Eduardo Sá Barreto 1 - Economia - Foto Caíque Cahon

Eduardo Sá Barreto:  “A crítica do valor alega que o capitalismo se desenvolveu de tal forma que ocasionou uma crise do valor, ou seja, a se tornar progressivamente incapaz de produzir aquilo que é sua razão de ser” (Foto: Caíque Cahon)

O projeto Aportes, que promove seminários, palestras e mesas-redondas para discutir elementos que ajudem a compreender a formação social brasileira, promoveu mais um evento na noite da última quarta-feira, 29, por meio do grupo de pesquisa Trama – Trabalho e Marxismo. A palestra “Crise do valor: implicações para o Brasil e para a agenda desenvolvimentista”, realizada no auditório da Faculdade de Serviço Social, foi ministrada pelo professor da Faculdade de Economia da UFJF Eduardo Sá Barreto.

Em sua exposição, Barreto ressaltou que a crise do valor pode ser explicada por meio da “crítica do valor”, um desdobramento da tradição marxista que defende que a necessidade do crescimento do capital é a responsável por sua decadência. “A crítica do valor alega que o capitalismo se desenvolveu de tal forma que ocasionou uma crise do valor, ou seja, a se tornar progressivamente incapaz de produzir aquilo que é sua razão de ser.”

A sociedade capitalista é regida pelo valor. Este é criado pelo trabalho e se divide em duas partes básicas: remuneração do serviço e excedente. Segundo o docente, o objetivo do capitalismo é elevar o valor excedente, o que Marx chamou de mais-valor (mais-valia) relativo, que provém da reconfiguração do modo de produzir, mas apresenta contradições.

“A elevação de produtividade vai contra a lógica do próprio capital, porque quando aumenta de maneira generalizada o nível de produtividade, é possível produzir mais coisas ou mais unidades no mesmo período de tempo, ou cada unidade em menos tempo. Se isso acontece, significa dizer que o valor das mercadorias está diminuindo. Se o tempo de trabalho diminui, o valor por unidade também diminui.”

Ainda conforme ele, apesar dos problemas encontrados na sociedade capitalista, as “vitórias” de alternativas desenvolvimentistas são possíveis, porém temporárias, e ainda é necessário encontrar outras saídas para driblar a crise do capital, especialmente em países como o Brasil. “O Brasil ainda possui muitas distorções que permitiriam a nós, como nação, alcançar uma sociedade mais justa e menos desumana. É urgente que o campo progressista recupere uma espécie de ousadia de propor um outro mundo possível, para além do capitalismo ‘zumbi’, que já morreu e esqueceu de deitar”, concluiu.

Saiba mais sobre o grupo de pesquisa Trama – Trabalho e Marxismo