Foto: REUTERS / Vasily Fedosenko

O desastre de Chernobyl possuía uma chance menor do que 0,0001% de ocorrer; sua concretização foi o pior cenário imaginável (Foto: Reuters / Vasily Fedosenko)

Marcando o primeiro dia da 39ª Semana da Engenharia, o professor Francisco José Gomes ministrou a palestra “Chernobyl: o maior acidente de engenharia da humanidade”, nesta segunda-feira, 12. Ao longo da apresentação, o professor abordou as particularidades dos diversos tipos de centros de energia nuclear e os fatores que agiram na explosão da usina soviética, em 1986. Segundo ele, sua intenção é causar uma reflexão para os futuros engenheiros sobre a necessidade do profundo conhecimento sobre os elementos com os quais se trabalha e do planejamento minucioso nos processos.

O que aprendemos? 

Em meio à Guerra Fria — durante os governos de Ronald Reagan nos EUA, e de Mikhail Gorbachev na URSS –, a catástrofe só foi percebida pelo mundo quando níveis anormais de radiação foram detectados nos países escandinavos, sendo abafada pelo Estado soviético. O acidente, classificado pelos especialistas como “Síndrome da China” (quando o fluido de resfriamento do núcleo se dissipa, causando uma reação incontrolável), seria o pior cenário imaginável, com uma probabilidade menor do que 0,0001% de ocorrer.

Conforme Gomes, a controversa matriz energética é possível devido ao princípio de “defeito de massa”, observado nas partículas de urânio. A massa de um átomo desse material é maior do que a soma da massa de seus componentes, separadamente. Essa diferença de medida se converte em energia térmica, utilizada nas usinas para gerar energia elétrica. A primeira etapa desse complexo processo parte do enriquecimento do urânio — por meio da ultracentrifugação ou da difusão gasosa –, para que este se torne radioativo o suficiente. Feito isso, o material é depositado no reator da usina, onde seu átomo é quebrado, expelindo íons em alta velocidade. Esses íons, então, se chocam com outros átomos de urânio, desencadeando uma cadeia de fissões nucleares.

Segundo o palestrante, a intenção é sua intenção é alertar  futuros engenheiros sobre a necessidade do profundo conhecimento sobre os elementos com que trabalham e suas consequências (Foto: Luís Carlos Lima)

Segundo o palestrante, a intenção é sua intenção é alertar futuros engenheiros sobre a necessidade do profundo conhecimento sobre os elementos com que trabalham e suas consequências (Foto: Luís Carlos Lima)

A energia térmica gerada na quebra desses átomos é utilizada para aquecer a água que envolve o reator, podendo estar em contato direto com o urânio ou não, dependendo do tipo de usina. O vapor dessa água movimenta as turbinas do gerador, sendo convertida, enfim, em energia elétrica.

Construída na Ucrânia, em 1970, Chernobyl seguia um novo modelo de usina, representando um orgulho da engenharia soviética. Seu núcleo muito largo, abastecido por urânio pouco enriquecido, tinha como produto adicional aos 1500 megawatts de energia gerada, a criação de plutônio (utilizado para fins bélicos), resultado do processo de fissão. Para que esse plutônio pudesse ser constantemente retirado do núcleo, não havia qualquer tipo de isolamento neste. Seu reabastecimento com urânio também era realizado com o reator em pleno funcionamento.

Após ter compartilhado os conhecimentos técnicos necessários para a compreensão do processo, Gomes passou a narrar o passo-a-passo do acidente. Esses fatos, ele explicou, foram reconstituídos durante a investigação do governo russo, a partir de testemunhos e registros dos funcionários da usina. Segundo o professor, os responsáveis pelo centro nuclear decidiram realizar um teste, durante o desligamento do reator para manutenções. A intenção deles era verificar se a inércia da turbina do gerador seria suficiente para abastecer os sistemas auxiliares da usina, mesmo com o reator fora de funcionamento.  Para isso, todos os sistemas automáticos de segurança foram desligados.

Começou, então, a sequência de erros que culminou no acidente, combinando falhas humanas com defeitos de projeto. Em princípio, o dia do teste coincidiu com a páscoa, e a maior parte dos funcionários mais experientes receberam folga. Além disso, no meio da experiência ocorreu a troca de turnos, e a equipe noturna que assumiu não havia participado dos treinamentos para o teste. O resultado foi uma série de tentativas frustradas de estabilizar o núcleo, que acabaram gerando uma queda drástica na potência do reator, seguida de um aumento súbito, que culminou na explosão.

Após o acidente, milhares de pessoas foram atingidas direta ou indiretamente pela radiação. A nuvem se espalhou por diversos países do hemisfério norte. Tentando conter a contaminação, o governo lacrou os restos da usina num sarcófago de metal e concreto. Pouco resistente, essa estrutura já apresenta rachaduras e vazamentos, sendo necessário construir uma nova tumba, financiada por um consórcio internacional. 

Disputas de robôs, na categoria Sumô Lego, é organizada pela equipe de robótica da Faculdade de Engenharia (Foto: Caique Cahon)

Disputas de robôs, na categoria Sumô Lego, é organizada pela equipe de robótica da Faculdade de Engenharia (Foto: Caique Cahon)

39ª Semana da Engenharia

Com uma programação que se estende até sábado, dia 17 de setembro, a 39ª Semana da Engenharia é promovida pelo Diretório Acadêmico, em parceria com o Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE)e os demais segmentos da Faculdade de Engenharia. O destaque dos próximos dias são as competições de construção de pontes de papel e de sumô com robôs construídos com peças Lego, organizadas pelo PET Civil e pela equipe de robótica, respectivamente. Ambas acontecem nesta quarta-feira, dia 14, a partir das 14h.