O debate dos fins medicinais da maconha tem sido alvo de diversas discussões por todo o mundo. No Brasil, levando em conta o fato de o cultivo da planta ser proibido para qualquer fim e de seu auxílio em certas doenças ser defendido por muitos estudiosos têm feito com que a discussão se acentue na mídia e na academia. Por isso, o Ciclo de Palestras do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF promoveu, nesta terça, 20, uma palestra com Isabel Assis, que fez seu doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre o “envolvimento da enzima fosfatidilinositol 3-quinase (PI3K) no efeito anticonvulsivante e neuroprotetor do canabidiol”.

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Isabel Assis falou sobre pesquisa desenvolvida durante seu doutorado na UFMG

Isabel começou explicando o que é uma convulsão. Este termo se refere a um período clínico anormal resultante de uma exacerbada descarga elétrica, repentina ou anormal no encéfalo. No entanto, as crises convulsivas, ao contrário das convulsões que podem ser causadas por diversos motivos – febre alta, infecções no cérebro, exposição a drogas ou substâncias tóxicas e etc – são fruto de uma lesão no cérebro, como, por exemplo, nos tumores. Este quadro é chamado de epilepsia sintomática. Aliado a esta, existem centenas de tipos de epilepsia catalogados; entretanto, Isabel escolheu estudar o tipo mais comum que acomete a população, a epilepsia do lobo temporal.

Ao longo da história a epilepsia foi vista por uma ótica de misticismo, o que ocasionou em uma improdutividade nas pesquisas acadêmicas. Somente no século XX que a indústria farmacêutica começou a se mobilizar em prol ao combate da doença; no entanto, no início do século XXI, mais de 30% dos pacientes ainda se mostravam resistentes aos medicamentos disponíveis no mercado. Tal fato motivou a procura por novas drogas anticonvulsivantes pela indústria e cada vez mais o canabidiol (CBD) se tornou objeto de pesquisa na academia.

Palestra
O processo metodológico de Isabel passa por experimentos com camundongos, que, a partir da introdução da pilocarpina (PILO), substância capaz de levar os animais ao Status Epilepticus (SE), para investigar a participação da enzima PI3K sobre crises convulsivas e sobre a produção de fatores neurotróficos e mediadores inflamatórios. Após induzir os roedores ao SE, foram aplicados testes de reconhecimento de objetos e de medo condicionado. Nessa primeira fase, chegou-se à conclusão de que 70% dos camundongos atingiram o SE e não houve morte. A respeito da PI3K conclui-se parcialmente que a sua ausência prejudica mecanismos de proteção.

No momento seguinte, o canabidiol foi inserido na pesquisa como forma de tratamento dos camundongos e também em experiências em vidro. A presença do CBD diminuiu convulsões induzidas por PILO, reduziu a morte neuronal nos animais e apresentou efeito neuroprotetor em vidro. Concluiu-se que o CBD pode atuar de forma direta ou indireta na diminuição de crises e na diminuição da morte neural.

A grande dificuldade da pesquisa foi obter o CBD, pois, mesmo com a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da importação do CBD para fins medicinais, ainda há muita burocracia para a obtenção da substância para a pesquisa, sendo permitida a importação somente com autorização médica. Tais dificuldades fizeram com que a pesquisa se mantivesse focada na epilepsia de forma aguda induzida pela POLI.

“O intuito de um futuro prosseguimento da pesquisa envolve o estudo com a epilepsia em sua forma crônica, que só será possível com a obtenção de canabidiol em maior quantidade, o que será importante para entender os efeitos adversos do uso do CBD”, conta Isabel.  

Próximas palestras
A palestra desta terça marcou o fim do Ciclo neste semestre. Contudo, já está confirmada a continuidade do projeto no próximo semestre, com as datas a serem confirmadas.