Os estudos envolvendo células-tronco instigam a curiosidade e alimentam a esperança de pesquisadores. Durante o seu procedimento de cultura, é colocado no meio de cultivo uma substância conhecida como soro fetal bovino, de origem animal, e que atua como um alimento para a célula. No entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe o uso desse componente nos estudos que envolvam humanos.
Com o intuito de encontrar uma substância substitutiva ao soro fetal bovino, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PGCBIO), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marizia Trevizani desenvolveu o estudo “Avaliação dos efeitos de peptonas vegetais como substituto do soro fetal bovino em cultura de células-tronco da polpa dentária decídua humana.”
A mestranda explica que o soro fetal bovino é extraído do coração do bezerro e, por isso, o componente pode variar de acordo com a origem do animal e sua criação. “Quando a vaca está grávida e, por volta do terceiro mês de gestação, ela é abatida, eles retiram o bezerro e coletam o sangue. Entretanto, existem algumas leis que proíbem o uso de células-tronco que tenham sido cultivadas com soro fetal bovino por não ser permitido usar nada de origem animal em procedimentos, como a terapia celular ou tentativas de transplantes.”
A proibição da Anvisa se baseia na possível contaminação das pessoas que receberiam as células cultivadas por meio do soro fetal bovino. “Por ser de origem animal, ele pode vir com bactérias, fungos e vírus, por exemplo. Na hora de transplantar para um paciente, o componente poderia trazer algum problema de saúde.”
A partir destas questões, o estudo buscou testar a eficiência de outros componentes que poderiam ser substitutivos ao soro fetal bovino. A mestranda optou por utilizar proteínas hidrolisadas, conhecidas cientificamente como peptonas vegetais. “Oferecemos para a célula, no lugar do soro fetal bovino, três opções de peptonas vegetais. Avaliamos a eficácia do trigo, ervilha e soja por meio de testes que analisaram a morfologia da célula.”
O estudo utilizou células-tronco da polpa dentária extraídas de dentes de leite. De acordo com a mestranda, as três peptonas vegetais conseguiram se proliferar nas células. No entanto, o trigo obteve o melhor desempenho nos testes. “Cada uma dessas peptonas é formada por quantidades diferentes de aminoácidos e relacionamos esse melhor desempenho aos números encontrados no trigo, pois comparado ao soro fetal bovino, ele se mostrou mais eficiente do que a ervilha e a soja.”
Além dos benefícios à saúde do paciente e adequação à lei, os resultados da dissertação podem contribuir para diminuir o custo do procedimento de cultivo. “A substituição por peptonas vegetais é interessante, pois a compra do soro fetal bovino representa cerca de 80% do valor gasto com a cultura das células”.
Para o professor orientador da pesquisa, Carlos Magno da Costa Maranduba, o trabalho apresenta uma nova perspectiva aos estudos envolvendo células-tronco. “A Marizia deu um passo importante no sentido de mostrar que é possível substituir o soro bovino, colocando um componente de origem vegetal. Talvez, futuramente, seja preciso colocar algo no meio de cultivo para que as peptonas vegetais tenham um desempenho semelhante ao soro.”
Contatos:
Marizia Trevizani (mestranda)
marizia_tr@yahoo.com.br
Prof. Dr. Carlos Magno da Costa Maranduba (Orientador – UFJF)
carlos.maranduba@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Carlos Magno da Costa Maranduba (Orientador – UFJF)
Fabiano Freire Costa (UFJF)
Mateus Rodrigues Pereira (Faculdade Estácio de Sá)
Outras informações: (32) 2102-3220 – Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PGCBIO)