Em 1974 o curso passou por federalização se incorporando ao campus (Foto: Alexandre Dornelas)

Em 1974 o curso passou por federalização se incorporando ao campus (Foto: Alexandre Dornelas)

A Faculdade de Serviço Social (FSS) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) completa 60 anos, desde sua primeira aula inaugural, realizada no dia 16 de maio de 1958. Era, então, uma faculdade particular, com 20 alunas matriculadas, cuja fundação foi possível pelo pioneirismo do padre redentorista Jaime Snöeck e da madre Altiva Paixão, vinculada às “Missionárias de Jesus Crucificado”. Em 1969, teve início o processo de federalização do curso e, em 1974, incorporou-se, definitivamente, à UFJF.

A história da Faculdade está intimamente ligada à institucionalização e ao crescimento  da profissão no Brasil, e do curso emergiram profissionais e professores que contribuíram significativamente para a formação de um legado no campo da produção acadêmica e da organização profissional em âmbito nacional e internacional. Alguns deles foram homenageados pela Universidade, com a medalha JK, como os professores José Paulo Netto, Marilea Porfírio e Marilda Iamamoto.

Conforme recorda José Paulo Netto, formado pela FSS, “o processo de maioridade científica do Serviço Social brasileiro – todos o reconhecem – tem a ver com a história da nossa Faculdade. Muitos dos seus egressos intervieram ativamente na construção do patrimônio de conhecimentos que hoje habilita o Serviço Social a uma interlocução paritária com as Ciências Sociais e, mais que isto, a uma intervenção ponderável na formulação de políticas públicas de âmbito nacional. Nesse aspecto, basta mencionar o papel da categoria profissional, por exemplo, na formulação da Lei Orgânica da Assistência Social”.

Carreiras premiadas

Neste ano, o prêmio Katherine Kendall, da Associação Internacional de Escolas de Serviço Social (Aiets), foi concedido à Marilda Iamamoto – graduada na área em 1971, pela UFJF – como reconhecimento a seu legado acadêmico e ao compromisso com o Serviço Social durante toda a carreira. A indicação de seu nome foi feita pela Associação Latino-Americana de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Alaeits) e a entrega ocorrerá durante a Conferência Mundial de Serviço Social, promovida pela  Federação Internacional de Serviço Social (Fits), de 4 a 7 de julho, em Dublin, na Irlanda. O prêmio possui o objetivo de reconhecer as contribuições significativas para o desenvolvimento da educação para o Serviço Social em nível internacional.

De acordo com a atual diretora da Faculdade, professora Cristina Simões Bezerra, nos últimos dez anos, muitos desafios foram enfrentados coletivamente pela comunidade acadêmica e muito se fez no sentido de defesa da UFJF, de uma formação profissional de qualidade e de um projeto ético-político, de uma forma geral.

“Ampliamos nossas vagas discentes em torno de 20% sem, no entanto, nos rendermos aos encantos de uma expansão desordenada e não planejada. Investimos esforços coletivos no sentido da consolidação de uma graduação já reconhecida em todo o país e na implementação do curso noturno, pensado na expectativa de atender a estudantes-trabalhadores e a seu direito de acesso à universidade pública e de qualidade”, pondera Cristina.

A Diretora acrescenta quais os valores fundamentam o ensino praticado pela instituição. “Orienta-nos, neste sentido, a compreensão de que nossa formação profissional precisa estar comprometida com a responsabilidade de oferecer à sociedade assistentes sociais capazes de lutar pela efetivação dos direitos sociais e promover perspectivas de verdadeiras transformações em nossa sociedade”.

Nos últimos dez anos a faculdade de Serviço Social avançou significativamente no que tange à pesquisa e à pós-graduação, devido também ao incentivo ao trabalho dos grupos de pesquisa e da consolidação de cursos nos níveis lato e strictu-senso. A vice-diretora da instituição, Alexandra Eiras, enumera alguns investimentos que corroboram para esse crescimento. “A Faculdade concentrou esforços no aumento de vagas nos cursos; na ampliação e na capacitação do quadro de servidores; nas oportunidades de troca de experiência e de maior visibilidade pela participação de professores e discentes em eventos externos; na internacionalização das nossas ações, no fortalecimento da Revista Libertas como espaço de debate e de difusão de conhecimento”.

Ainda de acordo com a vice-diretora, os grupos de pesquisa têm sido fortalecidos, na perspectiva de estarem atentos às questões regionais e nacionais que problematizam a inserção do assistente social na sociedade “e, ao mesmo tempo, têm contribuído para um profícuo debate em nossas produções acadêmicas, sobretudo em monografias de conclusão de curso e nas dissertações de mestrado de nossos discentes”, argumenta.

Extensão para o protagonismo dos trabalhadores

No que se refere à extensão universitária, os projetos da FSS se vinculam, sobretudo, ao desenvolvimento das políticas sociais no município e região, procurando potencializar o protagonismo dos trabalhadores e das trabalhadoras em sua condução. “Outro campo muito caro ao nosso trabalho é a articulação com os movimentos sociais e com os demais espaços de organização dos trabalhadores, procurando articular as ações de nossa Faculdade à pauta de suas reivindicações na garantia de direitos e de enfrentamentos em nossa sociedade. Nessa articulação, temos sido profundamente desafiados, não só por conta do contexto de restrições, mas pela necessidade de debater a compreensão e o lugar da extensão universitária em nossas principais ações coletivas”, avalia Cristina.

“Investimos esforços coletivos no sentido da consolidação de uma graduação já reconhecida em todo o país e na implementação do curso noturno, pensado na expectativa de atender a estudantes-trabalhadores e a seu direito de acesso à universidade pública e de qualidade” – Cristina Bezerra

A preocupação em garantir a capacitação constante dos quadros docente e técnico-administrativo, também se fez presente na história recente da FSS, o que acontece, segundo Alexandra, “não só diante das necessidades constantes da formação profissional, mas também na organização do trabalho de gestão de nossa Faculdade. Dimensão relevante neste momento contemporâneo, a renovação de nossos quadros, sobretudo nos últimos cinco anos, tem nos apresentado estes desafios e nos garantido importantes debates”.

Estrutura e lutas dos dias atuais

A Faculdade de Serviço Social da UFJF é composta por um corpo docente de 22 professores efetivos (91% doutores, dos quais 36% com pós-doutorado); quatro professores substitutos; 17 Técnico-administrativos em Educação; e 13 trabalhadores terceirizados.

Atualmente, contemplam o conjunto de atividades acadêmicas desenvolvidas pela instituição: graduação em Serviço Social; Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e em Saúde da Família; Residência em área profissional/Serviço Social Hospitalar, Residência Multiprofissional, Residência em Saúde Mental, Curso de Especialização em Estudos Latinoamericanos; Curso de Especialização em Serviço Social, Políticas Sociais e Processo de Supervisão do Estágio; Programa de Pós-graduação em Serviço Social; grupos de pesquisa; desenvolvimento de projetos de Pesquisa e de Extensão; vínculo com as instituições que oferecem campo de estágio; acompanhamento e coordenação da inserção de estagiários no município e na região.

Outro destaque é a Coordenação e Gestão do Polo de enriquecimento cultural, sediado na Casa de Cultura, na qual são desenvolvidas atividades acadêmicas de treinamento profissional e de extensão. Aproximadamente 615 estudantes contam com a Inserção nacional/regional na Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e nos processos de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Temos consciência dos profundos ataques que ameaçam, hoje, as universidades públicas, os servidores públicos e, sobretudo, os direitos sociais e a democracia em nosso país, reduzindo as políticas sociais, muitas vezes, a meros recursos emergenciais de enfrentamento de uma questão social que se agrava e se acirra em nossa sociedade, destituídos dos elementos da luta e da resistência dos trabalhadores a seus processos cotidianos de opressão e exploração”, analisa Cristina.

A vice-diretora Alexandra Eiras relata o orgulho de fazer parte de toda história. “A defesa da liberdade, o patrimônio do humanismo, desde os pioneiros; a inserção ativa na vida universitária, contribuindo na defesa e na construção de uma universidade democrática, pública e de qualidade, socialmente referenciada; a participação nos debates no campo da política social em Juiz de Fora e na região. Assim,  alinhando-nos às demandas sociais e aos movimentos progressistas, posicionando-nos com firmeza e autonomia nos espaços acadêmicos e extra-acadêmicos”.

De acordo com Cristina Bezerra, “distinguimos-nos por uma cultura organizacional democrática, orientada pela construção coletiva e por princípios fundados na liberdade, na autonomia e na emancipação humana. Não poderia ser diferente. Trabalhamos e investigamos as expressões da desigualdade social, o tenso campo da questão social, própria da sociedade capitalista. E há muito a fazer e a construir, em termos de respostas societárias e profissionais, em virtude dessas problemáticas”, conclui.

Outras informações: (32) 2102-3561 – Faculdade de Serviço Social