Desde 2015, o Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) vem recebendo uma demanda maior da comunidade discente da instituição. O aumento do adoecimento mental da comunidade acadêmica foi discutido na mesa-redonda “Saúde Mental na Universidade: reflexões e diálogos sobre o adoecimento psíquico”, mediada pela professora da Faculdade de Psicologia, Fabiane Rossi, na noite de terça-feira, no Anfiteatro de Estudos Sociais.
Os estudantes foram representados pela discente da Faculdade de Engenharia e ex-integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Leda Mendonça. Ela ressaltou, sem precisar números, que é grande a quantidade de estudantes que desistem da graduação devido a fatores psicológicos. “A permanência na Universidade não depende apenas do apoio financeiro, há um isolamento crescente no campus, sentido, principalmente, pelos alunos com perfil social mais vulnerável, integrante de alguma minoria. Sem falar nas relações abusivas em sala de aula, que aumentam a pressão psicológica. Precisamos derrubar esse tabu que envolve as doenças mentais.”
“A carga horária pesada dos cursos, aliada à competitividade entre os alunos e a relação, muitas vezes conflituosa, entre professores e estudantes são alguns dos fatores que contribuem para o desenvolvimento de ansiedade, depressão e estresse, doenças mais comuns entre os universitários”, ressaltou a professora da Faculdade de Medicina, Ivana Lúcia Damásio. A docente coordena um grupo de estudo sobre a saúde mental dos estudantes de Medicina e apresentou dados mostrando que, em 2014, 47,1% do corpo discente do curso apresentava sinais de estresse, enquanto 37,2% sofria de ansiedade e 34,6% foi diagnosticado com depressão.
Propostas para reverter este quadro foram levantadas pela professora da Faculdade de Medicina, Andreia Ramos como mais discussões sobre o tema, a criação de uma agenda de políticas para enfrentamento individual e coletivo, a qual, para funcionar, precisa do comprometimento de toda a comunidade universitária. “Como psiquiatra escuto muito as pessoas dizerem que a saúde mental é subjetiva, porém, o coletivo em que o indivíduo se insere tem total interferência no adoecimento. E é complicado para o estudante falar sobre o problema dele, porque quem pode ajudá-lo está preocupado em cobrar produtivismo dele. Conheço alunos que ficam em pânico ao ouvir a palavra IRA (Índice de Rendimento Acadêmico).”
A carga produtiva elevada exigida dos estudantes, e também dos professores, gera uma frustração. “O plano de fundo para o adoecimento mental é uma sociedade contemporânea hedonista, que exige dos indivíduos padrões elevados, praticamente impossíveis de serem alcançados, criando modelos ideais, produtivos e bem sucedidos, que não se adaptam à realidade dos universitários, pois eles são humanos, não máquinas”, destacou o psicólogo da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proae), Frederico Freire.
Para encerrar o debate, organizado pela Liga Acadêmica de Saúde Comunitária (Lasc), o pró-reitor de Apoio Estudantil, Marcos Freitas, salientou a alteração do perfil dos estudantes e dos professores. “A pressão sobre os alunos aumentou, eles têm que escrever artigos, cumprir bolsa/estágio, se manter na faculdade e se sair bem em todas as atividades. Os docentes se veem obrigados a publicar e produzir pesquisas de forma produtivista para cumprir metas dos órgãos de fomento. E a instituição começa a adoecer como um todo, professores, alunos, técnico-administrativos em educação (TAEs).”
Outras informações: (32) 2102-3777 (Pró-reitoria de Assuntos Estudantis- Proae)
(32) 3217-8253 (Centro de Psicologia Aplicada -CPA)
(32) 2102-6919 (Diretoria de Ações Afirmativas – Diaaf)
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