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Série de três notícias aborda diferentes gerações de estudantes na UFJF

Universidade é local para jovens? Nem sempre. O estereótipo é questionado pela média de idade dos estudantes de graduação e pela presença de idosos. Enquanto a faixa etária geral dos alunos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é de 23 anos, no curso de Artes e Design a média sobe para 36 anos. Em Ciência da Religião, salta para 43 anos (veja no quadro abaixo). Os institutos e as faculdades somam 37 estudantes com mais de 60 anos.

A média é elevada pela possibilidade que a UFJF oferece a profissionais cursarem nova graduação, ocupando vagas ociosas nos cursos. Os editais atraem estudantes que já se estabilizaram na profissão, aposentaram-se ou querem complementar a formação. É o caso da estudante mais idosa da instituição, a aluna de Ciência da Religião, Zâine Baptista Pinto, de 72 anos, em sua terceira graduação.

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(Fonte: CGCO/UFJF)

Nesta segunda notícia da série “Gerações na UFJF”, conheça a história de Zâine e de Alexandre Carvalho, que deixou a Engenharia para ir à Música, e de Marcos Paiva, calouro de Letras com dois romances sendo escritos. A última notícia especial, acompanhada da nova edição do “Vida de Universitário”, será publicada na próxima terça, 27.

Sexto curso e 120 km

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Aluna mais idosa da UFJF, Zâine Baptista, aos 72, cursa Ciência da Religião (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Aos 72 anos, Zâine Baptista enfrenta diariamente os mais de 60 quilômetros que separam Mar de Espanha, na Zona da Mata mineira, de Juiz de Fora, para completar a graduação. A oportunidade de estudar na Universidade surgiu em uma conversa com sua sobrinha, que soube do edital de Vagas Ociosas. Como se interessava pela temática da religião, Zâine resolveu aventurar-se em mais uma graduação.

“Fiz a prova em 2014 e estou aqui, feliz da vida. O curso amplia muito o leque de conhecimento, você muda os conceitos, a mentalidade, a forma de se relacionar com os outros, o convívio é outro. Você se dá nova vida. Enquanto tem tanto jovem procurando o que não quer, estou aqui por prazer de aprender. Os professores são excelentes, e o entrosamento tem sido muito bom”, afirma a estudante, que se prepara para desenvolver projeto de pesquisa na área, para finalizar o curso.

Em meio à rotina agitada, Zâine trabalha durante o dia na Santa Casa de Mar de Espanha e desenvolve trabalhos em sua comunidade ao longo da semana. No currículo, traz duas graduações, duas especializações e um mestrado. É graduada em Letras e Pedagogia; especialista em Gestão Hospitalar e em Teologia e mestre em Letras. Quando perguntada se não se cansava com a rotina extensa, brinca: “Não me canso, quem tem que cansar é o ônibus que me traz.”

Com os amigos, Zâine se tornou divulgadora da UFJF, tendo trazido amigos para fazer outras graduações. Continuará estudando? “Não vou parar por aqui não. Pretendo fazer uma especialização na área”, conclui.

Da Engenharia para o sonho da Música
Já não é a primeira vez que Alexandre Zuchi Carvalho, 65 anos, é aluno de graduação na UFJF. Formado em Engenharia Elétrica, em 1977, Alexandre sempre teve o sonho de fazer Música, mas a ausência do curso em Juiz de Fora e a falta de liberdade nos tempos de regime militar sempre foram empecilhos para ele, que acabou optando pelo curso de exatas.  

Aposentado desde 2011, Alexandre retornou à Universidade para buscar novo conhecimento, mas não encontrou a Música em um primeiro momento. “Não sabia que tinha música aqui, então fui para Filosofia”, confessa. Enquanto aguardava o Enem, cursou disciplinas isoladas no Instituto de Ciências Humanas e, somente no dia do exame, descobriu que a UFJF possuía o bacharelado que sempre desejou. Foi o bastante para abandonar a Filosofia e buscar o curso de seus sonhos.

No período em que aguardava o resultado do Enem, o aposentado descobriu que havia o edital de Vagas Ociosas aberto para a modalidade Composição do curso de Música. “Quando sentei em sala na primeira aula, ainda na Filosofia, foi muito gratificante. Minha família sempre me deu muita força para voltar a estudar, sempre gostei muito. A minha profissão foi muito mais ligada à subsistência familiar do que a uma realização pessoal, por isso cheguei a estudar Física, Filosofia e Ciência da Religião. Para mim, fazer música é a realização de um sonho”.

Para Alexandre, a graduação traz uma diversidade de novas experiências, como o contato com alunos mais novos, que chegam a ter 40 anos a menos. “É maravilhoso, aprendo muito com eles. Na minha cabeça, somos muito parecidos. Sempre tive uma postura adolescente, sou muito Peter Pan, não quis envelhecer.”

Com previsão de conclusão de curso para 2019, Alexandre começa a planejar seu futuro após a graduação. Trabalhar com composições, entrar para o magistério e realizar um mestrado e doutorado. “Quero fazer uma carreira profissional dentro daquilo que gostaria de ter feito no passado.”

Médico, calouro e escritor

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Marcos Paiva fez Medicina há 41 anos e começou Letras em março de 2017 (Foto: Gustavo Tempone/UFJF)

Assim como Alexandre, Marcos Guimarães Paiva tem 65 anos e conhece bem a Universidade. Formado em Medicina pela UFJF, retornou ao campus após 41 anos para sua segunda graduação. Desta vez, o gosto pela literatura e a vontade de conhecer novas línguas trouxeram o médico para o curso de Letras.  

“Sempre quis estudar Medicina, mas Letras sempre fez parte do meu foco. Nunca foi uma segunda opção, mas me interessava. Não estudo por hobby, é algo que me interessa de fato e que me dá prazer e me ajuda a viver. O estudo sempre fez parte da minha vida, auxilia-me a viver”, afirma o calouro, que ingressou na Universidade por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Durante o processo de seleção, o médico sofreu com a desconfiança de seus três filhos, mas sempre manteve boas expectativas sobre aquilo que encontraria em sua nova graduação. “Eles acharam que eu não iria gostar, que enfrentaria outras situações, já que são outros tempos, mas vim predisposto a gostar pelo fato de gostar de estudar. E estou gostando. Hoje eles me perguntam como está sendo. Afirmo que é algo prazeroso, e eles se sentem felizes por mim.”

Fã de Clarice Lispector, Machado de Assis, Guimarães Rosa e  Rachel de Queiroz, Marcos tem vocação para contar histórias, com dois romances em andamento. Para ele, o curso de Letras pode auxiliá-lo no processo de produção do livro, pois apresenta novas técnicas e autores, dicas e conselhos de professores experientes.

De acordo com o estudante, a oportunidade de conhecer novas áreas e retomar os estudos deveria ser aproveitada por todos, em qualquer fase da vida, indo além de uma mera ocupação do tempo. “É muito proveitoso retomar os estudos, pois abre novos horizontes. Para mim, estudar significa aprender e ensinar, uns aprendendo com os outros. É gratificante demais.”

Vagas ociosas
Qualquer profissional graduado pode se candidatar a uma vaga na UFJF, seja por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que faz o processo seletivo com base na nota do Enem mais recente, ou pelo edital de vagas ociosas.

Nesse edital, são disponibilizadas vagas que “sobraram” nos cursos para interessados que se encaixam em várias categorias, entre elas transferência e graduados. O próximo período de inscrição nessas vagas, no campus em Juiz de Fora, será nos dias 25 e 26 de outubro. As orientações estão disponíveis no site da Coordenação de Assuntos e Registros Acadêmicos (Cdara).

Leia a primeira notícia da série “Gerações na UFJF”
Aluno mais novo supera em cinco anos a média de idade de ingresso na UFJF