(Foto: Victor Marcelino)

Doutora Raquel Barroso Silva abriu o 1º Seminário Interno do Núcleo de Estudos em História Social da Política (Foto: Victor Marcelino)

A identidade nacional de um povo se baseia em múltiplos pilares, sendo o teatro um deles, ao representar aspectos sociais, culturais, e até mesmo econômicos de uma nação. Em sua tese de doutorado, Raquel Barroso Silva pesquisou como se caracterizava o teatro nacional, no Rio de Janeiro, durante o século XIX. Ela expôs os resultados no 1º Seminário Interno do Núcleo de Estudos em História Social da Política (Nehsp), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A conferência “Teatro ligeiramente nacional no Rio de Janeiro do século XIX” abriu o evento, que acontece até quinta-feira, 4, no Anfiteatro II do Instituto de Ciências Humanas.

Segundo Raquel, até 1830, as apresentações teatrais que aconteciam no Brasil eram de textos estrangeiros, e muitas vezes contavam com elenco estrangeiro, o que resultava em muitas críticas por parte dos “homens de letras” da época. A pesquisadora analisou textos e críticas publicadas em jornais do século XIX e conferiu que “os cidadãos letrados consideravam irônico o prédio do Teatro Nacional ter este nome, quando não havia uma arte devidamente nacional sendo apresentada nele”.

Por volta de 1840, as peças teatrais escritas em solo brasileiro ganham uma tônica romântica, moralista e patriótica, na qual brasileiros e portugueses são diferenciados uns dos outros, embora o teatro continue cumprindo seu papel de manutenção do poder real. “Em nenhum outro momento houve tantos teatros e peças em cartaz quanto no século XIX. A princípio, este era um entretenimento da Corte, mas espetáculos voltados para diferentes perfis sociais começaram a surgir, e logo o teatro se tornou uma atividade cultural extremamente popular no Império”, afirmou Raquel.

O envolvimento dos diferentes atores sociais aumentou gradualmente, conforme estes começaram a ser mais fielmente retratados em obras de autores locais, como Orfeu na Roça, de Ator Vasques, apresentada pela primeira vez em 1868, parodiando a opereta Orfeu no Inferno, de Offenbach. Com esta obra, o teatro brasileiro deu início ao desenvolvimento mais numeroso de peças humorísticas e comédias, muitas vezes paródias de obras estrangeiras. Este teatro foi visto pelos homens de letras como “Teatro Ligeiro”, e considerado, segundo análise das críticas veiculadas no século XIX, como inferior ao teatro nacional, que possuía um tom mais rígido.

“O teatro ligeiro cativava o povo, independente da classe social, colocava todas as classes em cima do palco, sendo acusado pela morte do teatro nacional. As críticas feitas são saudosistas à fase anterior do teatro, o estilo teatral contemporâneo nunca era bom o suficiente”, observou Raquel.

Além da conferência, foram realizadas também mesas redondas com a participação de alunos de Mestrado e Doutorado em História, vinculados ao Nehsp, que tem como objetivo estimular a pesquisa e a produção de conhecimento na área de História, tendo a política como tema central, e adotando enfoques sobre o enraizamento dela nas práticas sociais e o significado que possui para os atores envolvidos. A programação dos próximos dias podem ser conferidas no site do evento.

Mais informações:
Núcleo de Estudos em História Social da Política