Pesquisadora Zélia Ludwig mostrou barreiras vencidas para conquistar seu espaço (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

Pesquisadora Zélia Ludwig mostrou barreiras vencidas para conquistar seu espaço (Foto: Iago de Medeiros/UFJF)

“É sutil, é invisível, mas as barreiras estão lá.” A professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Zélia Ludwig, falou nesta quarta, 22, sobre as desigualdades de gênero e raça que permeiam o cenário científico brasileiro. A palestra “Empreendedorismo de Mulheres Negras Cientistas: Desafios e Conquistas” faz parte da “II Semana Sem Fronteiras”, organizada pelo núcleo dos Engenheiros Sem Fronteiras de Juiz de Fora.

Mulher, negra, mãe e cientista, Zélia enfrentou estigmas e barreiras para conquistar o espaço que hoje ocupa. Reconhecida internacionalmente na comunidade acadêmica por trabalhos como o realizado em parceria com a Nasa, a pesquisadora fez de sua trajetória uma marca de representatividade e resistência. “Certa vez, quando dei uma das minhas palestras para crianças, falei sobre as dificuldades que eu tinha para chegar até a USP todos os dias para me formar, pegando ônibus e metrô. Elas prestaram atenção em mim imediatamente. Isso aconteceu porque elas se sentiram identificadas com aquilo, porque passavam pela mesma rotina para chegar até a escola”, relatou.

Por meio de gráficos e relatos que escancaram as desigualdades de gênero e raça presentes na academia, a professora expôs uma realidade que ainda afeta a participação de mulheres na produção científica mundial e é agravada quando a cor da pele é negra.  “Aumentou a carreira, diminui a participação. Quando entrei na graduação, muitas meninas ocupavam as cadeiras da Universidade junto a mim. Quantas estão dando aulas em universidades hoje? Muitas foram parando no meio do caminho, por várias razões.” O relato de Zélia representa o que é chamado pelo termo em inglês leaky pipeline (gasoduto em vazamento, em tradução literal), uma metáfora que dá nome às inúmeras ocorrências de mulheres que são perdidas durante o caminho acadêmico.

Segundo a pesquisadora, mesmo ingressando em instituições de ensino e pesquisa reconhecidas, ocupando cargos superiores e produzindo trabalhos significativos, as dificuldades presentes na vida dessas mulheres permanecem. “Vocês já devem ter ouvido falar do efeito Matilda. Às vezes você faz o seu trabalho e ele não é reconhecido. Em reuniões por exemplo, nós explicamos e eles – homens – insistem em não entender e ainda repetem o mesmo que você acabou de dizer. É não reconhecer o trabalho e o valor das mulheres na Ciência”, explica.

“‘Tudo bem professora. Você apresentou o problema, mas e as soluções?’. Desde que me fizeram essa pergunta eu venho buscando por respostas.” Segundo a acadêmica, o fomento às políticas de inserção e permanência nas universidades, visitas às escolas e incentivo à participação de meninas em feiras de ciência, olimpíadas e concursos, são só alguns dos desafios a serem cumpridos para que essa realidade seja transformada e a participação no campo científico seja menos desigual. “Rebeldia é uma coisa que a gente tem que ter. Lute, mas não lute sozinha. Se formos juntas, vamos muito mais fortes”, conclui.

A II Semana Sem Fronteiras ocorre até a sexta, 24. As inscrições podem ser feitas pelo site.