Um projeto de pesquisa e extensão, desenvolvido no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tem como público-alvo homens envolvidos em episódios de violência doméstica e familiar. O objetivo principal, segundo o coordenador da iniciativa e professor do Departamento de Psicologia da UFJF, Luiz Gibier, “é prevenir e estimular o rompimento do ciclo da violência, por meio da problematização de uma certa identidade masculina e da relação de gênero, baseada no processo de reflexão responsabilizante.”
Gibier explica que os participantes são encaminhados ao grupo pelo Poder Judiciário, e comprometem-se a comparecer, no mínimo, à 10 reuniões. Os encontros são semanais e têm duração de 1h45. Os temas abordados na atividade são Lei Maria da Penha; violência conjugal; como lidar com impulsos agressivos; mundo do trabalho e do não trabalho e seus desafios; drogas e bebidas; sistema penitenciário e o autoritarismo para com os reclusos; história da dominação masculina; paternidade; sexo, prazer e traição, dentre outros.
“Fizemos uma parceria entre a UFJF, a Prefeitura de Juiz de Fora, o Ministério Público e o Poder Judiciário para a viabilização do projeto. Os juízes entenderam que a participação dos condenados por violência doméstica nos grupos de reflexão pode produzir mudanças efetivas na personalidade dos homens e aí, sim, reduzir a dinâmica de agressões contra a mulher e a família”, ressalta.
O projeto e os desafios do enfrentamento à violência doméstica no Brasil
De acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há em tramitação 1.272.398 processos referentes à violência doméstica contra a mulher no Brasil. Em termos proporcionais, pode-se afirmar, desse modo, que existe um processo judicial de violência doméstica para cada 100 mulheres brasileiras.
Em meados de 2014, percebemos que tínhamos de trabalhar e intervir em outras áreas, para buscar um efeito mais integral nas vidas dessas mulheres, vítimas de violência doméstica
A situação no município de Juiz de Fora é acompanhada pelo professor do Departamento de Psicologia da UFJF desde o ano de 2013, a partir de parceria firmada com o Centro de Referência da Mulher.
“Inicialmente, dávamos apoio psicológico às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, através de alocação de estagiárias que faziam plantão durante os cinco dias úteis da semana. Em meados de 2014, percebemos que tínhamos de trabalhar e intervir em outras áreas, para buscar um efeito mais integral nas vidas dessas mulheres. Desse modo, procuramos o então programa do governo federal Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) para encaminhar as mulheres vítimas de violência sem renda. Essa autonomia, em tese, as daria mais alternativas para decidir se queriam ficar com o parceiro ou parente que apresentava comportamentos violentos em nível físico, sexual, psicológico ou patrimonial.”
Em agosto de 2014, após contato com a Rede de Combate à Violência Doméstica de Juiz de Fora (Revid), o docente organizou o primeiro grupo de homens envolvidos em episódios de violência doméstica e familiar, no Centro de Psicologia Aplicada da UFJF. No ano passado, foram realizados quatro grupos e 48 encontros no total.
“Pensamos a universidade pública como um local que deve sair de si e propor intervenções no social. Compreendemos que o saber acadêmico, articulado com a vida social, incorpora as demandas sociais e direciona a produção do conhecimento. Dito de outra forma, as universidades devem contribuir com projetos de mudança do mundo ao seu redor.”
O Centro de Psicologia Aplicada da UFJF funciona na Rua Santos Dumont 214, no Bairro Granbery.
Outras informações: (32) 3217-8253 – Centro de Psicologia Aplicada (CPA)