Breno Moreira defendeu a tese no último dia 14 de dezembro na UFJF (foto: Twin Alvarenga/UFJF)

Breno Moreira defendeu a tese no último dia 14 de dezembro na UFJF (foto: Twin Alvarenga/UFJF)

Nanofloresta nebular é um tipo de vegetação com características singulares e que desempenha um papel importante nas bacias hidrográficas, possibilitando um fornecimento de água regular para as comunidades. Para aprofundar a análise sobre essa flora,  o acadêmico Breno Moreira produziu a tese de doutorado “As Nanoflorestas Nebulares do Parque Estadual do Ibitipoca: análise florística, fitogeográfica e fitossociológica”. A pesquisa foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

De acordo com Breno, as nanoflorestas nebulares recebem esse nome em função da presença frequente de nuvens sobre a vegetação. Isso influencia a atmosfera por meio do aumento da umidade relativa e da redução da radiação solar. Esse tipo de vegetação ocorre em cinturões de altitude estreitos, em sulcos do relevo montanhoso ou em picos de montanha semelhantes a arquipélagos com a distribuição de espécies.

A pesquisa foi iniciada em 2014 e terminou em 2017. Foram quatro anos entre planejamento da amostragem das espécies, trabalhos de campo, identificação botânica, realização das análises e redação final do trabalho.

Segundo o professor Fabrício Alvim Carvalho, um dos orientadores, este trabalho tem a importância de ter sido o primeiro estudo que quantificou essa vegetação. “Foi inédito porque esse tipo de vegetação é pouco conhecida na literatura e tem em poucos locais, sendo que um deles é o Parque Estadual do Ibitipoca”. Além disso, o docente também aponta como fundamental a realização do estudo da estrutura das comunidades de árvores nesse tipo de vegetação.

Para a pesquisa, foram realizadas análises florística, fitogeográfica e fitossociológica. A florística busca conhecer quais espécies de plantas ocorrem em determinado lugar. Por sua vez, a fitogeográfica pretende compreender como essas plantas estão distribuídas em diferentes ambientes, como chegaram a determinado local e quais os fatores ecológicos influenciam na sua dispersão e estabelecimento. Por fim, a fitossociológica é o estudo das características, classificação, relações e distribuição de comunidades vegetais naturais, visando obter variáveis quantitativas sobre as fitofisionomias.

Até o momento, foram produzidos dois artigos. O primeiro, intitulado “Flora fanerogâmica e fitogeografia das Nanoflorestas Nebulares do Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais, Brasil”, teve como objetivo avaliar a composição florística das nanoflorestas nebulares do Parque Estadual do Ibitipoca e realizar análises de fitogeografia. Já o segundo artigo, “Composição e estrutura das Nanoflorestas Nebulares do Parque Estadual do Ibitipoca ao longo de um gradiente altitudinal”, descreve a composição e a estrutura florestal do estrato arbustivo-arbóreo das nanoflorestas nebulares do Parque, associadas a um gradiente altitudinal. A equipe de pesquisa continua produzindo outros trabalhos científicos nesta área.

Trabalho de campo

Em relação ao trabalho de campo, foram realizadas coletas de material botânico, entre os meses de setembro de 2014 e dezembro de 2016, com duração de três dias cada, em diferentes áreas de nanoflorestas nebulares. “A coleta foi realizada percorrendo-se trilhas no interior das nanoflorestas, buscando cobrir a maior extensão possível da área e com amostragem em parcelas fixas. Houve ampla colaboração dos discentes do Laboratório de Ecologia Vegetal da UFJF, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, do Herbário Leopoldo Krieger (CESJ) da UFJF e dos funcionários do Parque Estadual do Ibitipoca”, explica Breno.

Segundo o pesquisador, o material botânico coletado foi depositado na coleção do Herbário e vai contribuir para o incremento do banco de dados florísticos da Zona da Mata Mineira, além de constituir um banco de exsicatas sobre nanoflorestas nebulares. “O herbário possui a segunda maior coleção florística do estado de Minas Gerais, sendo bastante procurado por pesquisadores e profissionais do ramo, principalmente consultores ambientais, para identificação de espécies arbóreas”. Os principais resultados serão divulgados no website do Herbário Leopoldo Krieger, tornando-os acessíveis para a sociedade em geral.

Ainda de acordo com Breno, a partir da análise do papel ecológico das espécies mais representativas e importantes, o estudo desenvolverá subsídios para propor ações de restauração, manejo e conservação desta vegetação, especialmente na Serra da Mantiqueira. Isso vai servir como base de dados para ações de intervenção realizadas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) e administração do Parque Estadual do Ibitipoca. “A comparação com outros trabalhos em ambientes semelhantes pode ajudar a entender os processos e padrões nas relações florísticas, fornecendo informações relevantes para a conservação desse tipo de vegetação em uma escala mais ampla.”

No que se refere aos resultados, em relação à composição florística das nanoflorestas nebulares do Parque Estadual do Ibitipoca, foram registradas 371 espécies, distribuídas em 209 gêneros e 73 famílias de fanerógamas. Em relação à fitogeografia, os gêneros com centro de diversidade tropical representam 86,5% do total, distribuídos entre 126 neotropicais (60%), 45 tropicais amplos (21,5%) e dez gêneros endêmicos do Brasil (5%). Os gêneros com centro de diversidade em regiões temperadas correspondem a 13,5% do total, distribuídos entre sete gêneros (3,5%) austral-antárticos, um de origem holártica (0,5%), dois de origem temperada ampla (1%) e 17 (8,5%) cosmopolitas.

Para o pesquisador, a população local poderá utilizar os dados levantados como fundamentação para futuros projetos de uso sustentável dos recursos naturais da região, projetos de educação ambiental e turismo ecológico. “Dessa forma acredito que o estudo contribuirá para o desenvolvimento do conhecimento científico acerca das nanoflorestas nebulares no domínio da Mata Atlântica e o incremento do debate acerca da importância da preservação dessa fitofisionomia”, conclui Breno.

Outras informações: (32) 2102-3227 – Programa de Pós-Graduação em Ecologia