O estudante Matheus de Andrade apresenta Vale do Paraibuna Connection, todas as terças, às 13h (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)
Por onde você costuma se informar? Você está inteirado sobre os assuntos do mundo todo? Sabe o que anda acontecendo no Oriente Médio ou mesmo na América Latina? Pensando em dar maior profundidade a tópicos internacionais, o aluno da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Matheus de Andrade, produz o Vale do Paraibuna Connection, programa de rádio que trata de política internacional e outros assuntos pouco abordados pela mídia tradicional. O programa vai ao ar às terças-feiras, a partir das 13h, na Rádio Facom 103,9 FM.
O projeto começou em março de 2015, mas já vinha sendo trabalhado por Andrade por meio do blog homônimo. Segundo o estudante, transformar o conteúdo da plataforma on-line em um programa de rádio veio pelo incentivo da própria faculdade, que encoraja os alunos a terem mais contato com o veículo pela Rádio Facom. “Eu não tinha a intenção de fazer rádio desde que escolhi jJornalismo, mas por essa possibilidade, fui gostando e vi que tinha a chance de fazer um programa interessante e oferecer um conteúdo relativamente básico, mas com alguma profundidade. Foi muito difícil no começo, mas depois você vai pegando o jeito, chama alguns convidados que possam agregar e acaba tentando fazer o melhor possível.”
Edições de destaque
Com apenas um mês, o Vale do Paraibuna Connection obteve reconhecimento internacional. Convidado a participar do programa especial sobre os cem anos do Genocídio Armênio, o professor do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFJF, Antonio Campolina, recebeu um certificado e o encaminhou ao Consulado Armênio, em Erevan, na capital do país. Segundo Andrade, houve uma boa receptividade em relação ao programa, o que foi, para ele, “o auge do projeto como um todo até agora”.
Com foco na América Latina, Matheus também recebeu no programa, o peruano e mestrando em História pela UFJF, Yobani Maikel, para discutir assuntos de seu país e do continente. “Falando com muitas pessoas aqui no Brasil, elas têm desconhecimento do que acontece na América Latina ou no mundo. Esse tipo de programa ajuda que as pessoas fiquem perto das notícias sobre a política da América Latina, sobre as ditaduras, sobre as democracias, e mesmo sobre a literatura, de que também conversamos a respeito durante o programa”, avalia Maikel.
Professor da Facom da UFJF, Paulo Roberto Figueira Leal também participou do Vale do Paraibuna Connection, sobre o resultado das eleições no Reino Unido e, também, de uma edição especial sobre as eleições norte-americanas. O professor destaca a importância dos temas abordados, em especial os que não possuem tanta presença na grande mídia. “Esse programa trata de temáticas que aparecem menos do que deveriam na cobertura tradicional. Ele permite agendar discussões muito relevantes para um público que, por vezes, pode não ter instrumentos para acessar esses assuntos e debatê-los por outras vias”, considera.
O programa e o blog também foram uns dos primeiros do país a abordar o fato de o Brasil ter se tornado o quarto maior exportador de armas de pequeno e médio porte no mundo, além do uso desses armamentos na Guerra Civil do Iêmen. A partir do relatório de Jefferson Nascimento, da ONG Conectas Direitos Humanos, sobre a expansão do Brasil na área e a relação com o Iêmen, Matheus fez um levantamento a respeito do tema e escreveu o texto para o blog, sendo uma das postagens com maior número de acesso. O assunto apenas ganhou mais destaque recentemente, após um artigo de Robert Muggah, do Instituto Igarapé, também publicado pela Folha de S. Paulo.
Informação
Para abarcar a maior diversidade de temas e com a preocupação em mostrar lados diferentes das histórias, além dos principais veículos do mundo, como The New York Times, BBC News e El País, Andrade também procura jornais do Oriente Médio, como Haaretz, de Israel, e Egypt Independent, do Egito. Uma das principais inspirações do estudante sobre jornalismo independente com análise internacional é El orden mundial en el s. XXI, iniciativa espanhola que, como ele, parte de “análises mais básicas sobre os principais assuntos do mundo, mas também tentando voltar para aquilo que é menos conhecido”.
O estudante afirmar que, há poucos anos tinha uma lista de quantos veículos acessava por dia. Hoje, com a conta perdida, ele avalia que a internet é um caminho para multiplicar o acesso à informação. “Por exemplo, não é mais cabível ver o que está acontecendo em uma guerra como a da Síria, tendo base apenas dos principais veículos do mundo, porque há um posicionamento. Há uma tendência normalmente atrelada a um lado do conflito. Hoje você pode, ao mesmo tempo, ler The New York Times, que vai expressar as ideias norte-americanas, e também ler uma agência síria de notícias, como a Sana, que está disponível em espanhol, inglês, e várias outras línguas. A internet dá essa possibilidade de acessar múltiplas fontes, e acho que você tem que estar ligado o tempo todo”.
Para Andrade, inteirar-se mais sobre diferentes assuntos ajuda na formação humana e na compreensão da globalização e esta seria uma das principais contribuições do Vale do Paraibuna Connection. “Justamente tentar dar essa ideia de que o Brasil vai se inserir cada vez mais no núcleo global e o que está acontecendo em outra parte vai influenciar cada vez mais nossa vida. Estar mais conectado com o outro cria uma responsabilidade muito grande, porque te obriga a conhecer mais esse outro. Você diminui a ignorância, o extremismo, a xenofobia e o preconceito. O mais importante no mundo cada vez mais globalizado é tentar conhecer o outro para diminuir esses tipos de problemas”, afirma.
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