Nesta sexta-feira, 21, é celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Instituída em 1982 por reivindicação dos movimentos sociais, a data foi oficializada em 2005. Para fomentar o debate, o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realiza, em parceria com o Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IFSudesteMG) e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), o 1° Seminário Inclusão Educacional. O evento acontece entre os dias 25 e 27 de setembro na UFJF.

O portal da UFJF entrevistou a coordenadora do NAI e professora da Faculdade de Educação (Faced), Katiuscia Vargas Antunes, para saber mais sobre a atividade e os desafios da inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior.

Professora Katiuscia Antunes avalia os desafios sobre a inclusão (Foto: Alice Coêlho)

Portal UFJF – Entre os dias 25 e 27 deste mês, o Núcleo de Apoio à Inclusão da UFJF, sob sua coordenação,  realizará, em parceria com o Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IFSudesteMG) e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), o 1° Seminário Inclusão Educacional. Qual a importância do evento e da realização em parceria entre as instituições?

Katiúscia Vargas Antunes – Na UFJF e em outras instituições de ensino superior essa questão da inclusão de pessoas com deficiência tem ganhado cada vez mais espaço. Não só por conta de já existirem pessoas com deficiência na Universidade, mas também impulsionada pela Política de Cotas que, em 2017, começou a ser implantada aqui. Então, essa é uma questão que vem sendo discutida em todas as instituições. Em Juiz de Fora especificamente, o movimento tem se dado num crescente, não só aqui na UFJF, mas também no  Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais, que também recebe alunos com deficiência nos cursos técnicos e superiores, além da Prefeitura de Juiz de Fora, que tem uma história enorme na consolidação da política de inclusão no nosso município. A ideia do evento surge a partir de demandas que a gente tem por parte da educação básica e do ensino superior para se discutir e debater a inclusão de pessoas com deficiência. Essa parceria é bem-vinda, porque a gente consegue articular algumas ações, especialmente no campo da formação continuada dos professores que atuam na rede básica e no ensino superior. Essa ideia do Seminário nasceu do movimento para identificação dessas demandas, das demandas comuns, e para promover encontros com profissionais de Juiz de Fora e convidados de outras instituições, para mostrar esses cenários. Além disso, pensar como podemos trabalhar nesse contexto que não é novo, mas que agora está mais próximo de nós, no sentido de promover a inclusão e a acessibilidade dessas pessoas. O Seminário vai acontecer entre 25 e 27 de setembro também por conta de ser na semana do dia 21, que marca a luta das pessoas com deficiência no Brasil.  Nesses três dias teremos palestras e, principalmente, minicursos, para que possamos trabalhar os aspectos pedagógicos das diferentes deficiências que a gente encontra na escola e na Universidade. É um fortalecimento político e das instituições federais de firmar parcerias mais próximas com o município e com o Estado também.

– As inscrições para o Seminário se encerraram rapidamente em dois dias. Isso leva a crer que existe uma grande demanda por conhecimentos nesta área, por parte dos profissionais da educação?

“O que a gente promove, por exemplo, de acessibilidade para um aluno com deficiência pode favorecer a aprendizagem daqueles que não têm” – Katiuscia Antunes

– Sim, existe. Isso é uma coisa que acontece nacionalmente. Eu participei recentemente, em Belo Horizonte, de um seminário promovido pela Associação Brasileira de Reabilitação e aconteceu a mesma coisa: em três dias 250 inscritos no congresso. Aqui não é diferente. Tivemos muito tempo sem trazer essa questão para ser discutida. Então, quando começamos a promover essas ações, desde 2016, aqui na UFJF, quando lançamos o curso de extensão, nós tínhamos 60 vagas e havia mais de 300 pessoas querendo fazer o curso. Com esse Seminário, também foi uma demanda enorme e em pouco tempo as inscrições se esgotaram. Acho que os profissionais que estão atuando nas redes, principalmente na Rede Básica – porque é importante dizer que a procura desse segmento foi muito maior do que de profissionais que atuam no ensino superior – e por conta das questões que estão mais próximas da escola e dos desafios, as pessoas estão buscando, além da formação, um espaço também de diálogo, de conhecer possibilidades de como lidar com esses alunos em sala de aula. A inclusão já acontece desde a década de 1990, a gente vem acompanhando a política e os movimentos, mas o professor que está na sala de aula ainda se sente angustiado diante de alguns desafios de como ensinar esses alunos, de como lidar com eles, que tipo de movimento pode fazer do ponto de vista pedagógico, para favorecer o aprendizado desses alunos. Tem muitos alunos com deficiência na escola, mas que não estão aprendendo. E isso, para o professor, é muito angustiante. Esses momentos de seminário, de cursos, de encontros, são momentos muito procurados, principalmente, para essa troca de experiência. Os professores, acho, também estão um pouco cansados desse movimento muito teórico. Eles sabem teoricamente o que é a inclusão e sua importância. Muitos sabem, mas as práticas precisam ser mais difundidas, as experiências precisam ser compartilhadas.  Nesse Seminário, especificamente, privilegiamos minicursos que tivessem esse contexto, o contexto das práticas pedagógicas. E isso atraiu muitos professores.

– No âmbito da UFJF, esses desafios também estão postos, e o acesso das pessoas com deficiência ao ensino superior é mais recente, se comparado ao ingresso desse grupo na Rede Básica. Gostaria que você, por favor, comentasse os desafios vivenciados aqui, na instituição, e comparasse com o cenário nacional, já que tem participado de eventos em outras universidades.

“Os alunos com deficiência quando chegam, eu costumo dizer que eles colocam um holofote em cima daqueles que estavam invisibilizados, porque começam a mostrar para nós, professores e técnico-administrativos em educação, os desafios que a gente precisa encarar em relação a como lidar com o outro, como lidar com as diferenças” – Katiuscia Antunes

Nunca se acreditou que as pessoas com deficiência pudessem chegar ao ensino superior. O movimento de inclusão é muito grande nas séries iniciais. No ensino médio, é um pouquinho maior. E, agora, no ensino superior temos lidado com essa realidade com um número maior de pessoas ingressando nas universidades. Os desafios são enormes, porque começam pelo próprio contexto da Universidade que nunca trabalhou com uma política inclusiva, se formos pensar. Mesmo antes das políticas afirmativas, o processo seletivo para entrar na Universidade é realmente selecionar uma minoria para fazer parte do ensino superior. E aí com a política de ações afirmativas a gente democratiza o acesso, mas ainda há uma necessidade de a Universidade democratizar de fato as suas práticas em relação à promoção da inclusão e da acessibilidade desse público que ficou de fora do ensino superior. Então, eu vejo que a UFJF não está muito diferente do que está acontecendo em outras instituições federais de ensino. Esses desafios vão desde uma política institucional que seja capaz de trabalhar no sentido de construir espaços acessíveis, políticas de inclusão mais próximas dos cursos, até como isso é discutido no nível da pós-graduação. Temos muitos desafios no sentido da consolidação da política institucional e de uma cultura inclusiva na Universidade. Temos muitos estudantes hoje que abandonam o ensino superior, independente de ter deficiência ou não, porque também encontram dificuldade no seu processo de desenvolvimento acadêmico. Os alunos com deficiência quando chegam, eu costumo dizer que eles colocam um holofote em cima daqueles que estavam invisibilizados, porque começam a mostrar para nós, professores e técnico-administrativos em educação, os desafios que a gente precisa encarar em relação a como lidar com o outro, como lidar com as diferenças. O que a gente promove, por exemplo, de acessibilidade para um aluno com deficiência pode favorecer a aprendizagem daqueles que não têm. Nesse sentido, é uma revisão de conceitos e práticas que passam não só pela gestão, mas também pelas salas de aula, para entendermos quais são as especificidades dos alunos com deficiência e como é que cada curso, dentro do seu campo de formação, pode lidar com isso. Eu estive conversando com o Núcleo de Educação Médica, na Faculdade de Medicina, e eu falava exatamente isso com os professores. Não existe um direcionamento, uma política de inclusão na Universidade, que vá contemplar as especificidades de cada curso, porque é no cotidiano que os cursos vão conseguir desenvolver essas estratégias mais inclusivas. O papel do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI), nesse aspecto, é apoiar esses cursos, apoiar a gestão, para que os professores e os coordenadores possam saber lidar com mais tranquilidade com essa situação e ter um apoio mais especializado das pessoas que vão trabalhar conosco no NAI. Sabemos que não é uma coisa fácil. Neste momento, o trabalho do NAI é muito ‘invisível’, porque estamos trabalhando nessa estruturação. Nós já temos ido a alguns cursos a convite dos Departamentos, das Coordenações, principalmente aqueles cursos que já receberam os alunos com deficiência, para conversar e conhecer também as demandas. Esse trabalho neste momento está muito voltado para pensar a UFJF e conhecer essa realidade aqui na instituição. Não temos dados precisos de quantos alunos com deficiência estudam na UFJF, independente daqueles que entraram pela cota. Antes disso, já tínhamos alunos com deficiência estudando aqui. Conhecer esse cenário é o primeiro movimento que o NAI e a Diretoria de Ações Afirmativas estão fazendo. Cada núcleo de apoio à inclusão se caracteriza e se constitui a partir das demandas da instituição na qual está inserido. Por isso, é importante conhecer a nossa realidade específica. Temos pensado em frentes de trabalho que visam à questão da acessibilidade física, da acessibilidade pedagógica, a construção de uma cultura universitária mais inclusiva, com programas de sensibilização, conscientização. Outra frente que para nós é muito importante é a frente da formação continuada de gestores, de professores e demais servidores para trabalhar com essas demandas novas que chegam.

– Você mencionou que neste momento o objetivo primeiro do NAI é conhecer a realidade da instituição. Caso professores e técnico-administrativos em educação do Núcleo precisem de orientação para atendimento às demandas de alunos com deficiência, como devem proceder?

Oficializamos recentemente a criação do NAI e não temos ainda um espaço físico, mas já temos um canal de comunicação que é o e-mail do núcleo: nucleo.nai@ufjf.edu.br. As pessoas podem nos procurar e a Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), que fica no prédio da Reitoria, também tem acolhido essas demandas e encaminhado ao NAI.  Já tivemos reuniões com coletivos, por exemplo, para saber as demandas deles. Jás estivemos em alguns cursos também. Agora, vamos batalhar para a construção de um site, que entendemos ser o canal mais visível, para que as pessoas possam contatar o Núcleo.

“Temos pensado em frentes de trabalho que visam à questão da acessibilidade física, da acessibilidade pedagógica, a construção de uma cultura universitária mais inclusiva” – Katiuscia Antunes

– Há alguma questão que você queira acrescentar?

Sim, é importante frisar que neste momento precisamos muito da colaboração das coordenações de curso, no que diz respeito ao acolhimento das demandas para encaminhamento ao NAI. Temos entendido que a via mais fácil de chegar às pessoas é pela coordenação, já que ainda não temos sede.

Outras informações: (32) 2102-6919 –Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf)