamentos. Além disso, a busca por uma vacina eficaz ainda é um desafio para pesquisadores do mundo todo.

A busca por novas formas de tratamento e prevenção
Com objetivo de descobrir novas drogas que tenham o efeito antimalárico e procurar formas de desenvolver uma vacina, a professora Kézia Scopel, do Laboratório de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), coordena duas linhas de pesquisa focadas no estudo da malária. “Uma delas é em quimioterapia experimental da malária, feita apenas no modelo in vitro da doença, onde buscamos a prospecção de novas drogas com ação antimalárica. A outra linha de pesquisa é mais voltada para o conhecimento da resposta imune dos indivíduos a esses parasitos”, revela Kézia.

O grande interesse é descobrir novos compostos que possam, em um futuro próximo, ser utilizados como uma outra alternativa de tratamento, já que os parasitos se tornam resistentes muito rápido aos medicamentos disponibilizados atualmente. “Nós recebemos as drogas, que podem ser de origem sintética ou de origem natural. Então, elas são levadas ao laboratório de parasitologia e lá fazemos a triagem da ação delas in vitro, ou seja, em um modelo artificial, não testado em humanos”, esclarece. A pesquisa é feita na espécie Plasmodium falciparum, responsável por 99% dos casos de óbitos que ocorrem pela malária, anualmente, em todo o mundo.

A outra pesquisa é voltada para a resposta imune e tem como foco a produção de uma vacina antimalárica. A busca por ela continua sendo um desafio muito grande, até porque o parasita detém polimorfismo genético, o que dificulta o desenvolvimento de uma vacina eficaz. “Nós estamos testando, em laboratório, alguns protocolos de imunização e avaliando se quando nós usamos um parasito com grau de virulência baixo, nós conseguimos proteger o animal do desenvolvimento de um quadro grave de malária: a malária cerebral”, afirma Kézia. Existem na natureza grupos de parasitos que infectam o indivíduo, mas não levam a um quadro muito grave. Porém, também existem aqueles que rapidamente levam a um desenvolvimento de um quadro grave. “Então, se eu preparo uma vacina e desenvolvo um protótipo vacinal usando um parasito de baixa virulência, será que ele é capaz de proteger contra aquele que é altamente virulento? Isso que a gente tem testado no laboratório atualmente”, explica.

Regiões mais atingidas pela doença
A malária é a doença parasitária que mais mata no mundo e está presente, predominantemente, em áreas tropicais e subtropicais, onde a umidade elevada e as altas temperaturas oferecem todas as condições adequadas para introdução doenças parasitárias e para sua manutenção. Segundo o World Malaria Report, em 2016 foram registrados 216 milhões de casos de malária e mais de 730 mil óbitos no mundo todo. Já no Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) registrou cerca de 175 mil casos da doença, sendo que 97% ocorrem na região amazônica. As áreas mais afetadas são precárias. Segundo Kézia, a maioria dos casos atualmente “acontecem nos locais onde as pessoas têm pouco acesso a serviços de saúde e de saneamento básico”.

Kézia Scopel afirma que pesquisadores ao redor do mundo estão centrados na busca de uma vacina antimalárica e esta é a estratégia que tem possibilidade de permitir que esta doença seja erradicada globalmente. “Se tivermos investimento adequado e estratégias de controle, e se um dia nós conseguirmos uma vacina, iremos poder melhorar as condições de vida da população, seja no norte do país ou em outras partes do mundo.”