Bienal recebe nomes da área esportiva nesta quinta-feira (Foto: Caique Cahon)

Bienal recebe nomes da área esportiva nesta quinta-feira (Foto: Caique Cahon)

Perto de vivenciar um marco histórico no Brasil, o esporte ganha nesta quinta-feira, 16, em Juiz de Fora, um momento especial de discussão por meio de uma abordagem menos tradicional: a literatura. O encontro desses dois assuntos acontece na Bienal do Livro, às 20h, no Independência Trade Hotel, com a presença do diretor de Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra, do diretor da Faculdade de Educação Física da UFJF, Maurício Bara, e do jornalista da ESPN, Dudu Monsanto, egresso da Faculdade de Comunicação da Universidade. Todos têm um trabalho de peso na área, com obras publicadas, e são apaixonados confessos por livros.

Militando na divulgação e no incentivo ao esporte por quase quatro décadas, o professor Márcio Guerra, entende o momento como rico em oportunidades de criação de novos públicos, estímulo à leitura, ao crescimento intelectual e cultural de toda a sociedade. Ele analisa que a Bienal é um alento para a cultura e para a educação, em uma conjuntura em que esses setores sofreram e sofrem fortes ameaças com o chamado governo interino. “A leitura é um bem inestimável para a formação de uma sociedade mais reflexiva”, coloca.

 “Sendo a primeira edição, entendo que quem idealizou o evento e as pessoas que estão trabalhando para sua concretização têm um valor muito grande. Acredito que é a partir de momentos de crise econômica, política, ideológica que os verdadeiros realizadores se fazem presentes com criatividade, com dedicação e com motivação, não colocando a dificuldade como obstáculo e sim como desafio. O evento vem coroar esse papel”, ressalta o professor Maurício Bara.

Dudu Monsanto é categórico em dizer que a sociedade civil não pode mais depender das opções das grandes empresas e dos conglomerados de mídia para a realização de empreendimentos como as bienais. “Chegou a nossa vez de escolher os livros que queremos ler, os filmes que queremos ver e os eventos que queremos realizar. Não podemos ser freados pela falta de investimento, é necessário driblá-la com criatividade e idealismo”, defende.

Para ele, Juiz de Fora é um celeiro de grandes escritores, muito além de personalidades consagradas como Pedro Nava e Murilo Mendes: “Temos Geraldo Muanis, Fernando Fiorese, Wendell Guiducci… A criação da Bienal do Livro é um grande estímulo para discutirmos e pensarmos o futuro da cultura e da literatura, e celebrar tudo aquilo que a arte juiz-forana possui de melhor”.

Toque essencial

Pai de Pietra, 3 anos e 11 meses, e Rafael, 1 ano e 8 meses, Maurício Bara quer incentivar o desenvolvimento intelectual dos filhos com livros tradicionais, e já o faz, apesar do forte apelo dos computadores. “Alimentar o intelecto deles com o palpável, não tenho dúvida disso, é fundamental. E é ao que vou me dedicar nos próximos anos, para que eles realmente se apaixonem pelos livros, mas, é claro, sem abdicar da modernidade. Quero que a leitura seja parte da vida dos meus filhos, muito mais do que foi para a minha, uma presença que poderia ter sido ainda maior, embora eu ainda tenha muito tempo para me dedicar aos livros e me tornar uma pessoa melhor”, conclui.

Autor de 1981 – O ano rubro-negro, Dudu Monsanto diz que já teve seu tempo e-reader, fascinado pela possibilidade de downloads instantâneos e pela pluralidade de títulos, mas reconhece que nada substitui o papel, o tato, o cheiro do livro. “É evidente que os novos títulos lançados não podem prescindir do formato digital, já que o numero de consumidores deste produto cresce todos os dias, mas o livro tradicional, para mim, é como o rádio, uma invenção tão perfeita e atemporal que jamais será algo datado”.

Livros a caminho

Às vésperas das Olimpíadas, Dudu Monsanto diz que, como brasileiro, é motivo de grande orgulho receber os Jogos Olímpicos em casa. “Como jornalista, porém, é impossível não me revoltar com o volume obsceno de investimentos em instalações esportivas quando não temos o básico para iniciação esportiva nas escolas, para o esporte de inclusão e mais do que isso: quando as Olimpíadas serão disputadas na capital de um Estado que não tem dinheiro nem para pagar as contas de luz de suas repartições”.

E acrescenta: “Como amante do esporte, é claro que quando as competições começarem será impossível não me emocionar. Estar diante de Michael Phelps, Usain Bolt e outros grandes atletas é presenciar o que é grandeza no esporte. Eu me considero mais um jornalista que escreve livros do que um escritor propriamente, mas é claro que tudo aquilo que aconteceu na Copa de 2014 e vai acontecer nos Jogos do Rio será um material riquíssimo para a construção das minhas memórias”.  

Para Márcio Guerra, não só o esporte vive um momento rico a partir da Copa e com as Olimpíadas: “Para nós, pesquisadores e estudiosos do esporte, esses eventos nos têm proporcionado ótimas experiências no campo da pesquisa, da observação”. Ele adianta que o Grupo de Pesquisa em Comunicação e Esporte, sob sua coordenação, vai publicar um livro de análise sobre a Copa do Mundo. “Certamente nossos olhares estão focados agora nas Olimpíadas. O esporte tem tido interfaces interessantes em vários campos do saber, que se relacionam e dialogam com a comunicação”, conclui.

Essa visão otimista é também compartilhada por Maurício Bara, que, como membro do Comitê Olímpico Internacional, assume responsabilidades extras: “Não tem havido tempo nem para respirar, mas temos conversado de marcar este momento do esporte com um livro e espero ter a oportunidade de escrever sobre essa história olímpica, que começou para Juiz de Fora em 2010, termina o próximo capítulo com as equipes internacionais e continua com o que vai ficar como legado. Já conversamos brevemente sobre essa oportunidade e pretendemos escrever sobre essa experiência especial”.

 O livro, segundo o professor, se justifica: “Os jogos Olímpicos no Brasil são uma experiência única para os brasileiros e talvez não tenhamos a consciência disso. É muito difícil ter a noção de grandeza sobre algo que irá acontecer uma única vez em nossas vidas. Em função de todo o envolvimento da UFJF e da Faculdade de Educação Física com esse processo, nossa expectativa é de aproveitar a chance de termos diferentes profissionais e atletas dentro do maior evento esportivo do mundo. Isso é de uma riqueza espetacular e representa muito para o nosso país”.

Como escritor, Maurício Bara diz que é, naturalmente, inspirado por novas e diferentes experiências e tem certeza que será influenciado diretamente por essas ações. “Como espectador, sou uma pessoa que vive isso desde 1984, – considerando terem sido os primeiros jogos olímpicos que acompanhei mais intensamente, com mais conhecimento esportivo – , até agora. E ter a preparação dos jogos acontecendo aqui em Juiz de Fora me faz viver tão intensamente esse momento, que fica difícil parar de me emocionar”, diz o diretor da Faefid. A faculdade receberá nove delegações de oito países a fim de treinarem para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. 

Mais nomes da UFJF na Bienal

Ainda nesta quinta-feira, acontece às 18h a mesa-redonda “Teoria e Literatura” com professor da Faculdade de Letras da UFJF Fernando Fiorese, o escritor Gustavo Bernardo e o jornalista e escritor Wendell Guiducci, doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários.  Já às 19h será a vez do professor da Faculdade de Comunicação, Rodrigo Barbosa debater “A Crônica” com Maria de Lourdes Abreu de Oliveira, sob mediação de Maria Elizabeth Sacchetto. Veja a programação completa da Bienal aqui.