Hoje, basta ligar a TV para em alguns minutos para ver algum crime sendo retratado em jornais, séries ou filmes, o que mostra o como esse tema atrai a atenção da mídia e dos telespectadores brasileiros. Com o intuito de entender esse fenômeno, o professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Vicente Riccio, produziu um artigo intitulado “Crime e a mídia visual no Brasil” (Crime and the Visual Media in Brazil). O trabalho acaba de ser publicado no programa Oxford Research Encyclopedias (ORE), da Universidade de Oxford, cuja editora tem sede nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Grande reconhecimento
O ORE oferece visões gerais de artigos abrangentes que são escritos, revisados e editados por pesquisadores de destaque internacional. Os escritores são convidados pela universidade de Oxford, a partir de seus trabalhos na área que já tiveram algum alcance internacional. Depois de um período de avaliação e ajustes, o trabalho é disponibilizado no site do programa para consulta.
“Esse é um reconhecimento do campo pelo trabalho que estou fazendo. O fato de ser uma instituição de prestígio, e o de divulgar um trabalho da nossa Universidade nesse programa de visão internacional, é uma grande honra”, avalia Riccio.
Reflexos do crime na mídia brasileira
O professor estuda o tema desde seu doutorado, quando analisou o “Programa do Ratinho”. Ele percebeu que a produção midiática brasileira sobre crimes é fruto das intensas transformações sociais, políticas e econômicas que aconteceram no país a partir da metade de século 20. Neste artigo, Riccio compreende as produções audiovisuais da mídia brasileira dividindo-a em três grupos: séries televisivas; filmes; e jornalismo policial.
Dentro destas três áreas, são percebidas temáticas em comum, como críticas à violência, desigualdade, corrupção policial, falhas no sistema de justiça criminal e demandas de políticas públicas. No entanto, cada área da produção midiática reserva suas próprias características políticas e ideológicas sobre o estado de direito no Brasil. No plano de ficção (televisão e filmes), as abordagens são mais críticas em relação à atuação da força policial e sobre o sistema de justiça criminal no Brasil. Já a cobertura do jornalismo policial se coloca no outro extremo, ressaltando comportamentos individuais problemáticos, ao invés de focar nas estruturas problemáticas.
“A produção midiática é um reflexo da mudança abrupta que o país sofreu nos últimos anos. A única diferença é a forma com que a temática foi adaptada a cada meio. As narrativas de ficção com um tom mais crítico, enquanto o jornalismo policial trabalha com o intuito de prevalência da ideia de lei e ordem, demonstrando um moralismo mais evidente”, salienta Riccio.
O professor se aprofunda sobre o tema no grupo de pesquisa, existente na Faculdade de Direito Núcleo de Estudos e Análise de Políticas de Justiça, Direitos Humanos e Segurança Pública, em fase de reestruturação, , foca seus estudos no modo como são construídas políticas relacionadas ao tema da justiça no Brasil. Dentre as pesquisas no campo, está o projeto que pretende analisar a utilização das provas em vídeo nas cortes brasileiras, integrado por pesquisadores do direito, linguística e estatística. A pesquisa tem por objetivo entender o modo como os operadores do direito utilizam a prova em vídeo para sustentar uma decisão judicial em segunda instância, sendo o projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).