A tese de doutorado do acadêmico Fabiano Gomes da Silva faz uma retomada do papel positivo da experiência laboral colonial dos trabalhadores livres, e particularmente, dos herdeiros da escravidão, entre os anos de 1709 e 1750, no município mineiro de Mariana. A pesquisa foi apresentada ao Programa de Pós-graduação em História, da Universidade Federal de Juiz de Fora. “Partiu-se da premissa de que a experiência nascida do trabalho honesto e justo também concorria para a classificação social na época Moderna“, ressalta Fabiano.
O acadêmico explica que na trajetória da pesquisa buscou reconstruir o contexto parcial do mercado de trabalho livre numa sociedade colonial escravista, bem como entender os mecanismos de acesso e de atuação no mercado de trabalho. Fabiano também procurou compreender as redes de garantias e créditos locais, as narrativas de fragmentos das trajetórias, dos comportamentos e das estratégias dos mestres e oficiais de ofícios manuais da localidade.
O pesquisador conta que o resultado “foi o dimensionamento do trabalhador manual livre como parte decisiva da dinâmica econômica e social na cidade de Mariana, pois nem tudo se resolveu com os carregamentos de mercadorias de outras regiões coloniais ou do Atlântico. Assim, tem-se um trabalhador livre que exercia seu ofício útil e de forma honrada na comunidade.”
Ainda segundo Fabiano, “as trajetórias dos mestres Antônio Coelho da Fonseca, Pedro Rodrigues da Costa e João Marques Pimenta mostram, por exemplo, que o ofício manual aprendido ou herdado era sustento e fonte do procedimento decente e honrado, que, inclusive, podia trazer a distinção e a fazenda necessária ao viver como se nobre fosse. Se passageira a alguns, a experiência no mundo do trabalho não foi uma aba esquecida na história de muitos trabalhadores livres, libertos e escravos. Antes, foi página importante nas narrativas morais de muitos.”
Na opinião do acadêmico, a tese permite uma conexão de experiência laboral colonial dos trabalhadores livres e, particularmente, dos herdeiros da escravidão com a história da classe trabalhadora contemporânea. Fabiano acrescenta uma curiosidade revelada pela pesquisa: “a descendência africana e afroamericana do mestre pintor Ataíde não tinha sido comprovada até a minha tese, pois seu pai era português e sua mãe de descendência desconhecida pelos especialistas. A minha tese traz o registro de batismo da mãe do Ataíde, e lá tem o lançamento da condição de ex-escrava (parda forra) da avó materna dele.”
Os impactos causados pelo tema
A contribuição e a inserção social da tese também se dá a partir do ponto de vista de que favorece possíveis conexões com a história, com as identidades e com os desafios da classe trabalhadora contemporânea. Segundo a professora orientadora da pesquisa, Carla Maria Carvalho de Almeida, “a tese reforça a ideia de que a história dos trabalhadores brasileiros não começaria com a imigração de braços europeus e asiáticos, mas deitaria raízes em um contexto mais complexo em termos de limites e possibilidades.”
A professora enfatiza, ainda, que “uma outra contribuição social se dá no campo da história da arquitetura e da pintura mineira, pois traz novos dados biográficos e profissionais de personagens importantes para o barroco e o rococó em Minas Gerais, como o mestre carpinteiro Antônio Coelho da Fonseca (construtor da Catedral de Mariana que atualmente esta fechada para uma reforma estrutural e nos telhados). Ou ainda, os dados sobre a família do mestre pintor Manoel da Costa Ataíde, especialmente de sua parte materna com a identificação da sua avó Felícia Barboa de Abreu, parda forra, que ajudou a criar o famoso pintor mineiro. Isso significa que o mestre pintor marianense das Nossas Senhoras e dos anjos de feições amulatadas também descendia de grupos africanos e afroamericanos como o renomado mestre escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho).”
Contatos:
Fabiano Gomes da Silva (doutorando)
fabiano.silva@ifmg.edu.br
Carla Maria Carvalho de Almeida (orientadora – UFJF)
carlamca@uol.com.br
Banca examinadora:
Profa. Dra. Carla Maria Carvalho de Almeida – (Orientadora – UFJF)
Profa. Dra. Ana Paula Pereira Costa -(UFJF)
Prof. Dr. Douglas Cole Libby – (UFMG)
Profa. Dra. Cláudia Maria das Graças Chaves – (UFOP)
Prof. Dr. Carlos Gabriel Guimarães – (UFF)
Outras informações: (32) 2102 – 3129 – Programa de Pós-Graduação em História