Seminário História da Moda e do Vestir Masculino (Foto: Twin Alvarenga)

Maria do Carmo Rainho falou sobre o estilo de Caetano Veloso, e Jefferson José Queller abordou o vestuário de Jânio Quadros (Foto: Twin Alvarenga)

A mesa-redonda “Usos políticos do corpo e das roupas” encerrou na quarta-feira, dia 13, o 1º  Seminário de História e Cultura de Moda: Histórias do vestir masculino, que aconteceu no Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O professor  de História da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Jefferson José Queller, e a pesquisadora do Arquivo Nacional e do Museu Histórico Nacional, Maria do Carmo Rainho, analisaram as expressões visuais do ex-presidente Jânio Quadros e do cantor e compositor Caetano Veloso.

Na palestra “Ternos amarrotados, colarinhos abertos e slacks indianos: os significados políticos das roupas de Jânio Quadros (1947-1961)”, Queller apresentou os símbolos usados pelo político, para se promover como candidato à Presidência da República. Segundo ele, além da vassoura, outros elementos associados à vestimenta foram usados por Jânio, reforçando seus traços caricaturais. “O Jânio era uma piada pronta, meu desafio no doutorado foi levá-lo a sério, e descobrir como ele ganhou o eleitorado, apesar de todos os seus atos teatrais divulgados pela mídia na época. Ele tentava encarnar a figura do bufão, um palhaço da corte que fala o que os outros não têm coragem, o que gerava uma identificação com as camadas mais baixas da população e fez dele uma liderança popular.”

O professor analisou, também,  a mudança visual que Jânio adotou ao longo de sua carreira política, como a transição para colarinhos fechados, paletós ajustados ao corpo, e penteados menos desgrenhados. Uma marca do presidente eram os slacks – conjunto leve de roupa esportiva constante de calças compridas e blusão do mesmo tecido. “Durante sua campanha, Jânio teve problemas por ter sido contra o monopólio da Petrobrás. Depois disso, começou a se vestir como o político nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser, para convencer a população de que também era nacionalista.  Os slacks também eram parte da campanha que fazia em defesa à política externa que ele tentou desenvolver.”

Os símbolos usados por Jânio eram politizados, porém, deturpados pela oposição que o descrevia como um descontrolado. Fotografias veiculadas na mídia foram apresentadas por Queller, nas quais se via um Jânio que não tinha controle sobre o próprio corpo e emocional. “O governante que controla os próprios movimentos corporais e expressões faciais, no imaginário popular denota uma eficiência para guiar a nação. Jânio é sempre retratado como uma caricatura, e entrou assim para a história ”.

A revolução de Caetano

A pesquisadora Maria do Carmo Rainho, na palestra “Caetano Veloso: corpo, roupa e música desafiando a ditadura”, contou que com o músico aconteceu o mesmo, poucos anos depois de Jânio. Com um corpo magro, roupas coloridas, cabelos longos, e suas performances – dentro e fora dos palcos – o integrante da Tropicália propôs uma revolução comportamental. “Até então, os homens não se preocupavam com moda e com o que vestiam. Os artistas, principalmente, Caetano, Roberto Carlos, Tom Zé, tornaram natural o homem escolher com mais cuidado suas roupas, inovarem seu estilo e saírem da ‘elegância invisível’ que sempre seguiram.”

Por meio da análise de imagens publicadas pelo jornal “Correio da Manhã”, entre meados de 1960 e 1970, Maria do Carmo constatou que não era apenas a música de Caetano que incomodava o regime militar. Suas batas bordadas, seus tamancos, seus colares de ossos, as roupas de vinil, a maquiagem, suas expressões corporais no palco, eram uma provocação à ordem vigente e um questionamento aos padrões de gênero.

“Ele desnaturalizou a classificação de gênero, a apresentou como algo temporal. Caetano nunca se preocupou em ser, em se definir, as pessoas não compreendiam sua sexualidade. Em um período onde as polaridades eram exacerbadas e os meios tons não eram aceitos, uma de suas potências era mostrar que estética e política podem ser duas, e uma coisa só.”

O evento

O 1º Seminário de História e Cultura de Moda: Histórias do vestir masculino foi organizado pelo grupo de pesquisa “História e Cultura de Moda”, e contou com palestras, conferências e minicursos, ministrados por pesquisadores nacionais e internacionais. Foram discutidos temas relativos à moda e à aparência dos homens numa perspectiva interdisciplinar, buscando a relação que a moda masculina tem com os papéis de gêneros contemporâneos. O evento aconteceu nos dias 12 e 13, e sediou a exposição “Man Enough” e o lançamento do livro “Histórias do vestir masculino” (Eduem).

Outras informações: (32) 2102-3350 (IAD-UFJF)