Fernanda Perobelli é a atual responsável por projeto que “descomplica” a Economia, levando o tema para além da Universidade (Foto: Twin Alvarenga)

Pense na seguinte situação: sua saúde não vai bem e você não faz ideia do que pode estar causando este mal-estar. Nestas situações, consultar um especialista é imprescindível para detectar e tratar o problema. Este é um tipo de processo habitual no campo da saúde, mas se engana quem pensa que está restrito somente a ele – na Economia, por exemplo, a leitura dos diferentes cenários conjunturais e a elaboração de um diagnóstico é recorrente e uma das maneiras encontradas por um projeto de extensão da UFJF para levar noções financeiras à vida das pessoas.

A Conjuntura e Mercados Consultoria (CMC) é um projeto de extensão desenvolvido na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por professores e estudantes de graduação e pós-graduação. Com base nos dados de cada setor, os pesquisadores da CMC elaboram análises e desenvolvem indicadores econômicos, como o Indicador de Atividade Econômica Municipal (IAEM), que acompanha mensalmente a evolução da economia nos 853 municípios de Minas Gerais. Além deste, outros dois são desenvolvidos, o Indicador de Capacidade de Inovação (INOVA) e o Boletim de Conjuntura Econômica, com publicações trimestrais.

Seu principal objetivo é levar a economia à comunidade por meio de análises de temas que afetam o cotidiano das pessoas. Para tanto, a atuação é dividida em cinco pastas que abrangem diferentes áreas da Economia: Macroeconômica, Setorial, Regional, Valuation e a Social, sendo a última um diferente campo de atuação.

Resgatando ideias
“Acredito que o economista tem um papel social fundamental que é acalmar as pessoas em um momento de pânico. Fazer uma leitura técnica do mundo para um leigo: ‘isso acontece por causa disso e os efeitos esperados são esses’, oferecer um diagnóstico, ser quase um ‘médico’ social.” As palavras são da coordenadora do projeto, professora Fernanda Perobelli, a responsável por redesenhar e dar vida a CMC.

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Pesquisadores do CMC são responsáveis por boletins como o Indicador de Atividade Econômica Municipal e o de Conjuntura Econômica (Foto: Estela Loth/UFJF)

“Eu estudei aqui na UFJF entre 1992 e 1996. Na época, existia na Faculdade de Economia o Grupo de Conjuntura com atuações mensais e debates. Quando retornei como professora, o grupo estava frágil e quase no fim. Não podíamos deixar um projeto assim morrer”, relata.

De início, a principal missão era tocar o projeto da forma mais moderna e mais inserida na sociedade. “Tínhamos que atingir a comunidade. Para isso, procurei parceiros. O Tribuna de Minas já gostava da gente, porque eles diziam que nós traduzimos bem o ‘economês’ para o público. Pedimos um espaço e eles aceitaram o experimento. Isso já tem quatro anos”, conta Fernanda sobra a coluna semanal da CMC no jornal Tribuna de Minas e a presença na rádio CBN.

Segundo a coordenadora, as aparições públicas exigem abordagens específicas e posicionamentos frente ao que é analisado. “Um texto de Tribuna e um espaço na CBN te obrigam a tomar uma posição. Nossos textos sempre trazem uma conclusão. Para uma questão extensionista, você tem que concluir algo, porque esperam isso de você, esperam uma interpretação. Quem se expõe tem que estar disposto a ouvir críticas, isso é bom pois queremos estimular o espírito crítico nas pessoas”, pontua.

Para Fernanda, economista tem um papel fundamental de oferecer um diagnóstico para leigos, atuar como uma espécie de “médico” social (Foto: Twin Alvarenga)

Economia nas escolas
Além da publicação de textos que buscam traduzir a conjuntura econômica para a população, a CMC possui outra forma de atingir a comunidade – dessa vez, envolvendo projetos sociais. Trata-se do projeto Economia nas Escolas, atividade empenhada em levar os princípios básicos da Economia e da Educação Financeira aos alunos de colégios públicos. Em meio às adversidades iniciais e um quase término precoce, o projeto ganhou um grande aliado, o professor de matemática da Escola Municipal União da Betânia, Altamir Silva. “Quando conversamos disse que aceitaria trabalhar, mas não poderia ser a curto prazo e sim por pelo menos um ano para obtermos resultados e formar uma consciência financeira nos alunos”, pontua o professor.

A exigência foi cumprida e, durante o ano de 2017, foram realizadas 25 aulas, aplicadas uma vez por semana em duas turmas do 8º ano e uma do 9º ano, totalizando 60 crianças. O conteúdo aplicado foi desenvolvido pela Estratégia Nacional de Educação Financeira. A equipe da CMC compactou o material de forma a possibilitar sua aplicação durante um ano letivo. Com o auxílio do professor de matemática, o “economês” foi traduzido para uma linguagem acessível para os estudantes.

Como parte final do projeto, os alunos organizaram uma visita ao Campus da UFJF e ao Centro de Ciências. O caminho para a realização do passeio contou com a atuação fundamental do trabalho desenvolvido pelo Economia nas Escolas, como relata o professor Altamir. “Fizemos uma poupança, um cofrinho. Os alunos levavam para depositar as moedas que gastariam com balas, pirulitos e salgadinhos. Começamos em agosto e fechamos em dezembro. Com o dinheiro arrecadado e um auxílio da escola, conseguimos pagar um ônibus para visitar a UFJF.”

A satisfação com os resultados foram essenciais para a continuidade da parceria neste ano. “Notamos um grande envolvimento familiar, os alunos passaram a levar o que aprendiam para casa e isso é muito importante. Este ano estamos trabalhando com o 6º ano acreditando que é possível um trabalho na base e a longo prazo”, conclui.