Apite vídeo documentário 1 Foto Divulgação

Cena do vídeo documentário “Apite” que narra as descobertas por onde os pesquisadores passaram nas estradas de ferro e entorno (Foto: Divulgação)

Em busca de vestígios, manifestações, relatos e lugares que ancoram a história do sistema ferroviário no Brasil, o projeto de extensão Memória Ferroviária da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem como objetivo resgatar a memória da presença do trem em seis municípios da Zona da Mata. O trabalho é desenvolvido nas cidades de Juiz de Fora, Matias Barbosa, Ewbank da Câmara, Antônio Carlos, Santos Dumont e Barbacena desde 2013, analisando dados sobre a ferrovia na região.

As atividades buscam identificar os patrimônios culturais ferroviários, presentes nos municípios, catalogando-os em um inventário, como patrimônios materiais – casas dos maquinistas, estruturas arquitetônicas, acervos documentais de sindicatos e familiares dos trabalhadores ferroviários; e de patrimônios imateriais, expressões culturais e  tradições que são preservadas no tempo, como uma escola de samba e um time de futebol que foi criado em Santos Dumont pelos trabalhadores da linha férrea.

Além do levantamento de dados patrimoniais, o projeto é articulado à preservação da história destes municípios com a comunidade que está inserida na pesquisa: “O trabalho que é feito junto com a comunidade surge da ideia de trazê-los como parte desta história que se perpetua na caminhada. Queremos que eles possam se motivar com o assunto porque, assim, poderão ter mais consciência da preservação cultural destes patrimônios. Nosso desejo vai além do trabalho que é feito quando estamos lá, mas é o de sensibilizar para que a comunidade  possa desenvolver diversos outros projetos buscando retomar essa preocupação”, afirma o coordenador do projeto de extensão e professor do curso de História, Marcos Olender.

Visando essa parceria com os moradores da cidade, foram desenvolvidas atividades que procuravam valorizar a história das ferrovias. Mostras culturais, com palestras educativas e exposições de peças de arte, faziam parte das programações que auxiliavam no papel de informar e fortalecer o contato com a preservação das histórias dos municípios. Além disso, cartilhas didáticas, foram elaboradas com os dados obtidos nos levantamentos feitos nas cidades, com o propósito de estimular o interesse da comunidade no trabalho de preservação patrimonial.

O projeto de extensão é feito por alunos da UFJF, criando uma multidisciplinaridade para o desenvolvimento das atividades. Um dos trabalhos realizados pelos estudantes foi a elaboração do vídeo documentário “Apite”, que narra as descobertas, por onde os pesquisadores passaram nas estradas de ferro e entorno. O documentário participou do Festival Primeiro Plano em 2014 e também da 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes em 2015.

Segundo o ex-bolsista do projeto e graduado em Comunicação na UFJF, Matheus Engenheiro, participar do projeto trouxe uma importância para a valorização da memória que é perdida ao longo do tempo. “O projeto foi uma grande oportunidade  durante minha graduação. Além de fazer parte do trabalho audiovisual, a oportunidade de conhecer cidades diferentes e poder transformar estas memórias em um produto faz com que deixemos vivo essas riquezas culturais. É uma experiência incrível de reviver a memória e que precisa ser resgatada por todos.”

No Brasil, o trem teve papel importante por um grande período, principalmente, na época imperial, integrando regiões e escoando a produção do interior até os mercados consumidores e os portos. Grande parte das ferrovias da Zona da Mata foi desativada nas décadas de 60 e 70, e cidades que tinham sua economia impulsionada por esse meio de transporte ficaram perdidas no tempo e na memória.

“Memórias Ferroviárias” foi premiado em 2016 na Mostra de Ações de Extensão na categoria Cultura.