23º Encontro Mineiro de Empresas Juniores (Foto: Luiz Carlos Lima)

Rene  Silva dos Santos: “Quando saiu na TV ‘morador do Alemão faz cobertura ao vivo da ocupação’, minha mãe enlouqueceu. Me mandou sair do computador. Pouco depois, o jornal anunciou ‘parece que a situação está mais tranquila, agora, estamos tendo poucas novidades no twitter’, eu falei ‘mãe, tenho que voltar!’ (Foto: Luiz Carlos Lima)

“Eu maior, nós maiores e Minas melhor” foi o tema que guiou as atividades realizadas nessa edição do 23º Encontro Mineiro de Empresas Juniores (Emej), esse ano sediado em Juiz de Fora. O fio condutor foi a disseminação da estratégia do movimento de empresas juniores: crescimento rápido e alto impacto. Para expor esse ideal, o evento ofereceu um conteúdo mais prático e reflexivo aos participantes – cerca de 425 membros de 80 empresas mineiras e de outros estados -, propondo uma mudança de visão, que mire não a escassez de recursos, mas a riqueza de soluções oferecida pelo ambiente.

Coordenador Geral do Emej nessa edição, Pablo Andery Busatte explicou a proposta. “Pensando no movimento de empresas juniores como um ser vivo, cada empresario é uma célula, que cresce até se dividir por mitose, multiplicando-se. Assim, o organismo cresce. Essa analogia serve para transmitir para os participantes a ideia de que é uma necessidade crescer com maior rapidez. O movimento já existe no Brasil há cerca de 30 anos, com uma boa expressividade. Mas se tivesse havido um trabalho mais intenso antes, nosso impacto já estaria maior. Por isso, nós precisamos acelerar esse processo”.

Falando sobre executar projetos com os recursos que se tem disponíveis, os organizadores convidaram como palestrante, nesse sábado, dia 3, um jovem empreendedor da comunicação, com 22 anos de idade e 11 de experiência profissional.

Fundador e editor-chefe do jornal “Voz das Comunidades”, Rene Silva dos Santos, iniciou no jornalismo a partir do folhetim de seu colégio, enquanto ainda estava na 5ª série. Vendo que as demandas estudantis publicadas no veículo encontravam resultados e obtinham resposta dos órgãos públicos, decidiu aplicar a mesma lógica em sua comunidade.

Tendo como colaboradores amigos da mesma idade, e com o apoio de seus professores para conseguir equipamentos, Rene fundou o “Voz” – inicialmente, xerocado numa folha A4 -, que passou a circular no Morro do Adeus (parte do Conjunto de Favelas do Alemão, no Rio de Janeiro), onde mora, trazendo os acontecimentos e as demandas locais. Nesse cenário pré Unidades de Policia Pacificadoras (UPPs), ele comenta, a mídia não entrava na comunidade. Por isso, o esforço do recém-nascido jornal era divulgar projetos realizados no morro e que não encontravam repercussão fora dali.

O primeiro desafio foi conseguir o apoio dos comerciantes locais, que desconfiavam que as crianças estivessem, sozinhas, realizando aquele projeto. Aos poucos, Rene conquistou confiança e a novidade correu, de boca em boca. Logo, o comércio do Adeus passou a anunciar no jornal, custeando os gastos com a edição.

Ocupação do Complexo do Alemão

A grande explosão do empreendimento, no entanto, só veio em 2010, na ocupação do Complexo do Alemão. Respondendo os cerca de 500 amigos e conhecidos que o seguiam no Twitter e perguntavam sobre a situação, Rene passou a ser repercutido por 15 mil seguidores, entre eles, alguns importantes formadores de opinião.

“Quando saiu na TV ‘morador do Alemão faz cobertura ao vivo da ocupação’, minha mãe enlouqueceu. Me mandou sair do computador. Pouco depois, o jornal anunciou ‘parece que a situação está mais tranquila, agora, estamos tendo poucas novidades no twitter’, eu falei ‘mãe, tenho que voltar!’”, contou Rene, rindo.

A preocupação da mãe encontrou eco em alguns dos seguidores, que sugeriram que ele continuasse a noticiar pelo perfil do jornal, onde estaria mais seguro. Dessa forma, sua conversa com os amigos se transformou numa cobertura em tempo real, que lhe rendeu premiações, como a oferecida pelo “The New York Times” para melhor inovação nas redes sociais.

Depois disso, o “Voz” passou a receber convites para parcerias de todos os lados, entre elas, o projeto realizado em conjunto com o Consulado dos Estados Unidos (EUA), para intercâmbio entre jovens do Alemão e do Harlem. O próprio Rene saiu do Brasil em algumas ocasiões, como quando foi convidado para conduzir a tocha olímpica em Londres, em 2012.

Atualmente, o “Voz das Comunidades” acrescentou ao jornal impresso – agora publicado no formato tabloide, sendo rodado em 10 mil exemplares por edição – um portal de notícias, no qual são publicados artigos de pessoas em diversas comunidades no país. Sua equipe fixa conta com oito pessoas e seu planejamento incluiu a realização de ações em datas comemorativas, como a produção de shows anuais no Alemão.

Quando questionado sobre seu interesse em cursar jornalismo, Rene é rápido em explicar: “Eu recebi algumas ofertas de bolsas de estudo, mas estou muito dedicado a esse projeto. Às vezes, o apego às coisas institucionais prende as pessoas. E é interessante como empreendedorismo surge da necessidade. A gente vê isso nesses grandes casos de superação, nas Olimpíadas por exemplo, que frequentemente vem de pessoas de lugares onde se luta para sobreviver. O empreendedorismo existe na favela desde que a favela existe.”

O encontro termina neste domingo, 4. Confira a programação completa do 23º Encontro Mineiro de Empresas Juniores (Emej)