Aproximadamente 300 estudantes prestigiaram a palestra da pesquisadora Zélia Ludwig na Escola Estadual Dilermando Costa Cruz (Foto: Twin Alvarenga(

Aproximadamente 300 estudantes prestigiaram a palestra da pesquisadora Zélia Ludwig na Escola Estadual Dilermando Costa Cruz (Foto: Twin Alvarenga)

Aliar ciência e superação ao oferecer a prática dos laboratórios e um motivador relato de vida. Estes foram os ingredientes reunidos na palestra da professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Zélia Ludwig. O evento aconteceu na manhã desta sexta-feira, dia 27, para quase 300 alunos do ensino médio da Escola Estadual Dilermando Costa Cruz, no Bairro Linhares, zona leste da cidade. A palestra integrou o projeto “A ciência que fazemos” que, ao longo da semana, visitou escolas públicas e particulares de Juiz de Fora.

Direcionada pelo tema “Meninas também fazem ciência”, a professora Zélia analisou a baixa participação das mulheres na ciência ao longo das últimas décadas, apontando que o percentual começa a aumentar. “Ciência e pesquisa não podem só remeter à ideia de um homem descabelado, de jaleco branco que trabalha isolado. A pesquisa é formada por homens e mulheres que têm uma vida como a de qualquer outra pessoa, acessível a todos vocês”, afirmou a professora que, em seguida, contou um pouco de sua trajetória ao superar uma série de obstáculos sociais e econômicos para se graduar em Física pela Universidade de São Paulo (USP). “Eu pegava várias conduções diariamente para chegar na faculdade, em um trajeto de quase quatro horas. Tenham determinação e, por mais difícil que possa parecer, persistam.”

“A palestra da foi emocionante. Eu imaginava que as pesquisas serviam para mostrar o porquê das coisas e, na verdade, vai muito além”, afirma a estudante Carla Couto (Foto: Twin Alvarenga)

“A palestra da foi emocionante. Eu imaginava que as pesquisas serviam para mostrar o porquê das coisas e, na verdade, vai muito além”, afirma a estudante Carla Couto (Foto: Twin Alvarenga)

Durante a palestra, a pesquisadora apresentou alguns experimentos envolvendo laser e fibra ótica, explicando o funcionamento. Zélia Ludwig pesquisa a aplicação especial de novos materiais, especialmente os diferentes tipos de vidros que, por guardarem particularidades, têm utilizações se estendem a diversas áreas. “Desde o momento que acordamos, estamos rodeados por objetos que contém, de certa forma, vidro. Portas e janelas, para-brisas de carros, telas de celulares e fibras óticas. Em quase tudo o vidro está presente e, consequentemente, a ciência também”, explicou.

Experimentos com o Circuito Científico
Após a apresentação, cada turma participou diretamente da experimentação, contando com o apoio de alunas do projeto “Circuito Científico”, composto por três grupos de pesquisa da Faculdade de Engenharia. A aluna do sexto período de Engenharia Elétrica de Telecomunicações, Letícia Martins, reforça que a proposta é ensinar ciência com materiais de baixo custo. “Para a Escola Estadual Dilermando Cruz, trouxemos massa de modelar, a fim de explicarmos o funcionamento dos circuitos elétricos, além de protótipo de um foguete para abordarmos o uso da pressão. É muito gratificante perceber a reação positiva dos alunos à ciência, principalmente quando percebem sua aplicabilidade no dia a dia.”

A aluna do terceiro ano do ensino médio, Carla Couto, conta que pretende cursar Educação Física e que tinha uma visão diferente sobre a ciência. “A palestra da professora foi emocionante. Eu imaginava que as pesquisas serviam para mostrar o porquê das coisas e, na verdade, vai muito além. Eu achei interessante a trajetória dela, a história de determinação que me motivou muito”, avalia.

“A palestra me abriu horizontes e despertou a vontade de conhecer a UFJF e os laboratórios”, diz o aluno Thiago Barezi (Foto: Twin Alvarenga)

“A palestra me abriu horizontes e despertou a vontade de conhecer a UFJF e os laboratórios”, diz o aluno Thiago Barezi (Foto: Twin Alvarenga)

Também aluno do terceiro ano, Thiago Barezi vai pleitear uma vaga na UFJF, mas ainda está em dúvida entre os cursos de Odontologia e Administração. O estudante afirma que não havia refletido acerca da pouca participação das mulheres na ciência. “Mesmo com os vários nomes trazidos na palestra, não imaginava que o número de mulheres comparados aos homens era tão pequeno, uma vez que os livros didáticos não trazem essa informação. Estou espantado com a quantidade de coisas que a ciência pesquisa. Ciência está em tudo e eu não sabia disso. A palestra me abriu horizontes e despertou a vontade de conhecer a UFJF e os laboratórios, já que minha professora de Química fala muito sobre isso nas aulas”, avaliou.

Thiago se refere à professora Erika Leite, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da (PPGE) da UFJF, onde desenvolve pesquisa na área de formação de professores do ensino médio, utilizando a Química Inorgânica para estimular a reflexão entre os docentes. A professora pontua a importância de manter firmes os vínculos entre a escola e a Universidade. “Essa iniciativa de trazer aos alunos o contato direto com a ciência e pesquisa é fundamental, principalmente pelo fato de que a maioria deles tem pouco ou quase nenhum contato com a UFJF. É uma realidade que passa a ser menos inacessível e a palestra se somou àquilo que venho trabalhando em sala de aula: conhecimento e estímulo. A vinda da professora Zélia confirma exatamente isso.”

“Essa iniciativa de trazer aos alunos o contato direto com a ciência e pesquisa é fundamental (…). É uma realidade que passa a ser menos inacessível”
Erika Leite

Zélia Ludwig avaliou sua participação como uma troca de saberes. “Percebi a alegria e a motivação dos alunos. Sinto que estamos no caminho certo, que precisamos nos movimentar para trazê-los para a Universidade, para que continuem em busca do conhecimento.” Ao ser questionada por uma aluna se havia enfrentado preconceito por ser mulher e trabalhar com ciência, Zélia não precisou pensar muito para responder. “Sim, e não só pelo fato de ser mulher. Sofri preconceito por ser mulher, negra e pobre. E, por ter encarado isso de frente e com muita coragem, é que estou aqui hoje, conversando com vocês e convidando a pensarem da mesma forma. Olhem sempre adiante.”

“Sofri preconceito por ser mulher, negra e pobre. E, por ter encarado isso de frente e com muita coragem, é que estou aqui hoje, conversando com vocês e convidando a pensarem da mesma forma. Olhem sempre adiante”, concluiu a pesquisadora (Foto: Twin Alvarenga)

“Sofri preconceito por ser mulher, negra e pobre. E, por ter encarado isso de frente e com muita coragem, é que estou aqui hoje, conversando com vocês e convidando a pensarem da mesma forma. Olhem sempre adiante”, concluiu a pesquisadora (Foto: Twin Alvarenga)