Os alunos do sextos anos do Ensino Fundamental II do Colégio de Aplicação João XXIII enterraram uma cápsula do tempo nos jardins do Colégio, sobre os fatos que testemunharam em 2018. O dispositivo guarda mensagens escritas em linguagens próprias do cotidiano deles. O objetivo do projeto é registrar o conhecimento da “passagem do tempo”, seja revelando a historicidade humana (quanto às tecnologias e modos de viver em diferentes tempos), seja compreendendo a ação de preservação e
decomposição de diferentes materiais na natureza.
Segundo a professora de História, Fabiana Rodrigues, a proposta é deixar para a posteridade as marcas da passagem dos alunos pela escola em 2018, já que a cápsula será aberta somente quando eles estiverem no terceiro ano do Ensino Médio. Daqui a sete anos, quando a cápsula for aberta, servirá também para que os alunos dos sextos anos de 2024 possam desvendar essas marcas.
Fabiana explica que o dispositivo foi construído com tubo PVC e lacrado com sílica e naftalina, materiais que resistem à decomposição por pelo menos sete anos. O projeto interdisciplinar é uma inciativa que conta com o apoio das professoras de ciências Márcia Pinheiro Hara e Thamiris Dornelas de Araújo. Elas trabalharam com os alunos, conceitos como o de tempo de decomposição de determinados materiais na natureza para decidir o material da cápsula.
A atividade nasceu de uma situação real de sala de aula, quando alguns alunos demonstraram uma estranheza em relação às pinturas rupestres. Para alguns, aquilo pareceu não ter um significado aparente. Com isso, a professora estimulou-os a refletirem sobre as diferentes marcas humanas, seja as do passado ou as do presente, como pistas que revelam modo de viver em diferentes contextos. Os estudantes passaram a desenvolver um pensamento histórico ao refletir acerca das mudanças e permanências de práticas que são propriamente humanas.
Para Fabiana, “historiar” é compreender a condição humana no tempo. “É seguir os rastros das muitas experiências que revelam a passagem do ser humano pelo mundo, tal como um detetive vai atrás de pistas.” Um autor utilizado para orientação do trabalho foi o historiador francês Marc Bloch que sempre é uma inspiração e uma fonte de orientação importante para educar a sensibilidade histórica. Através desse conceito, aguça-se o olhar do aluno para tudo aquilo que é humano como uma fonte de historicidade.
A cada tempo, marcas da existência humana são deixadas em diferentes linguagens. Hoje é comum a comunicação via emojis, em outros tempos as pinturas rupestres que desempenhavam bem esse papel. A aluna Beatriz Campos do 6º ano diz que gosta muito de história. “O trabalho me ensinou que os homens do passado, mesmo sem um sistema de escrita, criaram estratégias para se comunicar. Eu acredito que daqui a algum tempo tudo deve ser tecnológico, mais evoluído, não deve haver muito diálogo pois as pessoas estarão se comunicando por celular”, conclui.
Para a coordenadora do projeto, o envolvimento da direção, coordenação, de todos professores, funcionários e alunos pensando na melhor forma de enterrar a cápsula e de divulgar o trabalho para a comunidade escolar fez toda a diferença. “Unir história e ciências potencializou mais o trabalho, já que o conhecimento é algo que se constrói em sala de aula com vários sujeitos trabalhando ao mesmo tempo”, explica a professora.
Segundo Margareth Pereira, Diretora de Ensino do Colégio de Aplicação, o projeto é importante para a escola porque motiva o envolvimento e participação dos alunos com o trabalho desenvolvido, além de valorizar a interdisciplinaridade e o protagonismo do aluno enquanto estudantes ativos no processo de produção do conhecimento. “O projeto atende a perspectiva de educação que nós acreditamos e alavanca possibilidades de envolver outras instâncias da escola para pensar no ‘além do hoje’”, ela completa.