A oferta de atendimento de qualidade no sistema de saúde público está diretamente relacionada com as boas práticas de enfermagem e a construção de uma sociedade democrática, tema central da 78ª Semana Brasileira de Enfermagem, que teve adesão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A dimensão política do cuidar e a valorização da pessoa como sujeito, antes do diagnóstico e da clínica, foram enfatizados pelos palestrantes que participaram da mesa redonda, nesta sexta-feira, 12, no Auditório Elisabeth Rombach.
O professor Marcelo da Silva Alves disse que o assunto está em debate há pelo menos 30 anos e foi eleito como um dos princípios ideológicos do Sistema Único de Saúde (SUS). A saúde para todos, defendida em 1980, não se tornou realidade até hoje, disse o professor, que preferiu enfocar o tema chave considerando os conceitos e não os valores. Marcelo Alves vê a enfermagem como prática social, porém constata a permanência do domínio da biomedicina, que atua sobre sinais e sintomas e reforça o modelo de atuação fragmentado. “Qualquer teoria fala que a enfermagem é a relação do enfermeiro com o usuário, a família e a comunidade. Para construir uma sociedade democrática, não podemos fragmentar o corpo da mente e da alma. É necessário pensar no sujeito que habita o corpo. Só se faz enfermagem com construção democrática na ação com o sujeito”, afirma.
A questão foi tratada pela professora da Universidade de Viçosa (UFV), Beatriz Santana Caçador, dentro da perspectiva de um exercício de resistência no momento em que, segundo ela, as conquistas sociais estão ameaçadas no país. Na luta pela cidadania, ela ressalta que saúde é uma produção social, um direito conquistado, que precisa acontecer no SUS. “A ética da prática está muito ligada à dimensão política em relação à mobilização pelas 30 horas semanais de trabalho, pela manutenção dos direitos já conquistados e contra a precarização das ações.” A dimensão ética do dever, impulsionada pela lei, e da virtude, motivada pelo valor, foi destacada pela professora no momento em que incentivou acadêmicos a se dirigirem para locais mais frágeis, de forma a proporcionar transformações no cotidiano.
Questões trabalhistas devem ser abordadas pela Câmara dos Deputados tão logo a Reforma da Previdência seja apreciada. Ivan Adriano Ribeiro, que se pronunciou em nome dos técnicos do Hospital Universitário (HU), repassou a informação e conclamou o diálogo com os enfermeiros, lembrando que os profissionais convivem diariamente com a vida e a morte, o que exige estrutura psicológica. Na opinião dele, a enfermagem deve ser voltada para a justiça social e a igualdade.
Abertura
Durante abertura da Semana de Enfermagem, a diretora da Faculdade, Denise Barbosa de Castro Friedrich, disse que o tema do evento é coerente com o momento do país. Ela lembrou que a enfermagem responde pelo cuidado com a saúde e a vida, trabalha com demandas físicas e emocionais que estão impactando a vida do brasileiro, principalmente o mais vulnerável. O pró-reitor adjunto de Graduação, Cassiano Amorim, que representou o reitor Marcus David, também considerou a época propícia para a discussão, que envolve o papel da universidade pública responsável pela formação cidadã.
A mesa também foi integrada pela ouvidora do HU e representante da direção do hospital, Rejane Guingo; o coordenador do curso de Enfermagem, Thiago César Nascimento, e a coordenadora do mestrado em Enfermagem, Anna Maria de Oliveira Salimena. O evento, que ocorre no Dia do Enfermeiro, prossegue à tarde com mesa redonda sobre as boas práticas de enfermagem e participação de Rejane Guingo, Maria das Dores de Souza, Kelli Borges dos Santos e Beatriz Farah.